Janeiro és feio

30 janeiro, 2012

No primeiro dia do ano, estava eu em lágrimas no restaurante de sempre, com as pessoas de sempre a pensar no passado que já começa a estar cada vez mais longe e ainda assim consegue deixar cicatrizes. O resto dos dias passaram em loucura, em frenesim, em desorganização mental completa, as emoções a meterem os pés pelas mãos. Já não sabia o que sentia.
Entretanto vim para cá e em 10 dias, mais teste à minha força psicológica. Mais confusão. Mais do mesmo, mais desafio.
Janeiro: só te quero ver daqui a muito tempo. Só te quero ver quando tiver 20 anos, estiver no terceiro ano de faculdade e tiveres coisas bonitas para me mostrar. Foste horrível, foste assustador, foste mau, foste tudo. Agora vai-te embora depressa, não me envolvas mais no teu manto de horrores que Fevereiro tem boas surpresas para mim. Quero acreditar que sim.
Quero acreditar que as coisas estão melhores agora.
Ainda ontem estava a pensar que se calhar sou demasiado velho para estas merdas. Estas emoções descontroladas. Mas afinal, tenho 19 anos. E ter 19 anos acalma-me imenso. Acalma-me especialmente a ansiedade  dá me a única resposta que preciso: Não é preciso ter respostas agora. Não é preciso saber tudo. Quem sabe, talvez não seja preciso saber tudo nunca. Eu esqueço-me tanto disto, e repito que sou repetitivo muitas vezes. Mas estou a crescer. Sabe bem crescer.
Agora não perco sapatos, casacos. Agora não tenho que dar os meus brinquedos ou mudar de escola. Os desafios de crescer são outros, mas ainda assim sabe bem.
Tenho uma parte do cérebro ligada non-stop ao Algarve estranhamente. Ás pequenas coisas da vida. À minha casa na Armona que mais dia menos dia vai deixar de ser parte da minha realidade. Tenho uma parte do cérebro ligada ao meu pai, o homem da minha vida. Bolas.
 Como eu um dia gostava de dizer ao meu pai, olhos nos olhos e muito confiante "Amo-te. Foste tudo e mais do que eu podia esperar de alguém". É bom ter um pai assim. Não tive muitas coisas, mas entre as pérolas que guardo na minha caixa-de-jóias há umas quantas que têm um brilho diferente agora.
Uma palavra ainda para os que vão, os meus irmãos de armas de Erasmus que acabam aqui o que eu vou acabar daqui a uns meses. Uma vida não seria suficiente para vos conhecer quanto mais três meses. Mas vou sentir a vossa falta. Sinceramente e com todo o meu coração: Boa Sorte. Encontramo-nos um dia, noutro tempo, noutra era. Ou não, e isso é perfeitamente razoável por ainda assim tivemos isto. Este momento. Fomos um grupo. Não há nada que vença essa sensação.
Adeus Janeiro. Não deixas saudades.

E agora, já passou?

25 janeiro, 2012

Quando era pequeno e por algum motivo ficava triste e a minha mãe calhava em estar num bom dia, ia ter comigo e dizia-me palavras doces até passar. Se não passasse, ia me comprar doces, ia me comprar coca-cola e perguntava-me sempre: Já passou? Já passou?
E quando era pequeno, realmente era fácil as coisas passarem. Era menos complicado ser feliz, ou menos complicado decidir sê-lo.
És feliz com dias tristes ou triste com dias felizes? Só sei que neste momento não me apetece fazer nada, apetece-me estar aqui e afundar em mim mesmo, afundar-me em toda a porcaria, em toda a porcaria que se está a passar e não fazer nada, não mexer um músculo. Ficar aqui para todo o sempre a absorver toda esta miséria humana que sinto, ficar aqui e pensar vezes e vezes sem conta que a minha vida é uma mentira. Que tudo é uma mentira.
Porque continuo depressivo. Continuo no mesmo esquema emocional de há anos, a diferença é que estou mais forte, a diferença é que me distraio mas começo a achar a depressão uma parte de mim tão presente como os meus olhos, a minha boca. Um sinal, uma cicatriz que carrego. Sim, eu posso não a ver por uns tempos, mas ela está lá.
É nestes momentos que me pergunto se algum dia conseguirei ter 35 anos e responsabilidades. Uma casa para limpar, uma família para cuidar. Pergunto-me se algum dia serei capaz de lidar com as pequenas coisas? Com o dia-a-dia. Se serei capaz de lidar com o tempo. Como é que alguém consegue lidar com isso tudo?
Eu não me consigo ver velho. O Ricardo diz que morre aos 27 anos como todos os outros e eu às vezes pergunto-me se chego sequer aos 27. É este ano que fazemos todos 20 e a incapacidade de lidar com as coisas já se torna cada vez maior.
Bolas, devia ser proibido estar assim em Milão. Devia ser proibido perder a carteira. Devia ser proibido ter que lidar com estas coisas todas. Devia ser proibido...
E agora, já passou?
E a triste verdade é que não.

