Desejos para 2013

31 dezembro, 2012

Sobreviver.

O último ano

28 dezembro, 2012

2012 foi um dos anos mais memoráveis da minha vida. Se não o mais memorável até agora, tanta coisa que fiz, tantos caminhos que percorri, tantos encontros e desencontros.
E agora tudo fica para trás à espera de outros desafios.
Buckle up, it's going to be a bumby night.

People are strange when you're a stranger

21 dezembro, 2012

A vida era mais fácil no ontem. E isto não é a magia do passado, não é saudosismo exacerbado, não é melancolia. É um facto. Houve uma altura em que a vida tinha para oferecer um futuro, um futuro com objectivos, com sonhos, com ideais e ideias. 
Agora com 20 anos, o futuro já não está lá. Estou cada mais perto daquilo que esperava ser quando era criança. Uso o casaco aos ombros, tal e qual como penso que os cavalheiros de outras épocas usavam os seus. 
Mas não sou mais feliz. Estou em Comunicação, sou uma pessoa cheia de potencial. Mas não sou mais feliz. Agora que o caminho da faculdade não é um sonho, não é um ilusão, que futuro?

Sou uma escadaria humana de sentimentos. É tão fácil, mas tão fácil ir descendo, ir passando os degraus, a correr como se a vida dependesse disso. E o meu espírito parte-se, a minha alma dói de não ser mais do que um farrapo outrora bonita. 

Se calhar, o motivo pelo qual falo tanto da morte é porque já morri dentro de mim e surge a intuição do caminho mais correcto. O corpo fazer-se igual ao espírito. As duas peças a juntarem-se. A derrota do Rei.

Eu sei quais são os meus problemas. Não sou uma pessoa insegura, sou uma pessoa complicada. Os inseguros podem adquirir confiança. Os complicados raramente conseguem ver para além do seu próprio nariz. Raramente vêm o mundo por aquilo que ele é: um grande nada.

Tudo isto é nada. Tudo isto é uma razão sem origem. Vivemos para nada. Surgimos porque aconteceu. Não há nada aí fora. Os mitos, os imaginários, esses, esses são os culpados de tudo.

Eu sou nada.

Presente de Natal

16 dezembro, 2012

Via facebook: O que é o Natal?

Este ano, tal como tem acontecido nos últimos, não sinto a menor ansiedade pelo Natal. Pelas férias, talvez. Mas não por essa quadra festiva de tanta  fama, com um homem gordo de barrete que dá colo a crianças. Lembro-me de aprender que o Natal é quando juntamos a nossa família, aqueles que realmente amamos e aqueles que nos fazem falta. Aqueles especiais, aquele sentimento de união douradora que sobrevive a quase tudo.
Então, se de facto for isso o Natal, o dia 25 de Dezembro é, desculpem o termo, merda. Não é no dia vinte e cinco que se percebem esses laços. E, pelo menos comigo, não são as pessoas que mais amo que se sentam comigo numa mesa e que comem a mesma comida que eu. De todo.
E honestamente enoja-me este sentimento que acontece nesta altura: Consumir because I care. Dar-te algo porque hoje, hoje especificamente é Natal e temos que nos lembrar uns dos outros.
Merda, Bosta, Trampa, tudo trampa.

Para mim o Natal é um jantar com amigos. É sair de noite e chegar às seis da manhã, é estar num concerto com o pessoal da associação. O Natal é receber um bilhete no meio da aula que diz "Vamos almoçar ao modelo?". Isso é puro, isso é verdadeiro, isso é natural.

O resto... o resto é brilho de flash, momentâneo, artificial e indubitavelmente inútil.

Domingo de Sol

09 dezembro, 2012

Acordar com o sol a entrar pelas janelas como uma bomba. Descer as escadas. Tudo dorme, as roupas do dia anterior, o cinzeiro cheio de beatas, até o pó dorme. O tapete está torto. As almofadas do sofá estão desalinhadas.Ninguém se interessa.
Aninhar no sofá, os dois corpos num sofá tão pequeno. O calor humano, o sol a entrar pela janela. O toque humano. O sol a queimar a vista.
Dedos grossos que passam pelo meu cabelo com suavidade, desejo, vontade, a preocupação lá longe, bem longe com todas as merdas do mundo fora. 
Voltar para dormir no quarto, o quarto, sempre o quarto, mal arrumado, a cheirar a Lucky Strikes de Mentol, as molduras com sorrisos eternos, o espelho a revelar tudo, tudo tão cru, tudo tão bonito. Uma almofada para dois, ninguém se interessa. Pernas em todo o lado, ninguém se interessa.
(...)
O sol vai rebentando cada vez menos. A luz é mínima mas ainda consigo desenhar os teus olhos. Os teus olhos. Juntos. 
Tão juntos. Ninguém liga a luz.
Ninguém liga a luz antes do beijo, ninguém liga a luz antes de ir para o banho. Um banho no escuro, mas toda uma luz dentro de nós.
Domingos de Sol. Às vezes, o melhor é ficar em casa.

Os dias de Novembro

27 novembro, 2012

Foi um estado de quase completo desespero. Foram dias sem dormir, foram lutas interiores, foram muitas repetições do novo álbum da Lana del Rey. Mas cá continuamos.
A escrita anda esquecida, mas até eu mesmo ando esquecido de mim.

Das Faculdades ou What's the point?

02 novembro, 2012

Entrei em 2010 para Ciências da Comunicação. Média de 16,9 valores. 

Um dia nasci. E entrei na escola. E comecei a sofrer.
E estou farto destas vivências.
Estou farto das amarguras.
Estou farto de mim.

Mas vou mudar.

Os Jantares da Destruição.

14 outubro, 2012

Escrevo sob uma influência. O corpo envenenado de álcool, tabaco e noite. Porém, a mente está sóbria. Consciente. Certa de si. Certa dos seus limites e das suas possibilidades.
Hoje, foi uma noite de revelações. Enquanto caminhava por Benfica, a minha nova casa pensava em como a vida sempre me tem dado confirmações. Confirmações que estava a fazer as coisas certas, no momento certo. Estas confirmações, porém, só surgiram mais tarde. Mas, apareceram.
É por isso que digo, com naturalidade e sem prepotência, sou um viajante. Mas não sou um naufrago. Ando à deriva das ondas do mar. Mas não estou perdido. Não sou uma pessoa perdida...Mesmo que o sinta.
Tudo na minha vida tem um horário. Um horário que eu defini há um longo tempo. Uma certa relação de coisas, objectivos, pessoas, conversas e mesmo jantares. Eu defini esta vivência.
Diz a minha mão (com as devidas reticências) que sou um pessoa de linhas certas.Gosto de acreditar nisso.
Gosto de acreditar em mim. Sobretudo, gosto de gostar de estar aqui.
Vivendo.
Aprendendo.
Seguindo em frente.

Lisboas

01 outubro, 2012

Lisboas do tempo, dos amigos, dos desesperos, das noitadas, das preocupações. Lisboa da loiça que fica por lavar. Lisboa da casa desmazelada e da banana roubada.
Há tanta coisa a acontecer ultimamente, há tanto confronto diário, há tanta bela história para ouvir. Há tanto chão onde dormir!
Aqui, com a Bloom a chiar baixinho na cozinha, o motor do computador a aquecer com o helicóptero e quase a chegar à uma da manhã, é fácil sentir-me perdido nisto tudo. É fácil sentir que estou a perder o rumo, se é que há um rumo.
Não sei. Não sei de nada.
E é assim que a vida é, aparentemente. Um cigarro ao frio.

Arrumar a trouxa. Outra vez. Outra vez. Outra vez.

