O Carnaval passou.

25 fevereiro, 2013

A nova casa está completamente desarrumada agora. Pó, loiça por lavar, beatas e cinza são a mesma matéria que o chão. E ainda assim, ainda com o queijo fora do frigorífico há uma sensação de paz e de bem estar muito grande.

Cemitério

12 fevereiro, 2013

Um dia conto-te como foi morar ao pé do cemitério. Desde os dias felizes de sol aos mais  negros de inverno. Um dia conto-te o que era acordar com o frio a irromper das janelas, com os latidos selvagens de uma cadela resgatada, com o mau humor de um casal estranho. Vou falar-te sobre os fins-de-semana sagrados, quando eles se iam embora. E dos Domingos À noite de medo, de pânico, quando eles voltavam. Um dia explico-te que eles não eram vilões, nem sequer más pessoas por inteiro. Mas eram humanos e aproveitaram-se de mim, da minha pouca resistência. Um dia conto-te como morar ao pé do cemitério quase me matou.

Mas agora vou dormir e esperar que esta noite seja a última.

Derrota

07 fevereiro, 2013

Os olhos húmidos de não poder chorar. O olhar ausente mas a piada na língua. Claro que está tudo bem, sou eu. Eu não me importo com nada, eu sou um filho do destino e do vento, eu vou onde os meus sapatos apertados me levam.
E sim, tenho dores nos pés, chicoteiam-me as gostas, este sabor amargo de derrota invade-me os sentidos, cega-me, destrói-me. Sou um palacete destruído. Sou um cinzeiro da noite de copos que aconteceu.
Está tudo bem, digo eu. Eu não preciso de apoio. Eu não preciso de chorar, não preciso de estar desiludido à frente de toda a gente.
Isto afinal nem era o meu estilo, o meu estilo único que ninguém percebe em tempo útil. Afinal, eu sou desatento, eu não me foco, eu sou nervoso.
Vamos lá comer um hambúrguer, vamos lá fingir que as piadas são todas super engraçadas e vamos estar lá para aplaudir os nossos amigos de pé. Não se estragam as vitórias dos outros.
 (...)
Espera-se pela chegada a casa. Espera-se por chegar a casa e sentir tudo. Espera-se pelo pânico sem grande alarido. Espera-se que ele chegue e que ele nos abrace. O que é afinal mais um pontapé? O que é afinal mais uma chamada: "Olha pai, não entrei". É como chumbar na carta de condução.
Depois junta-se a solidão e é uma festa. Aparecem os penetras do costume. O frio, as lágrimas, as músicas de Lana del Rey como um hipster apaixonado, a dor na alma. E todos reunidos no meu quarto, a fumar e a beber e a ruína está completa.
Já não precisa de se esconder nada. Falhanço atrás de falhanço  O que eu estava à espera de qualquer forma? O inverno é demasiado longo. A vida é demasiado comprida e tudo se apaga. Nunca ninguém está preparado para a escuridão.

Moleskine

03 fevereiro, 2013

No dia em que me roubaram a carteira, roubaram também a minha vontade de escrever aqui. Nesse dia comprei um moleskine que é um amigo mais sedutor do que este blogue. Agora, por entre as vivências e os autocarros, escrevo com a minha caneta de tinta permanente como se tivesse certeza de alguma coisa. Como se soubesse alguma verdade.
Não sei nada. E não saber nada não é saber tudo. Não saber nada é ser infeliz.