Uma longa série de desgraças

23 janeiro, 2012

Chegar, ter que outra vez meter as coisas em ordem, meter o coração em ordem já seria suficientemente desafiante não?
Aparentemente, não. Foi chegar, ter que enfrentar problemas com uma amiga, a perda da minha carteira, o absoluto e completo desinteresse nas aulas que tenho aqui e a sensação de estar sozinho, muito sozinho. Porque por um lado foi mau estar tanto tempo em Portugal. Foi demasiado tempo. Foi demasiada coisa e em a nenhum momento pensei: "Quero voltar desesperadamente para Milão".
A verdade é que bem ao contrário do que acontecia quando vinha de Lisboa (ou quando chegava a Lisboa em alguns fins de semana) a vontade de querer estar sempre exactamente do sítio que tinha voltado não aconteceu.
Mas enfim. Dei-me a mim próprio uns dias para recuperar e levantar a cabeça. Só alguns dias para estar deprimido, não fazer nada, não ver nada. Estar acordado toda a noite e dormir todo o dia (tão agressivamente que nem vi o sol). Ser um vampiro, ver se exorcisava os fantasmas.
Esperemos que tenham sido só resquícios de primeira semana. Sou super sensível para as pequenas coisas, os pequenos detalhes. Para a vidinha em sociedade.
Demasiado angustiado.

As Aventuras de Ulisses

14 janeiro, 2012

E, depois da primeira parte do filme, o intervalo para ir a casa-de-banho. 
Quase um mês de intervalo por Portugal, quase um mês de falar português, quase um mês para estar com amigos, quase um mês para voltar à minha outrora existência normal.
O Natal em família, os doces, as comidas, o adormecer no sofá na tarde de Natal e acordar para o Jantar. A primeira passagem de ano com amigos depois de tanto tempo, os risos pela madrugada fora, os beijos de ano novo, a piada "ainda não fiz chichi em 2012". As conversas, os sorrisos, as perguntas. 
E depois disso, o começar outra vez a despedir-me, outra vez a desejarem-me sorte para o futuro, outra vez o aperto de mão do meu pai que vale por mil abraços, outra vez as lágrimas presas nos olhos em cada abraço de despedida. 
Sempre as lágrimas presas nos olhos, enquanto o autocarro me leva do Algarve e chego a Lisboa. Sempre as lágrimas presas nos olhos enquanto o avião me leva de Lisboa e chego a Milão. 
Voltar. Chegar. Partir. Começar. Encontrar. O início? O fim?
Já não sei definições destas palavras. Já não sei o que é ter casa num sítio só. Já não sei o que é pertencer, sinto-me um marinheiro com amores em cada porto, amores que são todos diferentes e marcantes - todos eles a precisar de mais tempo, de mais cuidado, de mais dedicação, de mais presença.
No 6º ano li, como tantos outros, "As Aventuras de Ulisses" e o que mais me marcava na história era o facto de este homem estar tanto tempo longe e depois voltar. O ir embora e viver e depois voltar com todas as aventuras na mão. E perguntei-me tantas vezes como seria isso. Como seria de facto, ir viver aventuras e voltar 10 anos depois. Porque partir e mudar e ter aventuras nunca me pareceu uma hipótese real na minha vida.  Porque eu sabia que a coruja nunca visitaria a minha casa com uma carta. Eu sabia, ou pensava saber, que viver era o resistir da dor de nunca ter feito aventuras. Resignação.
Agora que fui embora - mesmo que não por 10 anos - o sentimento é claro. Mesmo depois de todas as sereias que vi em Milão, por todas as bruxas que venci, por todos as aventuras maravilhosas que vivi, o voltar foi (e é-lo sempre) lindo e destruidor ao mesmo tempo. E podia perder tempo a explicar este fenómeno da beleza e destruição do voltar, mas só quem viveu sabe como é. É inútil explicar a um coração pouco habituado a guerras, as cicatrizes do meu e de todos nós que temos esta coisa chamada "Erasmus" gravada no corpo. 
E enquanto isto tudo, nalgum sítio bem perto mas longe daqui, as lágrimas encontram finalmente a liberdade e novos capítulos da aventura começam a ser escritos.