13 setembro, 2012

Vivo rodeado de coisas. Fotografias do sexto ano, cadernos do secundário. Velhos manuais escolares. Guardo imensa coisa, sempre guardei. Aquele bilhete que me escreveste na aula de Geografia a perguntar se eu queria almoçar contigo no Modelo? Provavelmente está ainda conservado algures.
Os meus livros multiplicam-se. Clássicos, Literatura Moderna, Banda Desenha, Ficção Científica, a minha biblioteca tem de tudo um pouco. Os meus filmes...é melhor nem falar dos meus filmes.
Roupa que nunca mais acaba. Calças e calças e calças e calças e para todas essas calças um casaco diferente, uma camisa diferente, um par de sapatos diferente.
Para quê, meu Deus? Para quê? Para quê se no fim, ando há dois anos a mudar-me de um lado para o outro, a deixar coisas em cada sítio, a percorrer com os meus dois pés os caminhos todos? Para quê, meu Deus se na realidade nem uma casa minha tenho? Se nem um guarda roupa meu, meu para sempre, meu até haver um furacão e levar tudo, tenho? Para quê meu Deus se no fim tudo o que realmente carrego são as memórias?
Tenho demasiadas coisas. Tenho demasiadas coisas para carregar. Tenho demasiadas coisas a prenderem-me aqui e ali, a obrigarem me a não conseguir embora. E sempre que parto para um sítio novo, o drama é o mesmo: Como é que eu vou levar isto tudo?
Aqui estou eu, outra vez pela madrugada fora, a escrever no blogue, a fazer as malas e a pensar nas próximas aventuras. Outra vez. Outra vez. Outra vez. Outra vez.
Não quero falar mal do caminho que escolhi. Do caminho que foi-se formando. Mas começa a fazer-me um bocado de confusão nunca ficar no mesmo sítio. É claro que é maravilhoso, é claro que é uma oportunidade, é claro que seria infeliz de outra forma mas...As coisas podiam ser um bocadinho mais fáceis. 

Entretanto a minha mãe vai-me infernizando a existência com ideias espirituais do arco da velha. Eu nem sei como é que sobrevive. Um jejum espiritual todos os dias, uma obsessão com a pureza dos pensamentos, com a pureza das acções. Como é que possível alguém ser absolutamente puro em todos os pensamentos que tem? E que importância é que isso tem? É o que eu digo, as coisas podiam ser um bocadinho mais fáceis.

Vá lá que no meio disto tudo, os meus amigos continuam a ser aquele pilar essencial na minha vida. Tenho para mim que se não tivesse amigos, já estava num hospital psiquiátrico a contar os azulejos do meu quarto. 


Uma andorinha chamada Carla

11 setembro, 2012

Tenho uma amiga chamada Carla. Sei que ter uma amiga chamada Carla não é nada de extraordinário. A verdade é que a mais comum das pessoas, com a mais banal vivência pode gritar aos sete ventos: Tenho uma conhecida chamada Carla!
De facto, não é nada de especial. É o mesmo que dizer com pompa e circunstância "tenho um amigo chamado fulano de tal". "Tenho uma amiga chamada sicrana de tal". O mundo continua a girar apesar de eu ter a minha amiga Carla. 
Mesmo agora, enquanto escrevo estas palavras, o mundo vive. Celebra-se o aniversário daquilo que eu vi em choque quando era pequeno, há morte, guerras, desespero. O mundo não quer saber dos meus amigos. O mundo não quer saber de mim, nem da Carla, nem de ninguém.
Mas a Carla continua cá. As lágrimas caem e a Carla continua cá. A loucura domina-me e a Carla continua cá. Eu pinto o cabelo e a Carla continua cá. O amor aparece e desaparece e guess what?
Talvez nunca ninguém escreva um livro sobre a Carla. Talvez nunca ninguém estude a sua biografia, talvez ninguém se apaixone pela menina que ela era aos 17 anos. Talvez a Carla nunca faça nada de invulgar, de especial, de heróico.
Mas a Carla continua cá. E a Carla pode nunca mudar o mundo, pode nunca dirigir um filme ou viajar pelo mundo de balão. A Carla pode até morrer amanhã. 
Mas nunca ninguém, nem sequer a morte há de tirar a importância que a Carla tem na minha vida. Nunca ninguém a vai apagar dos meus livros, da minha biografia, dos meus filmes, das minhas viagens pelo mundo de balão e mesmo que também nunca tenha nada disso, nunca ninguém a vai apagar da minha essência. Do meu espírito. Porque na minha vida, a Carla foi invulgar, a Carla foi especial, a Carla foi uma heroína.
Pode não ser nada de especial ter uma amiga chamada Carla, assim como ter um passarinho que de vez em quando nos visita. Para mim, porém, é uma salvação.
A minha amiga Carla fez 21 anos dia 4 de Setembro. 
O Futuro ninguém sabe...mas a Carla continua cá. 
E eu com ela.
Amigos para sempre, imaculados na perfeição dum retrato. 

"Gonna take her for a ride on a big jet plane"

06 setembro, 2012


Apetece-me acabar a história da minha vida aqui. Apetece-me meter num frasquinho tudo o que vivi e jogar fora. Acabar o livro que amadureceu podre nos meus braços e perde-lo num jardim qualquer. A vida não foi mais doce para mim do que está a ser agora. (menti-te V)
A verdade é que finalmente admiti para mim mesmo que estou numa relação correspondida. Nada de falsos alarmes, nada de dores no coração, nada de choros nem de tristezas.
O amor, amigos. O amor finalmente atingiu-me. Finalmente abracei alguém e fui abraçado de volta com uma intensidade de partir ossos. Finalmente senti na pele essa coisa estranha que desejei, sem saber o que era, tanto tempo.

E enquanto isso desperta em mim, um verão acaba. Um ano de faculdade começa (o último...?), uma nova morada é precisa (Benfica), novos planos se fazem.

E eu sem nada para escrever e com tanto para contar.
Viverei então, para escrever no futuro o que é o hoje.

Vai-te embora mês de Agosto.

09 agosto, 2012

Não, fica. Vai-te embora. Eu amo-te.
Cala-te. Abraça-me. Não, descola. Volta. Espera.
O que raio tem este mês de Agosto? Um sabor de domingo talvez. Não quero que comece, não quero que acabe.
Depois deste mês, o que raio vou fazer à minha vida? Onde é que vou viver, quem vou conhecer? Mas que merda é que Lisboa tem à minha espera? E o ano de finalista? E que raio de finalista sou eu? E que raio de coisas são estas, que raio de sentimentos são estes?
E que pessoas que são estas que dançam à minha volta?
Hoje contei à Laurie que a Sylvia Plath no fim da vida, meteu a cabeça no forno e foi desta para melhor. E ela logo: Porque é que alguém faria isso?
E eu: Porque é alguém NÃO faria isso?
E a verdade é: Quem é que não metia a cabeça no forno com uma vida destas? E porque sou o único a fazer estas perguntas? Porque é que sou o único a sentir isto?
Em conversa com uma amiga, admiti em voz alta uma ideia que guardo há que tempos em segredo. Tenho um problema químico. Uma desordem. Uma deficiência. Talvez me dessem choques eléctricos nos anos 50. Mas a verdade é que ser feliz não pode ser assim tão difícil. E ter a certeza de quem somos, ter a certeza do que somos, não pode ser assim tão difícil. Ter coragem para ser quem somos...não pode ser assim tão difícil. Não é o standard de todas as pessoas estar mais ou menos bem? Estar mais ou menos feliz, mais ou menos, mais ou menos. Porque é a minha resposta é sempre menos ou ainda menos?
Desequilíbrio profundo que se acentua com a solidão, talvez seja essa o meu diagnóstico. Se calhar desisti de ser saudável. Porque é que temos todos que ser saudáveis, porque é que temos que ser todos bonitos? Mas que merda é essa? Que imposição é essa? Mas do que raio serve este sofrimento contínuo duma socialização que muda a cada moda de valores? As tradições, os valores, as opiniões...todas modas. Modas e modas que chegam e vão...


Porque é que alguém não poria a cabeça no forno? 

