Into the Wild

18 maio, 2012

Meu Deus, tantas coisas para escrever, tantos atropelos de ideias, umas atrás das outras. Nem sei por onde começar. Não é que ande a acontecer nada de profundamente fantástico, mas ainda assim quero vomitar tudo.
Voltei ao vampirismo habitual. Acordado toda a noite no bem bom do online, a ver filmes e por aí fora, e mais ao menos quando o dia está a começar...cair morto na cama.

Hoje aproveitei para ver o "Into the Wild" um filme de Sean Penn. Basicamente é a história verídica dum homem que deixa tudo para trás e vai-se descobrir mas a um nível brutal - não diz nada à família e simplesmente vai embora.
E qualquer coisa soou em mim. Não é o meu Erasmus um especial "Into the Wild" um momento de auto-descoberta? Se for, o que é eu descobri acerca de mim aqui? O que tem significado esta viagem para mim, o que é estar aqui, neste preciso momento, neste quarto desarrumado com a vida milanesa lá fora?

Ainda não sei bem. Acho que vou demorar algum tempo a digerir o Erasmus, uma experiência que me vai certamente acompanhar para a vida. Mas ainda assim, apercebi-me de algumas verdades:
-Consigo fazer amigos em todo o lado, de qualquer nacionalidade. Consigo interagir, consigo perceber e ser percebido. Consigo fazer-me indispensável. Consigo entrar nos círculos.
-Não consigo viver com uma pessoa com quem não tenha uma boa relação de amizade. O Pablo, meu companheiro de quarto desde Setembro, resolveu sair porque não conseguia dormir...provavelmente entre outras coisas. Não sou de facto o companheiro de casa perfeito. Preciso de ter uma relação muito boa com uma pessoa para isso, uma pessoa que me conheça e que saiba interagir comigo (Joana Apolónia, Joana Frederico e Daniela hão de ser sempre os exemplos perfeitos).
-Entre outras coisas, os meus amigos europeus têm uma forma de ver as coisas verdadeiramente de hoje. Não são avançados ou espectaculares (embora para os princípios de Portugal bem o sejam) o que me ajuda imenso a construir a minha personalidade sem barreiras enormes porque à partida sou aceite e não excluído.
-Canso-me das pessoas. Não é que não soubesse isto, mas foi uma prova. Não sei se é uma barreira mental minha, o facto de ainda não ter encontrado um grupo perfeito de pessoas para mim (noção cada vez mais ridícula na minha cabeça mas que continua a existir, por algum motivo), mas esta é a verdade. Tivemos um belo 'barbeque' e eu só olhava para toda a gente num desespero total. Cansado daquele círculo, cansado das conversas, dos risos, sentindo-me de fora por não estar a comprar aquela realidade tola. Precisei dum intervalo - ainda estou a gozar dele.
- Desenvolvi ao longo dos tempos, uma dependência brutal ao mundo online. Ao facebook, a todas as plataformas e mais algumas, ao simples facto de poder ir à internet. E em Erasmus, isso verificou-se duma maneira avassaladora. E é algo que quero realmente diminuir. Não leio há meses embora a pilha de livros fique cada vez maior.
- Há uma magia qualquer na rotina de todos os dias. Mas há uma magia ainda maior em quebrá-la. Apercebi-me sem sombra de dúvidas que o meu futuro é em qualquer lado, mas não em Portugal (a não ser que o jogo mude). E o sonho de partir para Londres, para Paris, para Bruxelas, seja para onde for, está cada vez mais vivo. De cidadão português, passei para cidadão europeu - só pelo simples facto de passar metade do meu tempo com pessoas completamente alheias à minha cultura nacional.

E ando a pensar nestes desenvolvimentos. Ando a chegar a conclusões. Caminhei uns bons quilómetros em Erasmus e tive a minha dose de experiências. Há coisas a formarem-se dentro de mim, há muitas dúvidas...mas começam a haver algumas certezas. Principalmente a de que os meus caminhos vão dar sempre a bom porto, mesmo que passe por mares de trampa.

São quase oito e meia da manhã e eu tenho aulas daqui a duas horas...Estou um bocado perdido nos pensamentos mas sei que há mais coisas que gostava de dizer - Vampiro, bem vos disse. Vampiro!
Finalmente, FINALMENTE, chegaram notícias da bolsa. Vou receber 80% agora e 20% sabe Deus quando. O que são óptimas notícias tendo em conta que preciso imenso do dinheiro para pagar as propinas da faculdade e a viagem a Londres, que com esta certeza, fica cada vez mais certa. Só Londres em si, dava um belo texto, mas não me vou adiantar muito que não me sinto capaz de tal.

Entretanto, finalmente as coisas na faculdade parecem estar a ir mais ou menos bem. Apesar de ter uns míseros 6 créditos oficiais até agora (tenho outros créditos que só servem para o currículo) estou no bom caminho. Tenho um trabalho simples simples para fazer para Sociologia e pimbas. 9 créditos. O exame de Espanhol está marcado. Pimbas. Outros 9 créditos. Para Nuovi Media de Comunicazione preciso fazer dois trabalhos (que não me parecem, à partida, ser muito difíceis) adivinhem? 9 créditos. O resto é mais preocupante. Tenho uma cadeira de História da América Latina que me vai queimar as pestanas e uma de Publicidade que está no mesmo caminho. Depois tenho um problema mais ou menos giro, quero fazer uma cadeira de 9 créditos e a única compatível era Inglês II mas nunca meti lá os pés porque tenho outra aula ao mesmo tempo. Resultado: Não faço ideia do que está a ser dado e nem sei se posso fazer por causa do acordo de disciplinas que fiz (e que vai precisar de ser renovado). Mas enfim, ao menos o caminho não me parece tão negro como antes!

E pronto. O vómito para por aqui...Não sem antes dizer que apesar de tudo, sinto-me uma pessoa interessante. Crucifiquem-me, mas depois de ler alguns blogues que andam por aí (salvo raras excepções) fico com a impressão que o que eles/elas fazem, fazia eu bem. São famosos por falarem abertamente das suas vidas sexuais (existentes ou não) e por meterem uma dose pequena de vida real. Ou então são famosos porque o/a blogger é gira. Ou então são famosos, sabe Deus porquê. Ou então são cheios de emoção, inteligência presumida em palavras completamente maquinadas, sem uma pinga de cor, sem vida. Como se eu anunciasse Sopa para o jantar e depois aparecesse com um prato cheio de água cristalina. Portanto, número de leitores não é sinal de nadinha!

O calor de Milão

04 maio, 2012

Depois de um belo Inverno de merda - temperaturas negativas, frio, pânico geral de começar a perder membros do corpo, a Primavera está aí a despontar por todo o lado. Ainda chove, assim como quem não quer a coisa - só para lembrar que pode chover. Mas os dias estão bons, estão quentes, estão interessantes.

As semanas vão passando lentamente, trazendo novos desafios, novas despedidas. Estou na recta final do Erasmus, embora dizer não seja o mesmo que saber. Ainda não estou consciente de nada, ainda tenho a alma perdida num qualquer lugar.

Como diz a Elisa, que faz voluntariado (e esteve no Perú e na Índia e este verão para o Sudão do Sul) diz que quando chega a casa depois de viver as experiências todas, dorme primeiro umas boas horas, come a comida da mãe e segue como se não tivesse chegado a partir. Não é que não esteja diferente, não que é não tenha passado por muito. Mas o mundo continua. E nós temos que continuar também.

Perdi os meus óculos em Milão (há algumas semanas já). Mas não. Não vou voltar a Janeiro. Estou calmo. Está sol. Estou bem.