Derrota

07 fevereiro, 2013

Os olhos húmidos de não poder chorar. O olhar ausente mas a piada na língua. Claro que está tudo bem, sou eu. Eu não me importo com nada, eu sou um filho do destino e do vento, eu vou onde os meus sapatos apertados me levam.
E sim, tenho dores nos pés, chicoteiam-me as gostas, este sabor amargo de derrota invade-me os sentidos, cega-me, destrói-me. Sou um palacete destruído. Sou um cinzeiro da noite de copos que aconteceu.
Está tudo bem, digo eu. Eu não preciso de apoio. Eu não preciso de chorar, não preciso de estar desiludido à frente de toda a gente.
Isto afinal nem era o meu estilo, o meu estilo único que ninguém percebe em tempo útil. Afinal, eu sou desatento, eu não me foco, eu sou nervoso.
Vamos lá comer um hambúrguer, vamos lá fingir que as piadas são todas super engraçadas e vamos estar lá para aplaudir os nossos amigos de pé. Não se estragam as vitórias dos outros.
 (...)
Espera-se pela chegada a casa. Espera-se por chegar a casa e sentir tudo. Espera-se pelo pânico sem grande alarido. Espera-se que ele chegue e que ele nos abrace. O que é afinal mais um pontapé? O que é afinal mais uma chamada: "Olha pai, não entrei". É como chumbar na carta de condução.
Depois junta-se a solidão e é uma festa. Aparecem os penetras do costume. O frio, as lágrimas, as músicas de Lana del Rey como um hipster apaixonado, a dor na alma. E todos reunidos no meu quarto, a fumar e a beber e a ruína está completa.
Já não precisa de se esconder nada. Falhanço atrás de falhanço  O que eu estava à espera de qualquer forma? O inverno é demasiado longo. A vida é demasiado comprida e tudo se apaga. Nunca ninguém está preparado para a escuridão.

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