Missing connections

09 novembro, 2014

Tive dias muito maus em Glasgow - sem dinheiro, sem dormir, sem cigarros para acalmar o espirito. Tive dias em que estava sozinho, no meu quarto, a pensar em cortar os pulsos. ou engolir 7 caixas de comprimidos. pensei em jogar de um prédio, arranjar um arma, ir contra um carro em movimento.
mas ha sempre uma voz que diz: não, não quero morrer.

tenho impressão que essa voz se calou hoje - perdi um voo, quase a perder outro - quase a perder as minhas ferias em portugal, quase a perder a sanidade mental. 

ja tive dias com cafe muito mau, com a garganta irritada, atrasado, confuso, suado - e porem sentado na merda do fuckbucks  nunca tudo me pareceu tao mau. 

como sempre, como sempre, para sempre, sozinho na merda em que eu criei. 

eu semeio nazis e colho holocaustos. 

Banalidades 1.0

23 outubro, 2014

houve um tempo, um lugar e pessoas - um ambiente onde eu me inseria e sentia que tinha algo em mim. a vaga ideia de conhecimento, de cultura geral, a capacidade abstracta de pensar e sentir sobre tudo. filosofia, história, política. houve um tempo em que sabia pouco e tinha opiniões sobre tudo.

e entretanto, parei no tempo. parei para viver as banalidades que não tinha vivido antes. as noites, as curtes, os dramas, o gossip. vivi um tempo em que as banalidades da vida, os clichés e os filmes vistos todos sobre o mesmo, todos sobre mim ou sobre os outros.

quando é que parei de ter conversas interessantes? qual foi o momento em que eu deixei de ser interessante? qual foi o momento em que decidi abandonar os livros, as ideias, as opiniões?

o conhecimento não alimenta - talvez essa tenha sido a ideia. quando comecei a ter responsabilidades - mesmo que poucas - quando deixei me absorver pela rotina de lavar a roupa, lavar a loiça, arrumar o quarto, limpar as janelas.

passei de filósofo a dona de casa e ainda assim, uma má dona de casa.

chega agora a altura em que eu perco a noção do que falam os outros, do que sabem os outros e de que ideias discutem. sou hoje a pessoa calada, a pessoa que não sabe.

gostava de dizer que foi a depressão que matou em mim a intelectualidade. quando deixei de poder pensar - só sentir. gostava de dizer que foram as paixões, as fodas, os outros.

mas a responsabilidade é minha. e agora, sempre que estou com um grupo particular de pessoas sinto-me como me sempre me senti. estou no grupo em que quero estar e de alguma forma não pertenço. talvez tenha sido muito bom ter aprendido a viver no silêncio - talvez consiga ainda iludir os outros que talvez haja algo em mim escondido.

todos os bons escritores, os bons artistas, sabem. sabem e vivem em igual medida. o que significa que eu não posso ser ambas as coisas. escreverei um dia um livro, contarei uma história, e sei que o farei. sei também que será sobre nada, sobre banalidades e clichés.

nunca serei um escritor como aqueles que admiro. estou mais próximo de ser a margarida rebelo pinto do que ser o Saramago. a minha vida é uma banalidade. mas pelo menos tenho essa consciência, o que ainda assim não é qualquer conforto.

por muitas desculpas que tenha.

Dating 101 - Failure to launch

16 outubro, 2014

This is how your early 20s look like: good first dates every now and again, pizza every week, debt every month and the illusion of going towards something all the time. 

It has been a week exactly like that, an awesome first date - equal parts flirty and chatty, an all together lovely encounter. Dazed by the hope, by the dream - and let's face it - the sex appeal of it all, I forgot how the real world works and how things are never quite as they seem.

Mistake number 1:  A text to say ' great being with you tonight, hope we can be together soon' - 20 minutes after mentioned first date.

Mistake number 2: Let yourself get excited. - Telling your friends about it makes it worse, its no longer your own expectation but theirs as well. 

You had the first date, you feel empowered, sexy, crazy, hopeful. You imagine the evolution of it all, meeting each others friends, lovely getaway weekends and then you get the text:

"Should meet soon, but maybe just as friends. Is that okay?"
Mistake number 3: You let it drown you.

Mistake number 4: You have a disgraceful comeback to the question, "Sure, most definitely :)"

In the meantime, you have the chance to save yourself. He texted back, he made a joke, you acted serious and sarcastic. He sent the last text. You should step away, forget about it, mourn and watch How to get away with murder.

