20 anos e a vida de hoje

20 julho, 2012

20 anos e a mesma porra de vida. 20 anos e a merda da mesma angústia, a mesma dificuldade em respirar. 20 anos e a porra das gotas de suor em todo o corpo, um calor que invade a alma e os sentidos. Um calor de festivais. Um calor de duas mãos dadas enquanto os The Cure cantam. O calor da minha cabeça e da tua  juntas. O calor da nossa intimidade. 20 anos e a porra da minha primeira exibição pública de afecto.
20 anos e a porra dum bolo de chocolate, um cigarro a fazer de vela. Um sorriso a fazer de roupa. 20 anos e a percepção das verdadeiras amizades (...)

O meu pai vive cada vez mais num mundo só dele. Num mundo difícil, complicado, num mundo onde só o trabalho, o cansaço, a ilha aos fins-de-semana e a comida de gatos do Aldi. Um mundo onde eu sou apenas sinónimo de mais problemas. Um mundo onde elogios não existem e incentivos são palavras que me ferem o coração. Um mundo onde ele fala e eu calo-me. Um mundo onde eu falo e ele foge para longe. Um mundo onde ele não percebe a minha angústia de existir assim, preso num quarto que não é o meu, preso num quarto porque há baratas por todo o lado e e não consigo sair enfrentar os meus medos. Preso nesta existência sem sentido, a definhar cada vez mais o coração e a alma.

A minha mãe cada vez mais enterrada num poço de insanidade. Numa insanidade de espíritos, maldições, más energias. Num mundo de bruxas nada mágico, num mundo onde todos nos querem mal, num mundo onde o perigo é constante. Um mundo solitário onde ela não me pode ver, onde o meu cabelo está demasiado claro (para a minha mãe e para o meu pai o meu cabelo está sempre mal: se está curto, está demasiado curto. se está comprido, está demasiado comprido). Um mundo tão longe do meu, um mundo que do qual eu nunca fiz parte sequer. Quem és tu mãe? Será que alguém sabe dizer? Enquanto o teu corpo e a tua mente definham, mais um bocadinho todos os dias, eu morro lentamente ao sabor das flutuação das tuas emoções, das tuas loucuras...

E eu aqui no meu mundo tão sozinho. Talvez a culpa seja minha. Talvez viver seja o problema 1. Talvez tudo isto, talvez todos estes anos não sejam culpa de ninguém...sejam consequência da minha inacreditável incapacidade de viver neste mundo. Ou pelo menos de viver neste Portugal.

O meu pai chama-me snobe. Chama-me snobe porque eu defendo a ideia de que devemos ter um inglês perto do perfeito e um sotaque pelo menos americano, pelo menos fiel a qualquer coisa, ao invés do exemplo tosco de Mourinho ou Cristiano Ronaldo. Sou snobe porque defendo que aprender uma língua é aprender completamente os sons, os ditongos, saber reproduzir como uma pessoa que lá viveu a vida toda. Sou snobe. Talvez o que o meu pai não perceba é que eu não quero nunca parecer português. Que quero ir embora, deixar os amigos, a família, as cicatrizes e viver num mundo que não se acaba depois das nove da noite, que não se acaba com o cair do Inverno. Quero viver num mundo de beleza, ora bolas. Quero ter a oportunidade de ver quadros e decidir nunca os visitar. Quero ter a oportunidade de ouvir as mais inteligentes mentes do mundo, sem me mexer da minha cama. Sou um snobe. Talvez seja. Mas o que o meu pai não compreende é que ser snobe é a única coisa que me prende a esta vida. A ideia de que em algum lado, longe deste país infernal há qualquer coisa de diferente para viver. Onde ter 80 quilos não é ser obeso e onde gostar de ler livros não é raro mas frequente. Onde eu posso verdadeiramente encontrar um amor (20 anos, a maior parte da porra dos meus amigos em relações ou perto disso e eu solteiro eternamente). Onde há qualquer coisa que me faça levantar da cama. Talvez um sítio onde não me lembre do suicídio a cada aperto do coração.

Cada vez menos sem certezas de nada, sem saber responder à pergunta "E agora?". As portas só se fecham (a M80 mandou-me ir dar uma voltinha e nem me escolheu para entrevista para o estágio, a empresa de Marketing depois dum interesse inicial nunca mais me disse nada.) e nada parece se abrir (num horizonte longínquo há um projecto com a Maria mas...)

Outra vez sentado no jardim entre o dia e a noite.


A interminável viagem de volta

08 julho, 2012

E de repente, cá estou eu. A falar português, a mandar mensagens, a usar o telemóvel sem me preocupar com a conta, a beber cafés, a andar na baixa, a encontrar os meus amigos. Aqui estou, aqui estou eu, aqui estou eu.
Afinal, sobrevivi. E afinal, foi bom.
Mas ainda não cheguei definitivamente a Lisboa. Nem ao Algarve. Não sei se me perdi em Milão, no comboio da meia noite para Paris, se no TGV para Irun (ou aí mesmo a conversar com a professora americana), talvez em Madrid e e nas casas de banho as quais eu nunca mais voltarei, talvez por aí. Tive a sorte de não perder nada e o azar de me perder a mim mesmo como quem deixa um livro no banco do autocarro.
Não sei o que é a vida depois de Erasmus. Não me façam perguntas sobre o voltar. Sinto-me diferente, sinto-me mais velho, mais cansado, mas ainda não sei o que significa voltar de erasmus. E cada vez que penso em Milão...é uma dor no peito que não se acaba!
E mais palavras não tenho. Parece que deixei de ter coisas a dizer sobre este ano da minha vida. Um ano...completamente inesquecível.