20 anos e a vida de hoje

20 julho, 2012

20 anos e a mesma porra de vida. 20 anos e a merda da mesma angústia, a mesma dificuldade em respirar. 20 anos e a porra das gotas de suor em todo o corpo, um calor que invade a alma e os sentidos. Um calor de festivais. Um calor de duas mãos dadas enquanto os The Cure cantam. O calor da minha cabeça e da tua  juntas. O calor da nossa intimidade. 20 anos e a porra da minha primeira exibição pública de afecto.
20 anos e a porra dum bolo de chocolate, um cigarro a fazer de vela. Um sorriso a fazer de roupa. 20 anos e a percepção das verdadeiras amizades (...)

O meu pai vive cada vez mais num mundo só dele. Num mundo difícil, complicado, num mundo onde só o trabalho, o cansaço, a ilha aos fins-de-semana e a comida de gatos do Aldi. Um mundo onde eu sou apenas sinónimo de mais problemas. Um mundo onde elogios não existem e incentivos são palavras que me ferem o coração. Um mundo onde ele fala e eu calo-me. Um mundo onde eu falo e ele foge para longe. Um mundo onde ele não percebe a minha angústia de existir assim, preso num quarto que não é o meu, preso num quarto porque há baratas por todo o lado e e não consigo sair enfrentar os meus medos. Preso nesta existência sem sentido, a definhar cada vez mais o coração e a alma.

A minha mãe cada vez mais enterrada num poço de insanidade. Numa insanidade de espíritos, maldições, más energias. Num mundo de bruxas nada mágico, num mundo onde todos nos querem mal, num mundo onde o perigo é constante. Um mundo solitário onde ela não me pode ver, onde o meu cabelo está demasiado claro (para a minha mãe e para o meu pai o meu cabelo está sempre mal: se está curto, está demasiado curto. se está comprido, está demasiado comprido). Um mundo tão longe do meu, um mundo que do qual eu nunca fiz parte sequer. Quem és tu mãe? Será que alguém sabe dizer? Enquanto o teu corpo e a tua mente definham, mais um bocadinho todos os dias, eu morro lentamente ao sabor das flutuação das tuas emoções, das tuas loucuras...

E eu aqui no meu mundo tão sozinho. Talvez a culpa seja minha. Talvez viver seja o problema 1. Talvez tudo isto, talvez todos estes anos não sejam culpa de ninguém...sejam consequência da minha inacreditável incapacidade de viver neste mundo. Ou pelo menos de viver neste Portugal.

O meu pai chama-me snobe. Chama-me snobe porque eu defendo a ideia de que devemos ter um inglês perto do perfeito e um sotaque pelo menos americano, pelo menos fiel a qualquer coisa, ao invés do exemplo tosco de Mourinho ou Cristiano Ronaldo. Sou snobe porque defendo que aprender uma língua é aprender completamente os sons, os ditongos, saber reproduzir como uma pessoa que lá viveu a vida toda. Sou snobe. Talvez o que o meu pai não perceba é que eu não quero nunca parecer português. Que quero ir embora, deixar os amigos, a família, as cicatrizes e viver num mundo que não se acaba depois das nove da noite, que não se acaba com o cair do Inverno. Quero viver num mundo de beleza, ora bolas. Quero ter a oportunidade de ver quadros e decidir nunca os visitar. Quero ter a oportunidade de ouvir as mais inteligentes mentes do mundo, sem me mexer da minha cama. Sou um snobe. Talvez seja. Mas o que o meu pai não compreende é que ser snobe é a única coisa que me prende a esta vida. A ideia de que em algum lado, longe deste país infernal há qualquer coisa de diferente para viver. Onde ter 80 quilos não é ser obeso e onde gostar de ler livros não é raro mas frequente. Onde eu posso verdadeiramente encontrar um amor (20 anos, a maior parte da porra dos meus amigos em relações ou perto disso e eu solteiro eternamente). Onde há qualquer coisa que me faça levantar da cama. Talvez um sítio onde não me lembre do suicídio a cada aperto do coração.

Cada vez menos sem certezas de nada, sem saber responder à pergunta "E agora?". As portas só se fecham (a M80 mandou-me ir dar uma voltinha e nem me escolheu para entrevista para o estágio, a empresa de Marketing depois dum interesse inicial nunca mais me disse nada.) e nada parece se abrir (num horizonte longínquo há um projecto com a Maria mas...)

Outra vez sentado no jardim entre o dia e a noite.


A interminável viagem de volta

08 julho, 2012

E de repente, cá estou eu. A falar português, a mandar mensagens, a usar o telemóvel sem me preocupar com a conta, a beber cafés, a andar na baixa, a encontrar os meus amigos. Aqui estou, aqui estou eu, aqui estou eu.
Afinal, sobrevivi. E afinal, foi bom.
Mas ainda não cheguei definitivamente a Lisboa. Nem ao Algarve. Não sei se me perdi em Milão, no comboio da meia noite para Paris, se no TGV para Irun (ou aí mesmo a conversar com a professora americana), talvez em Madrid e e nas casas de banho as quais eu nunca mais voltarei, talvez por aí. Tive a sorte de não perder nada e o azar de me perder a mim mesmo como quem deixa um livro no banco do autocarro.
Não sei o que é a vida depois de Erasmus. Não me façam perguntas sobre o voltar. Sinto-me diferente, sinto-me mais velho, mais cansado, mas ainda não sei o que significa voltar de erasmus. E cada vez que penso em Milão...é uma dor no peito que não se acaba!
E mais palavras não tenho. Parece que deixei de ter coisas a dizer sobre este ano da minha vida. Um ano...completamente inesquecível.

A.L / D.L

26 junho, 2012

Londres. Londres, Londres. A palavra forma-se na minha boca como um beijo guardado que se solta com prazer. Londres. A vida antes de Londres e a vida depois de Londres. Há uma distinção a fazer. Foram 10 dias que nem tão cedo esquecerei.
Londres e a sua vida descontrolada, a sua gente descontrolada, o seu metro descontrolado. Londres e as lojas, Londres e os meus sapatos na Tower Bridge. Londres e por todo o lado satisfação. Londres e por o todo o lado Sonhos com "s" grande. Se o mundo acabasse amanhã, ia me perder pelas ruas de Londres e chorar um bocadinho no Hyde Park.
E mesmo ali tão perto de Londres, Cambridge. Um mundo que nunca pensei conhecer. Um mundo de festas de jardim em que se conhecem pessoas interessantes, um mundo de três copos de vinho e mais um só para a garrafa acabar. Um mundo de bailes de gala e de bebedeiras de pobre. Um mundo de livros e bicicletas, uma bolha única, um ambiente difícil de encontrar seja onde for. O mundo das "mentes mais brilhantes da Grã-Bretanha.
E Londres foi assim. Uma bênção. O descobrir de um sonho, o descobrir dum objectivo novo.
Um caminho a percorrer...

Inutilidades I

13 junho, 2012

Não há melhor snack para a madrugada que este: Coca-Cola de 55 cêntimos, sandes de dois euros da máquina da residência e um cigarro ou cinco. Estas noites já têm um prazo definido, mais dia menos dia, arrumam-se os tarecos e ciao ciao milano, e já sei que vou chorar. Mas enfim. Guardemos as angústias todas para outro dia. O sentir demais nunca ajudou ninguém que eu conheça.
Para me entreter, penso no futuro. Que presente envenenado! Não me consigo imaginar mais velho do que sou hoje. Tenho uma existência de borboleta, sem dúvida. Não fui feito para ter 50 anos. Não fui feito para não ser jovem, a vida já agonizante sendo jovem, não me cativa nada com os problemas da velhice. E dito isto, não me posso dar ao luxo de não fazer planos. Sair de Portugal? Ir viver para outro lado? Mas para onde, meu deus, para onde? O mundo parece-me um sítio demasiado grande, ainda por cima agora que conheci tanta gente. Sinto-me afogado no mundo. Mais ou menos aquele sentimento de quando se pensa no universo é de como é uma coisa infinita. De como o mundo inteiro é um pequeno pontinho insignificante. O que fazer, meu deus, o que fazer.
E enquanto isto tudo se passa, cada vez me desespero mais com este blogue, com a escrita, com associações, comparações, erros de gramática, sintaxe e o diabo a quatro. Enerva-me que não consiga escrever algo melhor, algo impressionante. Fluidez. Beleza. Onde estão?
O desespero de querer dizer algo interessante é dramático e indubitavelmente inútil.