Mistake number 5: You text back: "I am feeling crap, sick and with a headache"

He then ignores that, and tells you to schedule something for after his trip thing. Today is Thursday, the trip starts on Sunday. He will be back a week after that. He doesn't want to text till then (never, really). You just made it so much worse.

No dignity whatsoever - In your 20s life is pretty much a mess.



 

To Do List

22 setembro, 2014

A fazer - Hoje 22 de Setembro de 2014

Escrever uma frase que seja e nessa frase conter tudo o que tem vindo a acontecer. Uma frase que diga o bom, o mau e o imaginário.
Escrever uma frase, como se as vidas coubessem nas palavras.
Toda a gente sabe que é nos silêncios que vive.

Waves

14 agosto, 2014

The hate comes in waves. I wake up in the middle of the night, my back is sticky, I feel the heat of my duvet on my bones and I hate you. I hate your face. I hate remembering your face. I hate that I still remember the shape of your hands, I hate how I used to love your skinny legs. Sometimes, in the middle of the night I can smell you. And it's like you are always with me.

The love comes in waves as well. Us, memories of us are irrelevant. I only love what could have been. What didn't happen.
I had this dream about you, making love to you, being with you. And I started crying because that was our first kiss. And that's what I love about us, the dream.

Reality always gets on the way. The other day I sent you my love, I liked your photos and I had sex with some other guy. I ate, I fucked, I worked, I drank water and the world moved on, there was no you, there was no me, specially there was no us and I was fine.

And then I tell everybody it's over. I'm over you, I'm over what I felt. And it's really okay.

Until it's not okay anymore. I want to take you out of my life because it hurts to much having you there. I can't stop loving you because not having you is an abysmal thought.

You are never enough even when you give yourself to me, it's never enough. You are a drug, I fight you, I resist you and then in the back of a club I sniff you. I do infinite lines of your hair. I take your eyes as pills and I dance alone and I see your face.

Why can't you see this? Why can't you just freak out and leave? Cut it and leave me bleeding. Let me die so I can come back.

Kill this or you will kill me.

birthday postcard

14 julho, 2014

As repetições da vida sāo extremamente cansativas.
E cada vez que faço anos pergunto se será a última vez.

Salvar como rascunho

27 junho, 2014

Olá tia,

Escrevo-lhe este e-mail porque sei que se preocupa comigo e porque eu não dou notícias regulares. E isso não acontece por eu me esquecer ou por não querer partilhar a minha vida, mas simplesmente por não querer preocupar ou incomodar.

O silêncio é mais fácil, aquilo que se deixa calado tem menos força e menos impacto. Mas escrevo-lhe hoje porque não consigo mais acreditar nessa ideia. 

Não quero entrar em pormenores, em detalhes, em discursos mirabolantes da minha vida, do que eu faço ou do que sinto. Mas a verdade é que não me sinto bem, não me sinto saudável. Mais que tudo, sinto uma inquietação tremenda.

Talvez seja absurdo explicar por palavras o que é sentir se no ponto de exaustão. As lágrimas sempre a serem silenciadas, mortas ainda antes de nascerem nos olhos. O meu corpo que não se quer levantar mais…e a minha resistência, cada vez mais pequena, aos desafios da vida.

Eu bem que sei que tenho pouco que me queixar. Não sou órfão, não tenho deficiências físicas ou mentais e entrei nas aventuras que quis, estiquei a corda várias vezes e como dizem os meus amigos vou-me 'safando sem saber como’. 

Mas estou cansado. Estou tão cansado e estou tão cansado há tantos anos. Sinto-me absurdamente sozinho, absurdamente longe de tudo e todos. E estas coisas, estes sentimentos não são de agora, não se prendem com as situações e circunstâncias que venho a atravessar. 

Como se fosse uma gripe mal curada que vem e vai mas nunca morre. É um sofrimento constante e é como se não tivesse ninguém para falar sobre isto. Os meus amigos não me compreendem. Dizem que não sou infeliz, que sou apaixonado pela infelicidade e que me rodeio de sensibilidades idiotas. Mas eu não compreendo a diferença em ser infeliz e gostar da infelicidade. Até porque afinal, no fim a conclusão é a mesma. Onde não há luz, há escuridão. E isto com velas ou candeeiros. 

