As Aventuras de Ulisses

14 janeiro, 2012

E, depois da primeira parte do filme, o intervalo para ir a casa-de-banho. 
Quase um mês de intervalo por Portugal, quase um mês de falar português, quase um mês para estar com amigos, quase um mês para voltar à minha outrora existência normal.
O Natal em família, os doces, as comidas, o adormecer no sofá na tarde de Natal e acordar para o Jantar. A primeira passagem de ano com amigos depois de tanto tempo, os risos pela madrugada fora, os beijos de ano novo, a piada "ainda não fiz chichi em 2012". As conversas, os sorrisos, as perguntas. 
E depois disso, o começar outra vez a despedir-me, outra vez a desejarem-me sorte para o futuro, outra vez o aperto de mão do meu pai que vale por mil abraços, outra vez as lágrimas presas nos olhos em cada abraço de despedida. 
Sempre as lágrimas presas nos olhos, enquanto o autocarro me leva do Algarve e chego a Lisboa. Sempre as lágrimas presas nos olhos enquanto o avião me leva de Lisboa e chego a Milão. 
Voltar. Chegar. Partir. Começar. Encontrar. O início? O fim?
Já não sei definições destas palavras. Já não sei o que é ter casa num sítio só. Já não sei o que é pertencer, sinto-me um marinheiro com amores em cada porto, amores que são todos diferentes e marcantes - todos eles a precisar de mais tempo, de mais cuidado, de mais dedicação, de mais presença.
No 6º ano li, como tantos outros, "As Aventuras de Ulisses" e o que mais me marcava na história era o facto de este homem estar tanto tempo longe e depois voltar. O ir embora e viver e depois voltar com todas as aventuras na mão. E perguntei-me tantas vezes como seria isso. Como seria de facto, ir viver aventuras e voltar 10 anos depois. Porque partir e mudar e ter aventuras nunca me pareceu uma hipótese real na minha vida.  Porque eu sabia que a coruja nunca visitaria a minha casa com uma carta. Eu sabia, ou pensava saber, que viver era o resistir da dor de nunca ter feito aventuras. Resignação.
Agora que fui embora - mesmo que não por 10 anos - o sentimento é claro. Mesmo depois de todas as sereias que vi em Milão, por todas as bruxas que venci, por todos as aventuras maravilhosas que vivi, o voltar foi (e é-lo sempre) lindo e destruidor ao mesmo tempo. E podia perder tempo a explicar este fenómeno da beleza e destruição do voltar, mas só quem viveu sabe como é. É inútil explicar a um coração pouco habituado a guerras, as cicatrizes do meu e de todos nós que temos esta coisa chamada "Erasmus" gravada no corpo. 
E enquanto isto tudo, nalgum sítio bem perto mas longe daqui, as lágrimas encontram finalmente a liberdade e novos capítulos da aventura começam a ser escritos.

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