Ryugyong

10 junho, 2012


Hoje no Público:

 "Ryugyong começou a ser construído em 1987 em Pyongyang com o objectivo de ser o maior hotel do mundo, imagem imponente do comunismo"
"Os problemas para o regime de Pyongyang continuaram, com especialistas a olharem para o hotel e a considerarem-no o mais feio do mundo. A revista Esquire designou-o como o “pior edifício da história da humanidade” , sendo também chamado de “Hotel Of Doom” (“Hotel da Ruína”)."
"Ryugyong tornou-se um símbolo do falhanço do país e do comunismo. Apesar do imponente edifício ser visto a quilómetros de distância, Pyongyang chegou, mesmo, a negar a sua existência, fazendo-o desaparecer das imagens oficiais da capital norte-coreana."

A verdade é que não há nada mais humano que isto. Construímos estes edifícios altos, cheios de expectativas. Acreditamos que estamos a fazer uma coisa boa, que todos possam ver, para que todos possam admirar. Mas, no fim, o tempo passa e aquilo que um dia sonhámos ser majestoso, acaba sendo uma ruína. Uma trágica e quase triste memória do que um dia sonhámos alcançar. Mesmo que esteja ali, cru e morto, ignoramos com os olhos e com a alma. Ninguém quer ver os próprios fracassos.

E depois vem a reconstrução. E voltamos a pegar na nossa ruína e fazer alguma coisa com ela.

O passado cura-se e cura-nos. E de edifício mais alto do mundo para edifício mais feio, de edifício mais feio para ruína e de ruína para símbolo da nossa resistência. Porque os sonhos reciclam-se.


To Build a Home

02 junho, 2012

As minhas entranhas sentem já as despedidas. A cada abraço estamos mais próximos do último. A cada exame, a cada gelado, a cada dia de sol. A aventura está na recta final. Já não há surpresas.
E eu não sei o que sentir. Não sei se há vida depois de Erasmus. Não sei quem sou eu depois de Erasmus.
E o tempo passa...

Into the Wild

18 maio, 2012

Meu Deus, tantas coisas para escrever, tantos atropelos de ideias, umas atrás das outras. Nem sei por onde começar. Não é que ande a acontecer nada de profundamente fantástico, mas ainda assim quero vomitar tudo.
Voltei ao vampirismo habitual. Acordado toda a noite no bem bom do online, a ver filmes e por aí fora, e mais ao menos quando o dia está a começar...cair morto na cama.

Hoje aproveitei para ver o "Into the Wild" um filme de Sean Penn. Basicamente é a história verídica dum homem que deixa tudo para trás e vai-se descobrir mas a um nível brutal - não diz nada à família e simplesmente vai embora.
E qualquer coisa soou em mim. Não é o meu Erasmus um especial "Into the Wild" um momento de auto-descoberta? Se for, o que é eu descobri acerca de mim aqui? O que tem significado esta viagem para mim, o que é estar aqui, neste preciso momento, neste quarto desarrumado com a vida milanesa lá fora?

Ainda não sei bem. Acho que vou demorar algum tempo a digerir o Erasmus, uma experiência que me vai certamente acompanhar para a vida. Mas ainda assim, apercebi-me de algumas verdades:
-Consigo fazer amigos em todo o lado, de qualquer nacionalidade. Consigo interagir, consigo perceber e ser percebido. Consigo fazer-me indispensável. Consigo entrar nos círculos.
-Não consigo viver com uma pessoa com quem não tenha uma boa relação de amizade. O Pablo, meu companheiro de quarto desde Setembro, resolveu sair porque não conseguia dormir...provavelmente entre outras coisas. Não sou de facto o companheiro de casa perfeito. Preciso de ter uma relação muito boa com uma pessoa para isso, uma pessoa que me conheça e que saiba interagir comigo (Joana Apolónia, Joana Frederico e Daniela hão de ser sempre os exemplos perfeitos).
-Entre outras coisas, os meus amigos europeus têm uma forma de ver as coisas verdadeiramente de hoje. Não são avançados ou espectaculares (embora para os princípios de Portugal bem o sejam) o que me ajuda imenso a construir a minha personalidade sem barreiras enormes porque à partida sou aceite e não excluído.
-Canso-me das pessoas. Não é que não soubesse isto, mas foi uma prova. Não sei se é uma barreira mental minha, o facto de ainda não ter encontrado um grupo perfeito de pessoas para mim (noção cada vez mais ridícula na minha cabeça mas que continua a existir, por algum motivo), mas esta é a verdade. Tivemos um belo 'barbeque' e eu só olhava para toda a gente num desespero total. Cansado daquele círculo, cansado das conversas, dos risos, sentindo-me de fora por não estar a comprar aquela realidade tola. Precisei dum intervalo - ainda estou a gozar dele.
- Desenvolvi ao longo dos tempos, uma dependência brutal ao mundo online. Ao facebook, a todas as plataformas e mais algumas, ao simples facto de poder ir à internet. E em Erasmus, isso verificou-se duma maneira avassaladora. E é algo que quero realmente diminuir. Não leio há meses embora a pilha de livros fique cada vez maior.
- Há uma magia qualquer na rotina de todos os dias. Mas há uma magia ainda maior em quebrá-la. Apercebi-me sem sombra de dúvidas que o meu futuro é em qualquer lado, mas não em Portugal (a não ser que o jogo mude). E o sonho de partir para Londres, para Paris, para Bruxelas, seja para onde for, está cada vez mais vivo. De cidadão português, passei para cidadão europeu - só pelo simples facto de passar metade do meu tempo com pessoas completamente alheias à minha cultura nacional.

E ando a pensar nestes desenvolvimentos. Ando a chegar a conclusões. Caminhei uns bons quilómetros em Erasmus e tive a minha dose de experiências. Há coisas a formarem-se dentro de mim, há muitas dúvidas...mas começam a haver algumas certezas. Principalmente a de que os meus caminhos vão dar sempre a bom porto, mesmo que passe por mares de trampa.

São quase oito e meia da manhã e eu tenho aulas daqui a duas horas...Estou um bocado perdido nos pensamentos mas sei que há mais coisas que gostava de dizer - Vampiro, bem vos disse. Vampiro!
Finalmente, FINALMENTE, chegaram notícias da bolsa. Vou receber 80% agora e 20% sabe Deus quando. O que são óptimas notícias tendo em conta que preciso imenso do dinheiro para pagar as propinas da faculdade e a viagem a Londres, que com esta certeza, fica cada vez mais certa. Só Londres em si, dava um belo texto, mas não me vou adiantar muito que não me sinto capaz de tal.

Entretanto, finalmente as coisas na faculdade parecem estar a ir mais ou menos bem. Apesar de ter uns míseros 6 créditos oficiais até agora (tenho outros créditos que só servem para o currículo) estou no bom caminho. Tenho um trabalho simples simples para fazer para Sociologia e pimbas. 9 créditos. O exame de Espanhol está marcado. Pimbas. Outros 9 créditos. Para Nuovi Media de Comunicazione preciso fazer dois trabalhos (que não me parecem, à partida, ser muito difíceis) adivinhem? 9 créditos. O resto é mais preocupante. Tenho uma cadeira de História da América Latina que me vai queimar as pestanas e uma de Publicidade que está no mesmo caminho. Depois tenho um problema mais ou menos giro, quero fazer uma cadeira de 9 créditos e a única compatível era Inglês II mas nunca meti lá os pés porque tenho outra aula ao mesmo tempo. Resultado: Não faço ideia do que está a ser dado e nem sei se posso fazer por causa do acordo de disciplinas que fiz (e que vai precisar de ser renovado). Mas enfim, ao menos o caminho não me parece tão negro como antes!