E talvez o pior tudo, é que nada disto pode ser dito aos meus pais. Nada disto eu posso comentar. O meu pai…o meu pai é um grande homem e sem ele as coisas seriam mais que insuportáveis mas ele é também alguém com uma falta de compreensão profunda. O meu pai não percebe e preocupa-se. O que não me ajuda nem a mim, nem a ele. Não posso falar disto porque não há abertura para eu ser franco com o meu pai. 

A Tia bem sabe, na nossa família as tristezas vivem-se no conforto privado das nossas solidões. A minha avó era um bom exemplo disso. Como era a Tia Avó. Como eu sinto que a Tia é. Como eu sou. 

E isto sem falar da minha outra família, a minha outra tão igualmente distante realidade. A minha mãe é ao mesmo tempo sintoma e doença. Aos quase 60 anos vive tão perdida como sempre, e pior do que isso, vive a tentar que eu me perca com ela. As chantagens emocionais acontecem de mansinho, com sugestões mais do que com ameaças. No retrato que a minha mãe faz de mim, aparece um filho ingrato, mimado e exigente. Um filho que nunca liga, que nunca lembra, que nunca ama de volta.

Mas como é que eu posso permitir-me a amar alguém que me deixava horas a fio sozinho? Que me chamava de gordo, de feio, de elefante. Que dizia ser eu a causa de todos os problemas. A minha mãe, sempre lá para criticar e mal dizer. Mas nunca na fila da frente nas festas do colégio. Nunca a aplaudir nas conquistas (quando ainda havia conquistas na minha vida).

Demasiadas foram as vezes em que vi os meus colegas a saírem dum palco para irem abraçar os pais e demasiadas foram as vezes em que fiquei sozinho a olhar para cadeiras vazias. 

E porque é que isto me afecta tanto aos 21 anos? Porque é que volto a uma altura em que eu não tinha sequer consciência? Volto ao passado para tentar compreender o presente, como se olhasse para cicatrizes e tentasse lembrar das agressões. E não chego a lugar nenhum.

Sinto, verdadeiramente, que não devia escrever estas coisas, que não devia mencionar estas coisas. Que me faço de coitadinho, que me faço de inocente. A verdade é que não sou nenhuma dessas coisas. Sou provavelmente a maior desilusão da vida da minha mãe. Mais que o casamento, mais que a família dela, mais que a falta de esperança, um filho que diz ‘és uma cabra, mãe’ (mencionando os termos mais agradáveis) não pode ser uma pessoa positiva na vida de alguém.

Mas precisava muito de soltar estas coisas todas, de dizer que não durmo ou que não consigo acordar, que estou sozinho e que me sinto triste. E que precisava de dizer isto a alguém que é do meu sangue, porque mesmo depois de anos de negação, eu preciso duma família.  De alguém que perceba o retrato porque conhece os retratados. 

Agora, não escrevo estas coisas para a preocupar. Não quero, nem preciso, de nada material ou virtual. Não quero que se sinta ansiosa por minha causa, não quero ser uma dor de cabeça adicional. 

Peço-lhe porém, sem cerimónias, a sua completa confidência. Os meus pensamentos e as minhas experiências magoariam outros, mais do que ajudariam em qualquer coisa. 

Só queria mesmo desabafar e libertar as palavras. E eu preciso de saber que posso contar consigo para ouvir, para compreender…e sobretudo para confiar. Não são segredos. Mas são confidências que faço a alguém que eu sei que pode compreender e que na cabeça de outrem poderiam ser devastadoras. 

Sigo como sempre, de cabeça levantada. Vou sempre tentando, mais do que tudo, vou tentando lutar. Mas, nem todos os momentos são tardes no café a comer bolos com a minha tia avó. Ultimamente, os dias são mais um constante estalo na cara de que tudo isso passou. 

Espero que esteja tudo bem consigo e que os dias sejam de sol por aí. Afinal, o verão é para todos. 


Um abraço com saudade do sobrinho,

Preciso de apagar

17 junho, 2014

Lembrei me hoje da minha mãe. A minha mãe sempre foi uma pessoa ansiosa. Uma pessoa incapaz de lidar com o mundo à sua volta, que inventa fantasmas atrás das portas para não ter que as abrir.
Dizia-me muitas vezes:
-Estou cansada, preciso de apagar.
-Doem me os dentes, preciso de apagar.
-Tive um dia mau, preciso de apagar.

