E dizia-me uma amiga, a vida é uma longa espera. Esperas por isto, esperas por aquilo. Esperas que aula comece para depois esperar que ela acabe, esperas pelo fim de semana e depois esperas por segunda feira. Esperas por ter alguém, esperas por ser alguém, esperas por ser pai. Esperas pela reforma. E depois, esperas para morrer. E no entanto são as esperas pequeninas no meio destas coisas que transformam as esperas grandes.
Esperei vir para Portugal. Agora aqui estou. De volta à origem, tão de volta à origem que tenho Estrelitas na cozinha e duas iogurtes meio bebidos no quarto - é isto para mim voltar a casa. Mas não é uma existência tão celestial como eu procurei pensar.
Dizia eu à minha amiga, que em Milão as coisas estavam mal porque eu andava ansioso com a carteira, havia pressão, o tempo não era muito bom e por isso é que eu sentia as coisas tristes - aliás por isso é que eu andava triste. Por isso é que era tudo difícil de encarar.
Em Lisboa, o mesmo sentimento comigo. O companheiro silencioso da caminhada antes gloriosa. Nada parece ter o mesmo brilho em Lisboa. Aliás, em lado nenhum encontro algum brilho.
A força que um dia tive que me ir embora, de enfrentar uma nova cidade, de enfrentar novas pessoas, de querer o melhor para mim esgotou-se. Não sei se deixei a felicidade de Lisboa guardada numa caixa em Sacavém, se deixei o amor por mim num maço de tabaco à janela, se deixei grandes amores no quarto ao lado. Mas a verdade é o que os deixei em algum lado.
E andamos assim em Março. Sem nada curado, com os medos todos, e continuando a esperar por qualquer coisa.
Regresso
-
Começa assim,
com as minhas mil mortes e mais uma
entre chocolates e cravos caídos,
o fim de outro mundo perdido em tantos
sem tempo para prantos nem lembra...
Há 8 anos
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