E pronto. O vómito para por aqui...Não sem antes dizer que apesar de tudo, sinto-me uma pessoa interessante. Crucifiquem-me, mas depois de ler alguns blogues que andam por aí (salvo raras excepções) fico com a impressão que o que eles/elas fazem, fazia eu bem. São famosos por falarem abertamente das suas vidas sexuais (existentes ou não) e por meterem uma dose pequena de vida real. Ou então são famosos porque o/a blogger é gira. Ou então são famosos, sabe Deus porquê. Ou então são cheios de emoção, inteligência presumida em palavras completamente maquinadas, sem uma pinga de cor, sem vida. Como se eu anunciasse Sopa para o jantar e depois aparecesse com um prato cheio de água cristalina. Portanto, número de leitores não é sinal de nadinha!

O calor de Milão

04 maio, 2012

Depois de um belo Inverno de merda - temperaturas negativas, frio, pânico geral de começar a perder membros do corpo, a Primavera está aí a despontar por todo o lado. Ainda chove, assim como quem não quer a coisa - só para lembrar que pode chover. Mas os dias estão bons, estão quentes, estão interessantes.

As semanas vão passando lentamente, trazendo novos desafios, novas despedidas. Estou na recta final do Erasmus, embora dizer não seja o mesmo que saber. Ainda não estou consciente de nada, ainda tenho a alma perdida num qualquer lugar.

Como diz a Elisa, que faz voluntariado (e esteve no Perú e na Índia e este verão para o Sudão do Sul) diz que quando chega a casa depois de viver as experiências todas, dorme primeiro umas boas horas, come a comida da mãe e segue como se não tivesse chegado a partir. Não é que não esteja diferente, não que é não tenha passado por muito. Mas o mundo continua. E nós temos que continuar também.

Perdi os meus óculos em Milão (há algumas semanas já). Mas não. Não vou voltar a Janeiro. Estou calmo. Está sol. Estou bem.

Eu quero ser feliz.

21 abril, 2012

E a vida corre, como um rio sereno no meio dum bosque parado no tempo. Na realidade nem sei que merda é esta que estou a escrever. A vida anda, a vida anda sim, mas nada tem a ver com bosques e rios e merdas felizes.
Por acaso até estou a ter merdas felizes. Encontro carteiras, estou com amigos horas ao sol, bebo vinho e penso na vida.
Como já se vê o fim de erasmus, a despedida.
Como a Aurélie fez uma tatuagem a dizer "Home is wherever I'm with you" e o "is" que ela tem é com a minha caligrafia. Alguém tatuou uma coisa com a minha caligrafia. Este Erasmus é uma loucura.
Aqui, com a a janela a aberta e os meus sapatos lindos fedorentos à janela, já com o frio a entrar, penso em como isto foi tão poderoso. Porra.
E AINDA NÃO acabou. Falta-me ir a Roma, a Pisa, a Bologna, falta-me ver monumentos, tirar fotos e viver uma história de amor em Milão. Mas talvez, e apesar de ainda ter tempo, é bom que fiquem histórias para viver, coisas por acontecer.
Não consigo pensar na vida depois de Erasmus. Em como Portugal só me parece um convento onde eventualmente vou secar como as páginas dum livro velho, em como tenho tanta coisa pendente, em como outra vez o mundo deu tantas voltas.
Não quero pensar. Vou viver.

E entretanto já tenho um voo marcado para Londres.
Pânico.

Uma palavra chamada Costanza

12 abril, 2012

Hoje é o primeiro dia de aulas do último trimestre italiano e depois de brincar, chorar e perder os óculos é altura de jogar o corpo ao trabalho.
Depois de duas aulas muito interessantes (de apresentação e já vi que vai ser super trabalhoso) fui para a biblioteca consultar um dos livros que tenho que ler para uma das cadeiras. E, depois de mais ou menos de duas horas e meia a ler, a perceber, a queimar as pestanas, parei. Estava cansado e achei que era melhor parar  - cada frase me parecia mais difícil que a anterior - e ir comer qualquer coisa e sair da faculdade. Chego ao sítio dos pobres que têm fome (a sala subterrânea das máquinas de comida) e numa das máquinas está um sumo e uma sandes presos, já comprados.
Analisei o problema e decidi comprar um dos sumos na mesma prateleira onde estava aquele circo empoleirado para ver se o tombava. Sem grandes efeitos. Agora tinha dois sumos presos e uma sandes num menage pouco saudável.
Comecei a bater com as mãos na máquina. Não se mexiam. Procurei dar diferentes toques, algumas mudanças. Comecei com os joelhos. A sandes começou a andar e a virar. Continuei. Usei o corpo, já me doía tudo.
E a sandes e os sumos caíram me aos pés, finalmente.
Chega um homem ao pé de mim. Ar de Senhor Doutor de Faculdade. Fatinho. Sapato engraxado. Com um sorriso.
- Conseguiu?
- Sim.
- Muito bem. Acabou de me lembrar um texto muito filosófico que se quiser depois lhe mostro chamado "Costanza"
(Força moral de quem não se deixa abater; perseverança, persistência, força de ânimo).

(...)
Digam-me o que que disserem, e não sei se isto é uma teoria parva pseudo filosófica, mas todos os dias há alguém com uma mensagem para nós e nessa mensagem, uma aprendizagem. Talvez as pessoas se encontrem todas por um motivo.
Talvez agora finalmente (e Deus sabe que tremo só de escrever isto) consiga fazer qualquer coisa da vida. Costanza. Costanza. Costanza.






Ontem.

Ontem, ao despedir-me das minhas amigas na Stazione Centrale di Milano, e ao ver os pobres infelizes que perderam o comboio por segundos, tive um pensamento.
Mesmo que as pessoas sejam como comboios (depois dum há sempre outro a seguir) cada comboio é invariavelmente diferente do outro, com novos desafios e o que foi já não volta. Talvez seja por isso que as despedidas sejam tão profundas - há uma parte de nós que se encerra ali.
Mas talvez seja demasiado cedo para escrever isto.

E voltei a sentir necessidade de escrever

01 abril, 2012

Mas não mais de dor, de sangue e de destruição.
Pelo menos não da minha, mas dos meus personagens.
Hoje, sinto-me bem.

A minha vida é uma montagem

24 março, 2012

Uma montagem muito parecida à vida real. Tenho maneirismos "próprios", amigos, saio, tiro fotografias. Tenho conversas sobre tudo e sobre o nada também. Escrevo como se não houvesse amanhã, tentando de alguma forma compensar a minha falta de amor próprio com palavras bonitas. Performance. O que visto, o que sinto, o que como, o olhar para mim. Aquilo que estou a escrever neste momento. Uma performance. 
E não for a performance quem sou eu?

e depois sinto-me ridículo de ter estas ideias ridículas
e volto ao mesmo.


Dimensões Algarve I

15 março, 2012

Parte 1
Ontem, depois de um dia feliz de existência - as coisas materiais sempre me ajudaram a combater o vazio dos sentimentos - deitado na cama, o barulho da rua recta lá fora, o ressonar do meu pai no quarto ao lado, e eu de olhos abertos na luz do candeeiro, o Mrs Dalloway aberto ao meu lado sem ser porém lido e encarei o meu armário por momentos.
E, do nada, com se eu próprio tivesse entrado numa dimensão nova de realidade, sangue jorrava do meu armário. Primeiro umas gotas, nem sangue era, era água que corria vermelha, que pintava o armário. E eu de olhos postos sem me mexer, eu e ali com a luz do candeeiro a bater-me no rosto. Não tremi, não me assustei. E mais sangue saía. O armário mexia agora violentamente, o sangue era quase como uma fonte a jorrar.
Nesse momento, as portas abrem-se e uma criatura pula do armário para cima de mim. Não houve tempo para falsos pensamentos sobre a vida ou sobre o que tinha feito. O monstro em cima de mim não teve dúvidas ou pena e começou a comer-me, a rasgar-me a pele, a furar-me os olhos. E eu sem fazer nada, caído na cama como cadáver antes de morto a ser devorado pelo monstro.
Nem uma lágrima me lembrei de deitar, embora tivesse pena de não ter fumado um último cigarro...