E apagava. Apagava horas a fio, presa a cama. A minha mãe nunca foi uma adulta feliz. E eu sempre detestei isso nela.

Agora a minha mãe sou eu.

Glasgow Effect

25 maio, 2014

Comprei uma refeição com o meu cartāo de débito. O meu quarto está verdadeiramente uma miséria. A minha casa está uma merda.
Vida Moderna.

Um dia infinito em Londres

20 maio, 2014

Um dia vi um filme com uma teoria interessante. Diziam que a vida depois da morte era sempre céu e que cada um tinha o seu próprio pedaço de paz.
Nunca mais me abandonou esse sentimento, essa ideia que depois de tudo poderia gozar a não existência da forma que quisesse.
Nessa altura lembrei que gostaria que o meu espaço fosse um parque. Um daqueles onde as horas não passam, as crianças brincam no jardim, alguém vende pipocas e o amanhã interessa pouco. Gosto desse sentimento de inocência ao sol. Uma magia que poucos se apercebem e todos gozam a certa altura.

Ganhei uma nova ideia neste fim de semana. O meu céu hoje seria um dia ao sol infinito em Londres. Estou a usar aqueles sapatos que o João encontrou, sinto me bonito, sinto me em paz. As pessoas andam à nossa volta anonimamente, mas faço parte da vida delas, como elas fazem da minha. Há coisas a acontecer,  o Big Ben toca ao longe e consigo ver os arranha céus estendidos com quem quer tocar no dedo de Deus.

A vida à minha volta, parada no tempo. Os autocarros vermelhos andam. Os carros andam no lado contrário da estrada. As pessoas têm pressa. Mas a minha vida está parada e eu sinto-me bem. Não há nada mais à volta. Mando alguns postais, mando sempre. como se por mandar os postais as pessoas estivessem comigo.

Bebo uma bica. É inglesa... mas não importa.
Este é o meu céu.

Ferramentas

19 maio, 2014

Acho sempre que quando vieram as ferramentas vem a vontade, a criatividade, a magia. Acho sempre que miraculosamente vou ter mais tempo, mais energia. Nunca acontece. Nāo se vai longe sem um martelo, mas ter um nāo significa ser construtor.

Help, I'm alive

28 abril, 2014

O abandono deste espaço magoa-me. Magoa-me não escrever nada, magoa-me não ter tempo para nada. Magoa-me o esquecimento.
Mais do que tudo, continua a magoar-me estar vivo, andar aqui a aprender, a ver onde as coisas vão. Viver todos os dias para a semana seguinte, para o pagamento seguinte, para a amizade seguinte.
A minha vida...que vida?
No meio de tudo, não me consigo arrepender de nada. Talvez essa seja a chatice, se eu quisesse mudar as coisas talvez fosse mais fácil.
Não sei o que vou fazer, continuo igual e continuo a sentir-me indignado com a minha sorte familiar. A minha mãe continua a tentar envolver-me na sua espiral de loucura e o meu pai sempre ausente, sempre distante, como se fosse sempre uma miragem no meio do deserto. Nenhum deles me ajuda, talvez a culpa seja minha. Mas como pode ser culpa minha que estejam os dois no desemprego? Como pode ser culpa minha que quase já na idade da reforma a minha mãe não consiga pagar as contas? Não consigo ser auto-suficiente e não consigo ser suficiente para a minha mãe.
O que fazer, meu deus, o que fazer?
Viver para os próximos tempos,  é a única resposta fácil.

Berlim

17 janeiro, 2014

Estou em Berlim e é um bom início de ano.
Continuo sem dinheiro, sem emprego, a viver precariamente.
Continua a ser um desafio, continua a ser uma merda, a vida não melhorou para ninguém.
Mas estou em Berlim. E estou bem.

Nunca vou morar em Nova Iorque

03 janeiro, 2014

Crescer é algo repentino. De repente, percebes as tuas reais capacidades e aquilo que realmente é mais provável de acontecer na tua vida. Finalmente percebeste que és mais um num rio de pessoas e que as coisas importantes da vida envolvem pagar a renda da casa e ter dinheiro para comer. A vida é básica.
De repente percebeste que nunca vais morar em Nova Iorque num estúdio pequenino. Nunca terás dinheiro para isso. Nunca irás comer o pequeno almoço com os teus amigos no café.
Crescer é triste.
Mas acontece.