Férias com Filmes X

06 janeiro, 2012



Les amours imaginaires (2010)

Xavier Dolan. Outra vez Xavier Dolan. A primeira vez que vi o seu primeiro filme, passei uma noite memorável e arrepiante, o filme "Eu matei a minha mãe" tinha-me dado pesadelos e pensamentos para uma vida. Entretanto todos me falavam deste, do seu segundo filme e mais novo bebé. Tinha curiosidade em ver o que poderia acontecer depois do primeiro, da explosão auto-biográfica que ele tinha montado.


Les amours imaginaires, Heartbeats, Amores Imaginários, como lhe quiserem chamar é um filme interessante. É difícil (pelo menos para mim) não me deixar apaixonar pelo estilo completamente admirável de Dolan. Como diz Marcelo Pereira:


"Les Amours Imaginaires dividiu, em estremados pólos, a opinião pública: de tirar o folêgo à juventude hipster (tão deleitada pelo charme de Dolan e tão inebriada pelos seus adereços estéticos) (...)" 


E talvez até o diga com alguma razão, mas a verdade é que realmente adorei o filme. A beleza dos adereços estéticos é talvez uma coisa da minha geração. O símbolo das coisas, aquilo que se pode tirar só de se parar o filme e fazer print screen. A roupa. O cabelo, os colares. Há qualquer magia em tudo isso que Dolan realiza com uma mestria impressionante. 

A história deste trio amoroso improvável, um Adónis, uma Audrey Hepburn e um James Dean - os últimos enrolados neste vício de querer alguém tão obsessivamente enquanto o primeiro brinca com os seus sentimentos como criança que é, sem se quer perceber o que está a acontecer. Isto tudo, acontecendo com uma banda sonora apetecível onde cada música faz sentido, com um movimento de câmera meio trapalhão às vezes e com momentos slow motion que são um deleite para os olhos.

Os momentos apontados como fracos pelos críticos, toda a imaturidade de Dolan (como se ser jovem fosse algo só de si de criticar) para mim faz parte duma esfera de estilo que já lhe marca. A falta de história para trás, a falta de explicações é notória. Mas ao contrário de muitos filmes, percebe-se que sim, há história, sim há momentos para trás mas cabe ao espectador entender e perceber isso. O que acontece através dos elementos decorativos tão profundamente ignorados pelo resto do mundo.

Dolan é provavelmente o Almodóvar francês desta geração, uma geração de vícios e de ilusões, uma geração marcada por histórias de encantar que ele compreende e sabe retratar. Digam-me o que me disseram é uma verdadeira lufada de ar fresco um filme como este. Aconselho vivamente.

Nota: O poster do filme está na nossa língua porque nunca o tinha visto assim apresentado e achei lindo (além de fazer sentido, as três partes do coração nunca se tocam ou apenas levemente)

Férias com filmes IX


One Day (2011)