Parte 2
Passeava por Faro. Outra vez Faro, como sempre Faro. E andava a descer pela grande avenida do Liceu e passei por uma café.
"Pois. Ou então levo-a para o canil e eles matam-na. Mas isso era chato."
E pensei. Bolas, era bom que isso pudesse acontecer connosco, humanos. Ele está perdido na vida, não tem ninguém. Vou tentar arranjar solução mas posso sempre levá-lo ao canil e eles matam-no. Embora seja chato. Ter um sítio para ir quando se está perdido. Ter um lugar para acabar com as coisas quando as coisas já estão de sua maneira acabadas mas perpetua-se o respirar inútil e penoso. Ter uma solução, enfim uma resposta. Ter algo palpável, uma escapatória.
Fazer do corpo um retrato da alma.


As esperas pequenas

09 março, 2012

E dizia-me uma amiga, a vida é uma longa espera. Esperas por isto, esperas por aquilo. Esperas que aula comece para depois esperar que ela acabe, esperas pelo fim de semana e depois esperas por segunda feira. Esperas por ter alguém, esperas por ser alguém, esperas por ser pai. Esperas pela reforma. E depois, esperas para morrer. E no entanto são as esperas pequeninas no meio destas coisas que transformam as esperas grandes.

Esperei vir para Portugal. Agora aqui estou. De volta à origem, tão de volta à origem que tenho Estrelitas na cozinha e duas iogurtes meio bebidos no quarto - é isto para mim voltar a casa. Mas não é uma existência tão celestial como eu procurei pensar.

Dizia eu à minha amiga, que em Milão as coisas estavam mal porque eu andava ansioso com a carteira, havia pressão, o tempo não era muito bom e por isso é que eu sentia as coisas tristes - aliás por isso é que eu andava triste. Por isso é que era tudo difícil de encarar.
Em Lisboa, o mesmo sentimento comigo. O companheiro silencioso da caminhada antes gloriosa. Nada parece ter o mesmo brilho em Lisboa. Aliás, em lado nenhum encontro algum brilho.

A força que um dia tive que me ir embora, de enfrentar uma nova cidade, de enfrentar novas pessoas, de querer o melhor para mim esgotou-se. Não sei se deixei a felicidade de Lisboa guardada numa caixa em Sacavém, se deixei o amor por mim num maço de tabaco à janela, se deixei grandes amores no quarto ao lado. Mas a verdade é o que os deixei em algum lado.

E andamos assim em Março. Sem nada curado, com os medos todos, e continuando a esperar por qualquer coisa.

E depois de Veneza, os rios.

23 fevereiro, 2012

Os rios de lágrimas tomaram-me como refém. Sou prisioneiro duma depressão crónica, sou um doente mental. A vida passa por mim como facas no queijo, tenho cicatrizes na alma, o coração preto mal bate já. E quero escrever, escrever, escrever e não consigo. Nada do que digo ou faço faz algum sentido. Sou um homem perdido, sou um vagabundo, vivo a comer migalhas de algo que não existe.
O copo  que levo à boca é de cristal, mas o vinho que bebo é veneno. Por detrás de todos os meus sonhos, o inferno se intromete, o diabo manipula-me.
Será possível ser feliz? Será possível ser?
Será possível fazer sentido?
Perdido no sonho, encontrei o pesadelo. E ninguém me compreende, ninguém fala português. E nem eu falo já português. Sou memória viva de algo que já não respira. Sou uma sombra do que fui, a bem dizer...fui sempre sombra de mim mesmo. Fui sempre esta manta rota de aspirações.
Merda.
Só o fim me pode salvar agora.

Veneza

Haverá alguma cidade tão bela como Veneza? Tão histórica, tão romântica, tão cheia de felicidade por todo o lado? Haverá alguma cidade onde o amor se encontra em cada esquina?
As ruas de Veneza, os canais de Veneza...
Foram dias de glória.

Não é a queda que te mata.

05 fevereiro, 2012

A minha boca sabe a qualquer coisa. Tenho o espírito envenenado das noites que não durmo, as mãos tremem enquanto fumo mais um cigarro.
A loucura, a loucura, a loucura. Bicho doente, é isso que sou, um bicho doente e cansado. Não cá romantismos, para a merda com os intelectuais todos, com os filhos da puta que acham que sabem ler e escrever.
Ninguém sabe ler. Ninguém sabe escrever. Odeio profundamente qualquer um que ache que sabe fazer alguma coisa. Odeio profundamente quem sente que sabe alguma coisa, mas odeio ainda mais o sentimento de se achar que se sabe alguma coisa.
Odeio quem dá conselhos e não tem nódoas negras de ter lutado. Odeio quem come sem ter fome. Odeio que tem sede e nada para beber. Odeio tudo e todos e no fundo a pessoa que odeio mais é a que conheço menos.
O bicho doente e cansado.
Não é que eu odeie viver, não que é a vida não seja uma coisa até engraçadita. O problema é que eu não sei viver, não sei cantar, não sei escrever. Não sei porra nenhuma.
Olá tenho 19 anos. Olá, não tenho respostas nenhumas.

Preciso tanto de qualquer coisa. Dormir? Fumar?
Preciso que o meu espírito descanse. Preciso de voltar a escrever. Merda, preciso de escrever alguma coisa que faça sentido. Preciso de me voltar a possuir.
Preciso da ilusão dum dia de sol. Preciso de voltar a ver o desconhecido.
Preciso que o meu pai me ligue e me pergunte como estou. Preciso de meter a minha vida em ordem, preciso de arrumar o espírito.
Só quero voltar quando tiver o espírito arrumado.

De Profundis

01 fevereiro, 2012

No secundário, o meu professor de filosofia (uma das pessoas mais inteligentes que conheci na vida) aconselhou a leitura dum texto chamado "De Profundis" de Oscar Wilde. Não me lembro do porquê, não me lembro se deu detalhes, mas ficou o conselho. 
Procurei pela obra algum tempo e desisti. O mundo dos livros em português pode ser muito chatinho sem se conhecer as pessoas certas.
Não me esqueci mais das palavras dele porém e numa simples visita a uma pequena livraria aqui em Milão, encontrei um exemplar a três euros, esquecido no meio de outros nomes importantes da literatura inglesa. A versão original. Fiquei tão contente que nem pensei mais sobre outra coisa, tinha que o ter, tinha que o possuir.
A leitura revelou-se um desafio. Demorei quase dois meses a ler 140 páginas - o que não é definitivamente comum para mim. 
Hoje, no primeiro dia do mês de Fevereiro, acabei e sinto-me destruído. De Profundis acabou comigo duma maneira que só os grandes livres acabam. Tive vontade de chorar.
Uma carta sobre o amor, sobre a arte, sobre a imaginação e sobre a vida - isto tudo e muito mais. De Profundis é um portal para uma conversa íntima com Wilde (uma coisa só por si de valorizar) sobre o que vai no nosso íntimo. Encontrei-me nas linhas de Wilde muitas vezes e talvez seja esse reconhecimento que me tenha destruído.
Dizer que aconselho que é understatement - é uma leitura obrigatória para os meus amigos mais próximos.

E noutras notícias menos destrutivas, hoje nevou em Milão e tinha neve no cabelo, neve nos sapatos, neve no casaco. Uma coisa única. E senti-me melhor hoje que ontem embora o desespero esteja à espera em cada canto.

