E depois de Veneza, os rios.

23 fevereiro, 2012

Os rios de lágrimas tomaram-me como refém. Sou prisioneiro duma depressão crónica, sou um doente mental. A vida passa por mim como facas no queijo, tenho cicatrizes na alma, o coração preto mal bate já. E quero escrever, escrever, escrever e não consigo. Nada do que digo ou faço faz algum sentido. Sou um homem perdido, sou um vagabundo, vivo a comer migalhas de algo que não existe.
O copo  que levo à boca é de cristal, mas o vinho que bebo é veneno. Por detrás de todos os meus sonhos, o inferno se intromete, o diabo manipula-me.
Será possível ser feliz? Será possível ser?
Será possível fazer sentido?
Perdido no sonho, encontrei o pesadelo. E ninguém me compreende, ninguém fala português. E nem eu falo já português. Sou memória viva de algo que já não respira. Sou uma sombra do que fui, a bem dizer...fui sempre sombra de mim mesmo. Fui sempre esta manta rota de aspirações.
Merda.
Só o fim me pode salvar agora.

Veneza

Haverá alguma cidade tão bela como Veneza? Tão histórica, tão romântica, tão cheia de felicidade por todo o lado? Haverá alguma cidade onde o amor se encontra em cada esquina?
As ruas de Veneza, os canais de Veneza...
Foram dias de glória.

Não é a queda que te mata.

05 fevereiro, 2012

A minha boca sabe a qualquer coisa. Tenho o espírito envenenado das noites que não durmo, as mãos tremem enquanto fumo mais um cigarro.
A loucura, a loucura, a loucura. Bicho doente, é isso que sou, um bicho doente e cansado. Não cá romantismos, para a merda com os intelectuais todos, com os filhos da puta que acham que sabem ler e escrever.
Ninguém sabe ler. Ninguém sabe escrever. Odeio profundamente qualquer um que ache que sabe fazer alguma coisa. Odeio profundamente quem sente que sabe alguma coisa, mas odeio ainda mais o sentimento de se achar que se sabe alguma coisa.
Odeio quem dá conselhos e não tem nódoas negras de ter lutado. Odeio quem come sem ter fome. Odeio que tem sede e nada para beber. Odeio tudo e todos e no fundo a pessoa que odeio mais é a que conheço menos.
O bicho doente e cansado.
Não é que eu odeie viver, não que é a vida não seja uma coisa até engraçadita. O problema é que eu não sei viver, não sei cantar, não sei escrever. Não sei porra nenhuma.
Olá tenho 19 anos. Olá, não tenho respostas nenhumas.

Preciso tanto de qualquer coisa. Dormir? Fumar?
Preciso que o meu espírito descanse. Preciso de voltar a escrever. Merda, preciso de escrever alguma coisa que faça sentido. Preciso de me voltar a possuir.
Preciso da ilusão dum dia de sol. Preciso de voltar a ver o desconhecido.
Preciso que o meu pai me ligue e me pergunte como estou. Preciso de meter a minha vida em ordem, preciso de arrumar o espírito.
Só quero voltar quando tiver o espírito arrumado.

De Profundis

01 fevereiro, 2012

No secundário, o meu professor de filosofia (uma das pessoas mais inteligentes que conheci na vida) aconselhou a leitura dum texto chamado "De Profundis" de Oscar Wilde. Não me lembro do porquê, não me lembro se deu detalhes, mas ficou o conselho. 
Procurei pela obra algum tempo e desisti. O mundo dos livros em português pode ser muito chatinho sem se conhecer as pessoas certas.
Não me esqueci mais das palavras dele porém e numa simples visita a uma pequena livraria aqui em Milão, encontrei um exemplar a três euros, esquecido no meio de outros nomes importantes da literatura inglesa. A versão original. Fiquei tão contente que nem pensei mais sobre outra coisa, tinha que o ter, tinha que o possuir.
A leitura revelou-se um desafio. Demorei quase dois meses a ler 140 páginas - o que não é definitivamente comum para mim. 
Hoje, no primeiro dia do mês de Fevereiro, acabei e sinto-me destruído. De Profundis acabou comigo duma maneira que só os grandes livres acabam. Tive vontade de chorar.
Uma carta sobre o amor, sobre a arte, sobre a imaginação e sobre a vida - isto tudo e muito mais. De Profundis é um portal para uma conversa íntima com Wilde (uma coisa só por si de valorizar) sobre o que vai no nosso íntimo. Encontrei-me nas linhas de Wilde muitas vezes e talvez seja esse reconhecimento que me tenha destruído.
Dizer que aconselho que é understatement - é uma leitura obrigatória para os meus amigos mais próximos.

E noutras notícias menos destrutivas, hoje nevou em Milão e tinha neve no cabelo, neve nos sapatos, neve no casaco. Uma coisa única. E senti-me melhor hoje que ontem embora o desespero esteja à espera em cada canto.