Imaginem este cenário. Eu, no meu quarto pela madrugada de dia 31 de Dezembro de 2011. Com pipocas à frente, batatas e doses inacreditáveis de Coca Cola. Este filme a passar no meu computador.
Lembro-me sempre da minha amiga Carla a dizer que se tinha desgraçado a ver um filme romântico. E já experimentei isso mais vezes do que gostaria, mas One Day foi o ponto de desgraça total. Quase no fim já chorava rios e rios e rios com a história deste casal. Durante 20 anos e sempre no dia 15 de Julho (o meu aniversário) temos uma preview de como estão a ser as suas vidas.
É um filme lindo. Estava curiosíssimo com a performance de Anne Hathaway (que faz aqui o papel de sempre: a sonhadora que vai mudar o mundo - mas eu perdoou-a porque ela realmente sabe fazer bem esse papel) até porque neste filme há todo um sotaque britânico especial que é complicado de imitar (e nos vários momentos do filme é possível perceber que ela vai melhorando - e é minha teoria de que nas cenas de cabelo curto - talvez as que foram feitas em último lugar - o seu sotaque é mesmo impressionante. Enquanto que nas de cabelo comprido ainda se nota um leve fingimento.
De qualquer forma, é um filme com uma história romântica que tem uma beleza qualquer por retratar os anos 90 (que eu vivi mas que parece sempre diferente em filme).
Recomendo para outras almas desesperadamente românticas (como eu).

Férias com Filmes VIII

04 janeiro, 2012


Did you hear about the Morgans? (2009)

Um filme sem ponta por onde se possa pegar com algumas piadinhas engraçadas de Hugh Grant mas sem nenhum brilho, enredo ou surpresa. Um filme que desilude, um filme que não cria emoção com uma história sem graça. Sarah Jessica Parker a interpretar Carrie Bradshaw no campo. Tal e qual. Tenho imensa pena.
Um filme que não recomendo (nem que seja a única coisa para ver na televisão, total perda de tempo)

Férias com Filmes VII


Melancholia (2011)

Um filme para absorver lentamente nestes tempos estranhos. A história entrelaçada de duas irmãs entre o medo, a depressão, o mistério, a morte, o amor. A verdadeira realidade humana, a nossa essência mesmo nos Dias do Fim (e nos Dias de Ouro também). Não mudamos nós, mudam as circunstâncias? Um filme que levanta perguntas e que consegue ser belo.
Um nota para a cena de nudez de Kirsten Dunst que destrói a imagem de menina que se cria dela e que é crua e fatal por isso mesmo.
A ver!

2012 - The End

03 janeiro, 2012

Um novo ano chegou.
Apenas mais um passar dos dias, das noites e das horas. Basicamente uma mudança de números, de formalidades. O tempo esse, sei bem que não existe - e não existindo tem o poder supremo de controlar tudo e todos. É uma coisa engraçada esta a do tempo, das mudanças, das pequenas coisas que acontecem dia sim, dia sim. Não há um único dia na minha vida que tenha passado em branco - mas talvez por isso mesmo seja preciso apaga-los. Na orgia de pensamentos, emoções e acções há muita coisa que tem que se esquecer para se sobreviver ao tempo...se é que se pode sobreviver a uma coisa que não existe.
Não. Este ano não há listas, não há desejos. Sonhos ainda os há e bom sinal será se sempre os houver. Mas a patetice de mudar de vida só porque é dia um já não cola.
Ainda assim há a esperança que seja um ano bom, que seja um ano desafiante, que seja um ano que traga mais e melhor. Mesmo que pareça improvável.
Até porque, bem vistas as coisas não tenho tido um mau caminho, embora me acusem de não ter experiência de vida, embora me acusem de ser um sonhador, um romântico, um rapaz aluado. É preciso muita força para nos aguentarmos a nos próprios e vou caminhando e aguentando o que dizem de mim, o que pensam de mim, o que falam de mim. É a vida natural de quem escolhe ser amante de palavras, quem escolhe fazer arte com o pensamento e transformá-lo em algo organizado e palpável.
As escolhas que tenho feito na minha vida levaram a este particular momento de existência...A surpresa dos desenlaces da vida não deixa de me surpreender e apaixonar. Digam-me o que disserem, é maravilhoso viver. E agora sim, com aventuras para trás parece que já vivi. Estarei a entrar num grau superior de vida? Estarei finalmente a ser uma adulto? O que é isto de ter 19 anos?...
E os segundos passam no relógio da cozinha, fechando e abrindo momentos, oportunidades e vivências.

Bom 2012 Lya =)
(a minha maior fã)