Janeiro és feio

30 janeiro, 2012

No primeiro dia do ano, estava eu em lágrimas no restaurante de sempre, com as pessoas de sempre a pensar no passado que já começa a estar cada vez mais longe e ainda assim consegue deixar cicatrizes. O resto dos dias passaram em loucura, em frenesim, em desorganização mental completa, as emoções a meterem os pés pelas mãos. Já não sabia o que sentia.
Entretanto vim para cá e em 10 dias, mais teste à minha força psicológica. Mais confusão. Mais do mesmo, mais desafio.
Janeiro: só te quero ver daqui a muito tempo. Só te quero ver quando tiver 20 anos, estiver no terceiro ano de faculdade e tiveres coisas bonitas para me mostrar. Foste horrível, foste assustador, foste mau, foste tudo. Agora vai-te embora depressa, não me envolvas mais no teu manto de horrores que Fevereiro tem boas surpresas para mim. Quero acreditar que sim.
Quero acreditar que as coisas estão melhores agora.
Ainda ontem estava a pensar que se calhar sou demasiado velho para estas merdas. Estas emoções descontroladas. Mas afinal, tenho 19 anos. E ter 19 anos acalma-me imenso. Acalma-me especialmente a ansiedade  dá me a única resposta que preciso: Não é preciso ter respostas agora. Não é preciso saber tudo. Quem sabe, talvez não seja preciso saber tudo nunca. Eu esqueço-me tanto disto, e repito que sou repetitivo muitas vezes. Mas estou a crescer. Sabe bem crescer.
Agora não perco sapatos, casacos. Agora não tenho que dar os meus brinquedos ou mudar de escola. Os desafios de crescer são outros, mas ainda assim sabe bem.
Tenho uma parte do cérebro ligada non-stop ao Algarve estranhamente. Ás pequenas coisas da vida. À minha casa na Armona que mais dia menos dia vai deixar de ser parte da minha realidade. Tenho uma parte do cérebro ligada ao meu pai, o homem da minha vida. Bolas.
 Como eu um dia gostava de dizer ao meu pai, olhos nos olhos e muito confiante "Amo-te. Foste tudo e mais do que eu podia esperar de alguém". É bom ter um pai assim. Não tive muitas coisas, mas entre as pérolas que guardo na minha caixa-de-jóias há umas quantas que têm um brilho diferente agora.
Uma palavra ainda para os que vão, os meus irmãos de armas de Erasmus que acabam aqui o que eu vou acabar daqui a uns meses. Uma vida não seria suficiente para vos conhecer quanto mais três meses. Mas vou sentir a vossa falta. Sinceramente e com todo o meu coração: Boa Sorte. Encontramo-nos um dia, noutro tempo, noutra era. Ou não, e isso é perfeitamente razoável por ainda assim tivemos isto. Este momento. Fomos um grupo. Não há nada que vença essa sensação.
Adeus Janeiro. Não deixas saudades.

E agora, já passou?

25 janeiro, 2012

Quando era pequeno e por algum motivo ficava triste e a minha mãe calhava em estar num bom dia, ia ter comigo e dizia-me palavras doces até passar. Se não passasse, ia me comprar doces, ia me comprar coca-cola e perguntava-me sempre: Já passou? Já passou?
E quando era pequeno, realmente era fácil as coisas passarem. Era menos complicado ser feliz, ou menos complicado decidir sê-lo.
És feliz com dias tristes ou triste com dias felizes? Só sei que neste momento não me apetece fazer nada, apetece-me estar aqui e afundar em mim mesmo, afundar-me em toda a porcaria, em toda a porcaria que se está a passar e não fazer nada, não mexer um músculo. Ficar aqui para todo o sempre a absorver toda esta miséria humana que sinto, ficar aqui e pensar vezes e vezes sem conta que a minha vida é uma mentira. Que tudo é uma mentira.
Porque continuo depressivo. Continuo no mesmo esquema emocional de há anos, a diferença é que estou mais forte, a diferença é que me distraio mas começo a achar a depressão uma parte de mim tão presente como os meus olhos, a minha boca. Um sinal, uma cicatriz que carrego. Sim, eu posso não a ver por uns tempos, mas ela está lá.
É nestes momentos que me pergunto se algum dia conseguirei ter 35 anos e responsabilidades. Uma casa para limpar, uma família para cuidar. Pergunto-me se algum dia serei capaz de lidar com as pequenas coisas? Com o dia-a-dia. Se serei capaz de lidar com o tempo. Como é que alguém consegue lidar com isso tudo?
Eu não me consigo ver velho. O Ricardo diz que morre aos 27 anos como todos os outros e eu às vezes pergunto-me se chego sequer aos 27. É este ano que fazemos todos 20 e a incapacidade de lidar com as coisas já se torna cada vez maior.
Bolas, devia ser proibido estar assim em Milão. Devia ser proibido perder a carteira. Devia ser proibido ter que lidar com estas coisas todas. Devia ser proibido...
E agora, já passou?
E a triste verdade é que não.

Uma longa série de desgraças

23 janeiro, 2012

Chegar, ter que outra vez meter as coisas em ordem, meter o coração em ordem já seria suficientemente desafiante não?
Aparentemente, não. Foi chegar, ter que enfrentar problemas com uma amiga, a perda da minha carteira, o absoluto e completo desinteresse nas aulas que tenho aqui e a sensação de estar sozinho, muito sozinho. Porque por um lado foi mau estar tanto tempo em Portugal. Foi demasiado tempo. Foi demasiada coisa e em a nenhum momento pensei: "Quero voltar desesperadamente para Milão".
A verdade é que bem ao contrário do que acontecia quando vinha de Lisboa (ou quando chegava a Lisboa em alguns fins de semana) a vontade de querer estar sempre exactamente do sítio que tinha voltado não aconteceu.
Mas enfim. Dei-me a mim próprio uns dias para recuperar e levantar a cabeça. Só alguns dias para estar deprimido, não fazer nada, não ver nada. Estar acordado toda a noite e dormir todo o dia (tão agressivamente que nem vi o sol). Ser um vampiro, ver se exorcisava os fantasmas.
Esperemos que tenham sido só resquícios de primeira semana. Sou super sensível para as pequenas coisas, os pequenos detalhes. Para a vidinha em sociedade.
Demasiado angustiado.

As Aventuras de Ulisses

14 janeiro, 2012

E, depois da primeira parte do filme, o intervalo para ir a casa-de-banho. 
Quase um mês de intervalo por Portugal, quase um mês de falar português, quase um mês para estar com amigos, quase um mês para voltar à minha outrora existência normal.
O Natal em família, os doces, as comidas, o adormecer no sofá na tarde de Natal e acordar para o Jantar. A primeira passagem de ano com amigos depois de tanto tempo, os risos pela madrugada fora, os beijos de ano novo, a piada "ainda não fiz chichi em 2012". As conversas, os sorrisos, as perguntas. 
E depois disso, o começar outra vez a despedir-me, outra vez a desejarem-me sorte para o futuro, outra vez o aperto de mão do meu pai que vale por mil abraços, outra vez as lágrimas presas nos olhos em cada abraço de despedida. 
Sempre as lágrimas presas nos olhos, enquanto o autocarro me leva do Algarve e chego a Lisboa. Sempre as lágrimas presas nos olhos enquanto o avião me leva de Lisboa e chego a Milão. 
Voltar. Chegar. Partir. Começar. Encontrar. O início? O fim?
Já não sei definições destas palavras. Já não sei o que é ter casa num sítio só. Já não sei o que é pertencer, sinto-me um marinheiro com amores em cada porto, amores que são todos diferentes e marcantes - todos eles a precisar de mais tempo, de mais cuidado, de mais dedicação, de mais presença.
No 6º ano li, como tantos outros, "As Aventuras de Ulisses" e o que mais me marcava na história era o facto de este homem estar tanto tempo longe e depois voltar. O ir embora e viver e depois voltar com todas as aventuras na mão. E perguntei-me tantas vezes como seria isso. Como seria de facto, ir viver aventuras e voltar 10 anos depois. Porque partir e mudar e ter aventuras nunca me pareceu uma hipótese real na minha vida.  Porque eu sabia que a coruja nunca visitaria a minha casa com uma carta. Eu sabia, ou pensava saber, que viver era o resistir da dor de nunca ter feito aventuras. Resignação.
Agora que fui embora - mesmo que não por 10 anos - o sentimento é claro. Mesmo depois de todas as sereias que vi em Milão, por todas as bruxas que venci, por todos as aventuras maravilhosas que vivi, o voltar foi (e é-lo sempre) lindo e destruidor ao mesmo tempo. E podia perder tempo a explicar este fenómeno da beleza e destruição do voltar, mas só quem viveu sabe como é. É inútil explicar a um coração pouco habituado a guerras, as cicatrizes do meu e de todos nós que temos esta coisa chamada "Erasmus" gravada no corpo. 
E enquanto isto tudo, nalgum sítio bem perto mas longe daqui, as lágrimas encontram finalmente a liberdade e novos capítulos da aventura começam a ser escritos.

