Arrumar a trouxa. Outra vez. Outra vez. Outra vez.

13 setembro, 2012

Vivo rodeado de coisas. Fotografias do sexto ano, cadernos do secundário. Velhos manuais escolares. Guardo imensa coisa, sempre guardei. Aquele bilhete que me escreveste na aula de Geografia a perguntar se eu queria almoçar contigo no Modelo? Provavelmente está ainda conservado algures.
Os meus livros multiplicam-se. Clássicos, Literatura Moderna, Banda Desenha, Ficção Científica, a minha biblioteca tem de tudo um pouco. Os meus filmes...é melhor nem falar dos meus filmes.
Roupa que nunca mais acaba. Calças e calças e calças e calças e para todas essas calças um casaco diferente, uma camisa diferente, um par de sapatos diferente.
Para quê, meu Deus? Para quê? Para quê se no fim, ando há dois anos a mudar-me de um lado para o outro, a deixar coisas em cada sítio, a percorrer com os meus dois pés os caminhos todos? Para quê, meu Deus se na realidade nem uma casa minha tenho? Se nem um guarda roupa meu, meu para sempre, meu até haver um furacão e levar tudo, tenho? Para quê meu Deus se no fim tudo o que realmente carrego são as memórias?
Tenho demasiadas coisas. Tenho demasiadas coisas para carregar. Tenho demasiadas coisas a prenderem-me aqui e ali, a obrigarem me a não conseguir embora. E sempre que parto para um sítio novo, o drama é o mesmo: Como é que eu vou levar isto tudo?
Aqui estou eu, outra vez pela madrugada fora, a escrever no blogue, a fazer as malas e a pensar nas próximas aventuras. Outra vez. Outra vez. Outra vez. Outra vez.
Não quero falar mal do caminho que escolhi. Do caminho que foi-se formando. Mas começa a fazer-me um bocado de confusão nunca ficar no mesmo sítio. É claro que é maravilhoso, é claro que é uma oportunidade, é claro que seria infeliz de outra forma mas...As coisas podiam ser um bocadinho mais fáceis. 

Entretanto a minha mãe vai-me infernizando a existência com ideias espirituais do arco da velha. Eu nem sei como é que sobrevive. Um jejum espiritual todos os dias, uma obsessão com a pureza dos pensamentos, com a pureza das acções. Como é que possível alguém ser absolutamente puro em todos os pensamentos que tem? E que importância é que isso tem? É o que eu digo, as coisas podiam ser um bocadinho mais fáceis.

Vá lá que no meio disto tudo, os meus amigos continuam a ser aquele pilar essencial na minha vida. Tenho para mim que se não tivesse amigos, já estava num hospital psiquiátrico a contar os azulejos do meu quarto. 


Uma andorinha chamada Carla

11 setembro, 2012

Tenho uma amiga chamada Carla. Sei que ter uma amiga chamada Carla não é nada de extraordinário. A verdade é que a mais comum das pessoas, com a mais banal vivência pode gritar aos sete ventos: Tenho uma conhecida chamada Carla!
De facto, não é nada de especial. É o mesmo que dizer com pompa e circunstância "tenho um amigo chamado fulano de tal". "Tenho uma amiga chamada sicrana de tal". O mundo continua a girar apesar de eu ter a minha amiga Carla. 
Mesmo agora, enquanto escrevo estas palavras, o mundo vive. Celebra-se o aniversário daquilo que eu vi em choque quando era pequeno, há morte, guerras, desespero. O mundo não quer saber dos meus amigos. O mundo não quer saber de mim, nem da Carla, nem de ninguém.
Mas a Carla continua cá. As lágrimas caem e a Carla continua cá. A loucura domina-me e a Carla continua cá. Eu pinto o cabelo e a Carla continua cá. O amor aparece e desaparece e guess what?
Talvez nunca ninguém escreva um livro sobre a Carla. Talvez nunca ninguém estude a sua biografia, talvez ninguém se apaixone pela menina que ela era aos 17 anos. Talvez a Carla nunca faça nada de invulgar, de especial, de heróico.
Mas a Carla continua cá. E a Carla pode nunca mudar o mundo, pode nunca dirigir um filme ou viajar pelo mundo de balão. A Carla pode até morrer amanhã. 
Mas nunca ninguém, nem sequer a morte há de tirar a importância que a Carla tem na minha vida. Nunca ninguém a vai apagar dos meus livros, da minha biografia, dos meus filmes, das minhas viagens pelo mundo de balão e mesmo que também nunca tenha nada disso, nunca ninguém a vai apagar da minha essência. Do meu espírito. Porque na minha vida, a Carla foi invulgar, a Carla foi especial, a Carla foi uma heroína.
Pode não ser nada de especial ter uma amiga chamada Carla, assim como ter um passarinho que de vez em quando nos visita. Para mim, porém, é uma salvação.
A minha amiga Carla fez 21 anos dia 4 de Setembro. 
O Futuro ninguém sabe...mas a Carla continua cá. 
E eu com ela.
Amigos para sempre, imaculados na perfeição dum retrato. 

"Gonna take her for a ride on a big jet plane"

06 setembro, 2012


Apetece-me acabar a história da minha vida aqui. Apetece-me meter num frasquinho tudo o que vivi e jogar fora. Acabar o livro que amadureceu podre nos meus braços e perde-lo num jardim qualquer. A vida não foi mais doce para mim do que está a ser agora. (menti-te V)
A verdade é que finalmente admiti para mim mesmo que estou numa relação correspondida. Nada de falsos alarmes, nada de dores no coração, nada de choros nem de tristezas.
O amor, amigos. O amor finalmente atingiu-me. Finalmente abracei alguém e fui abraçado de volta com uma intensidade de partir ossos. Finalmente senti na pele essa coisa estranha que desejei, sem saber o que era, tanto tempo.

E enquanto isso desperta em mim, um verão acaba. Um ano de faculdade começa (o último...?), uma nova morada é precisa (Benfica), novos planos se fazem.

E eu sem nada para escrever e com tanto para contar.
Viverei então, para escrever no futuro o que é o hoje.