E agora, já passou?

25 janeiro, 2012

Quando era pequeno e por algum motivo ficava triste e a minha mãe calhava em estar num bom dia, ia ter comigo e dizia-me palavras doces até passar. Se não passasse, ia me comprar doces, ia me comprar coca-cola e perguntava-me sempre: Já passou? Já passou?
E quando era pequeno, realmente era fácil as coisas passarem. Era menos complicado ser feliz, ou menos complicado decidir sê-lo.
És feliz com dias tristes ou triste com dias felizes? Só sei que neste momento não me apetece fazer nada, apetece-me estar aqui e afundar em mim mesmo, afundar-me em toda a porcaria, em toda a porcaria que se está a passar e não fazer nada, não mexer um músculo. Ficar aqui para todo o sempre a absorver toda esta miséria humana que sinto, ficar aqui e pensar vezes e vezes sem conta que a minha vida é uma mentira. Que tudo é uma mentira.
Porque continuo depressivo. Continuo no mesmo esquema emocional de há anos, a diferença é que estou mais forte, a diferença é que me distraio mas começo a achar a depressão uma parte de mim tão presente como os meus olhos, a minha boca. Um sinal, uma cicatriz que carrego. Sim, eu posso não a ver por uns tempos, mas ela está lá.
É nestes momentos que me pergunto se algum dia conseguirei ter 35 anos e responsabilidades. Uma casa para limpar, uma família para cuidar. Pergunto-me se algum dia serei capaz de lidar com as pequenas coisas? Com o dia-a-dia. Se serei capaz de lidar com o tempo. Como é que alguém consegue lidar com isso tudo?
Eu não me consigo ver velho. O Ricardo diz que morre aos 27 anos como todos os outros e eu às vezes pergunto-me se chego sequer aos 27. É este ano que fazemos todos 20 e a incapacidade de lidar com as coisas já se torna cada vez maior.
Bolas, devia ser proibido estar assim em Milão. Devia ser proibido perder a carteira. Devia ser proibido ter que lidar com estas coisas todas. Devia ser proibido...
E agora, já passou?
E a triste verdade é que não.

2 Comentários:

Anônimo disse...

há coisas que não passam nunca...simplesmente aprendemos a viver com elas!
Lya

Anônimo disse...

tb n gostei de janeiro...nem um pouco...