Férias com Filmes X

06 janeiro, 2012



Les amours imaginaires (2010)

Xavier Dolan. Outra vez Xavier Dolan. A primeira vez que vi o seu primeiro filme, passei uma noite memorável e arrepiante, o filme "Eu matei a minha mãe" tinha-me dado pesadelos e pensamentos para uma vida. Entretanto todos me falavam deste, do seu segundo filme e mais novo bebé. Tinha curiosidade em ver o que poderia acontecer depois do primeiro, da explosão auto-biográfica que ele tinha montado.


Les amours imaginaires, Heartbeats, Amores Imaginários, como lhe quiserem chamar é um filme interessante. É difícil (pelo menos para mim) não me deixar apaixonar pelo estilo completamente admirável de Dolan. Como diz Marcelo Pereira:


"Les Amours Imaginaires dividiu, em estremados pólos, a opinião pública: de tirar o folêgo à juventude hipster (tão deleitada pelo charme de Dolan e tão inebriada pelos seus adereços estéticos) (...)" 


E talvez até o diga com alguma razão, mas a verdade é que realmente adorei o filme. A beleza dos adereços estéticos é talvez uma coisa da minha geração. O símbolo das coisas, aquilo que se pode tirar só de se parar o filme e fazer print screen. A roupa. O cabelo, os colares. Há qualquer magia em tudo isso que Dolan realiza com uma mestria impressionante. 

A história deste trio amoroso improvável, um Adónis, uma Audrey Hepburn e um James Dean - os últimos enrolados neste vício de querer alguém tão obsessivamente enquanto o primeiro brinca com os seus sentimentos como criança que é, sem se quer perceber o que está a acontecer. Isto tudo, acontecendo com uma banda sonora apetecível onde cada música faz sentido, com um movimento de câmera meio trapalhão às vezes e com momentos slow motion que são um deleite para os olhos.

Os momentos apontados como fracos pelos críticos, toda a imaturidade de Dolan (como se ser jovem fosse algo só de si de criticar) para mim faz parte duma esfera de estilo que já lhe marca. A falta de história para trás, a falta de explicações é notória. Mas ao contrário de muitos filmes, percebe-se que sim, há história, sim há momentos para trás mas cabe ao espectador entender e perceber isso. O que acontece através dos elementos decorativos tão profundamente ignorados pelo resto do mundo.

Dolan é provavelmente o Almodóvar francês desta geração, uma geração de vícios e de ilusões, uma geração marcada por histórias de encantar que ele compreende e sabe retratar. Digam-me o que me disseram é uma verdadeira lufada de ar fresco um filme como este. Aconselho vivamente.

Nota: O poster do filme está na nossa língua porque nunca o tinha visto assim apresentado e achei lindo (além de fazer sentido, as três partes do coração nunca se tocam ou apenas levemente)

Férias com filmes IX


One Day (2011)

Imaginem este cenário. Eu, no meu quarto pela madrugada de dia 31 de Dezembro de 2011. Com pipocas à frente, batatas e doses inacreditáveis de Coca Cola. Este filme a passar no meu computador.
Lembro-me sempre da minha amiga Carla a dizer que se tinha desgraçado a ver um filme romântico. E já experimentei isso mais vezes do que gostaria, mas One Day foi o ponto de desgraça total. Quase no fim já chorava rios e rios e rios com a história deste casal. Durante 20 anos e sempre no dia 15 de Julho (o meu aniversário) temos uma preview de como estão a ser as suas vidas.
É um filme lindo. Estava curiosíssimo com a performance de Anne Hathaway (que faz aqui o papel de sempre: a sonhadora que vai mudar o mundo - mas eu perdoou-a porque ela realmente sabe fazer bem esse papel) até porque neste filme há todo um sotaque britânico especial que é complicado de imitar (e nos vários momentos do filme é possível perceber que ela vai melhorando - e é minha teoria de que nas cenas de cabelo curto - talvez as que foram feitas em último lugar - o seu sotaque é mesmo impressionante. Enquanto que nas de cabelo comprido ainda se nota um leve fingimento.
De qualquer forma, é um filme com uma história romântica que tem uma beleza qualquer por retratar os anos 90 (que eu vivi mas que parece sempre diferente em filme).
Recomendo para outras almas desesperadamente românticas (como eu).

Férias com Filmes VIII

04 janeiro, 2012


Did you hear about the Morgans? (2009)

Um filme sem ponta por onde se possa pegar com algumas piadinhas engraçadas de Hugh Grant mas sem nenhum brilho, enredo ou surpresa. Um filme que desilude, um filme que não cria emoção com uma história sem graça. Sarah Jessica Parker a interpretar Carrie Bradshaw no campo. Tal e qual. Tenho imensa pena.
Um filme que não recomendo (nem que seja a única coisa para ver na televisão, total perda de tempo)

Férias com Filmes VII


Melancholia (2011)

Um filme para absorver lentamente nestes tempos estranhos. A história entrelaçada de duas irmãs entre o medo, a depressão, o mistério, a morte, o amor. A verdadeira realidade humana, a nossa essência mesmo nos Dias do Fim (e nos Dias de Ouro também). Não mudamos nós, mudam as circunstâncias? Um filme que levanta perguntas e que consegue ser belo.
Um nota para a cena de nudez de Kirsten Dunst que destrói a imagem de menina que se cria dela e que é crua e fatal por isso mesmo.
A ver!

2012 - The End

03 janeiro, 2012

Um novo ano chegou.
Apenas mais um passar dos dias, das noites e das horas. Basicamente uma mudança de números, de formalidades. O tempo esse, sei bem que não existe - e não existindo tem o poder supremo de controlar tudo e todos. É uma coisa engraçada esta a do tempo, das mudanças, das pequenas coisas que acontecem dia sim, dia sim. Não há um único dia na minha vida que tenha passado em branco - mas talvez por isso mesmo seja preciso apaga-los. Na orgia de pensamentos, emoções e acções há muita coisa que tem que se esquecer para se sobreviver ao tempo...se é que se pode sobreviver a uma coisa que não existe.
Não. Este ano não há listas, não há desejos. Sonhos ainda os há e bom sinal será se sempre os houver. Mas a patetice de mudar de vida só porque é dia um já não cola.
Ainda assim há a esperança que seja um ano bom, que seja um ano desafiante, que seja um ano que traga mais e melhor. Mesmo que pareça improvável.
Até porque, bem vistas as coisas não tenho tido um mau caminho, embora me acusem de não ter experiência de vida, embora me acusem de ser um sonhador, um romântico, um rapaz aluado. É preciso muita força para nos aguentarmos a nos próprios e vou caminhando e aguentando o que dizem de mim, o que pensam de mim, o que falam de mim. É a vida natural de quem escolhe ser amante de palavras, quem escolhe fazer arte com o pensamento e transformá-lo em algo organizado e palpável.
As escolhas que tenho feito na minha vida levaram a este particular momento de existência...A surpresa dos desenlaces da vida não deixa de me surpreender e apaixonar. Digam-me o que disserem, é maravilhoso viver. E agora sim, com aventuras para trás parece que já vivi. Estarei a entrar num grau superior de vida? Estarei finalmente a ser uma adulto? O que é isto de ter 19 anos?...
E os segundos passam no relógio da cozinha, fechando e abrindo momentos, oportunidades e vivências.

Bom 2012 Lya =)
(a minha maior fã)