Este sentimento outra vez? Deve ser uma doença portuguesa

26 dezembro, 2011

Depois deste curto período de tempo (ainda assim significativo) tinha-me esquecido de muitas coisas. Diga-se de passagem eu sou um perito a esquecer coisas. Só me lembro do bom, do estranho, do original. O mau apaga-se na mente, os detalhes perdem exactidão, as lições são escritas e tento decorá-las.
Mas, agora, voltando a casa há coisas que sabem ao mesmo. Há fotografias que ainda andam na minha carteira como maldições, como cruzes que carrego. Ainda há nomes que fazem o meu coração doer. Ainda há situações estranhas e potencialmente traumáticas como jantares de família de natal ou passagens de ano em casa.
Ainda há muita coisa do mesmo que volta do passado. Ainda amo quem prometi nunca amar, que jurei nunca ter amado. Ou pelo menos ainda ando tão embriagado nesse amor que ainda me destrói um bocadinho todos os dias. 
Não sei se algum dia saberei amar uma só pessoa, e se esse amor será algum dia produtivo e não destrutivo. Se algum dia serei menos adolescente a lidar com a relação beleza & personalidade & possibilidade. Será que algum de nós chega realmente a esse estado de sabedoria em que se sabe dividir e por cada coisa no seu lugar? Ou será que é sempre fome e vontade de comer?
Espero realmente em 2012 não ter que escrever mais sobre desilusões e dúvidas sobre o amor. Vou acabando com as palavras, vou cansando a alma e vou-me matando sempre que isso acontece.

Não sei, Não sei, Não sei.

Há de ser para sempre

24 dezembro, 2011

Eu de cigarro na mão, Marlboro Gold se ando rico, outra porcaria qualquer se ando pobre. A Maria com um sorriso de orelha a orelha, a Carla de cabelo vermelho e a Joana de mão dada com algum namorado. Nós ali em Faro, na baixa, num bar a ouvir um concerto. Há de ser para sempre. As histórias de secundário que ainda vivem em nós, agora como memória de qualquer coisa que passou mas que até foi boa.
Há de ser para sempre esta amizade, mais longe ou mais próxima que faz crescer as conversas, os risos. Sempre o mesmo estilo, o nosso. Uma cerveja aqui outra ali. A Mãe, a Rebelde, a Especial, o Promessa sempre ali. Sempre nós.
Já tinha saudades disto, caralho!

Férias com Filmes VI


The Help (2011)

Um filme que deu muito que falar este ano. Toda a santa gente elogiou o papel de Viola Davis que é de facto uma grande representação. O discurso oral, os gestos, as lágrimas de Viola enchem de emoção qualquer um, é um facto. Mas é também uma agradável surpresa de Emma Stone, num papel mais maduro (ainda assim com aquele papel-tipo que ela costuma fazer.
É um bom filme, sem dúvida. A representação da mulher negra naquele tempo, o retrato duma sociedade que duma maneira ou de outra ainda vê os negros como escravos, de meninas que são postas num mundo para casar. Digam o que disserem, achei que estava bem construído.
Mas, parece perder um pouco do espírito no fim. Após alguns momentos altamente emocionais, perdemos a noção de quem é a protagonista afinal - a história pertence a  Eugenia ou Abileen? Perdemos o foco. A vida de Skeeter acaba por ser pouco explicada. E apesar das representações brilhantes de Viola e Octavia Spencer acho injusto por de lado Emma Stone ou Bryce Howard (a jornalista e a racista).
Jessica Chastain tem um papel interessante como Celia Foote mas o grande problema deste filme é acabar por não ser profundo o suficiente e levantar dúvidas.
É ainda assim um filme interessante sobre um período social negro (em mais maneiras do que uma). A ver! 

Férias com Filmes V

22 dezembro, 2011

Coco Avant Chanel (2009)

Coco é uma das personagens incontornáveis da Moda. E digam o que disserem a Moda continua a ser uma coisa importante na vida de cada um, provocando maiores mudanças culturais do que aquelas que possamos imaginar à primeira vista. Assim trabalhar na moda é muitas vezes trabalhar com o mundo, inventar qualquer coisa nova, trazer mudança. Uma arte de valor demasiadas vezes ofuscada pela futilidade de alguns. 

De qualquer forma, andava para ver este filme há algum tempo. Audrey Tautou há de ser sempre Amélie ou Sophie e tem o encanto das mulheres francesas. Estava curioso para ver o seu papel aqui, numa personagem tão desafiante - sendo de um lado uma heroína nacional e por outro uma vilã.

Este filme é sobre o lado bom de Chanel. Sobre o lado da sua vontade de lutar, de marcar-se como diferente num mundo dominado por homens, de não se querer escravizar pelo amor e entrar em sonhos impossíveis. É um filme lindo, cenários lindos, roupas lindas, detalhes impecáveis. Tiro o meu chapéu. Todo o jogo de cores e de luzes foi perfeitamente executado (na minha modesta opinião).

De alguma forma ficamos a torcer por Gabrielle e aplaudimos o seu final (mesmo que depois disso ela tenha tomado um ou dois passos "menos Chanel"). Um filme a ver, pela roupa, pela história, pela mulher, pela actriz.

O telefone toca


Toca de seguida, amigos de sempre que telefonam para me perguntar como estou, para saber se estou bem, que histórias tenho para contar, telefonam para gozarmos e rirmos um bocado que as chamadas grátis afinal até fizeram falta. O Facebook dá notificação de mensagem atrás de mensagem. 

"Que tal de regresso? Que tal de Lisboa, Que tal de Algarve?"


E eu sem saber o que dizer. Não tenho em mim para escrever o que sinto e mal consigo falar. O primeiro dia em Lisboa foi frio. Não que estivesse assim tanto frio, mau tempo e temperaturas quase no zero já são o prato do dia para mim, mas foi fria a recepção. É um país mudado. É uma cidade que dantes me parecia um paraíso dourado e agora parece negra. As ruas estão vazias, o povo está triste, as histórias que oiço no autocarro já não me fazem sorrir e há por todo o lado a sensação de mudança, de diferença. A culpa será minha ou de Lisboa? Eu sempre soube que Lisboa não perdoa quem não está.

Mesmo os meus amigos me parecem diferentes. Os abraços são iguais, o amor é igual. Fazemos os mesmos sorrisos inocentes para as máquinas fotográficas, mas em quase 3 meses a vida avançou. Temos agora percursos distintos, histórias diferentes para contar, estamos diferentes mas a amizade parece que ficou no Verão e esse choque de actualidade sente-se enquanto bebemos café e temos as nossas tertúlias de aventuras e mal dizer. 

Vou para o Algarve ainda pouco recuperado da cidade nova que é Lisboa e chego a um Algarve sempre perdido no tempo. Aqui as coisas continuam iguais, exactamente iguais porque há muito que o dinheiro foge por entre as cartas que chegam no correio, por entre os sacos de compras lá de casa. E por qualquer motivo sinto-me perdido num país que já não me parece o meu, numa cidade que não parece minha.

Talvez tenha entrado demasiado bem no espírito Erasmus, talvez tenha gostado de mais, talvez devesse ter posto limites. Habituei-me a uma realidade muito diferente. Tanto que quando um amigo me perguntou se estava a gostar de Milão respondi sem pensar "Sabe bem estar na Europa". Habituei-me a uma nova Europa de cores, de vida, de "Aperitivo" e jantar na "L'Aragosta Innamorata" às sete e meia, todos os dias. Habituei-me a ouvir italiano nas ruas e ler o "Corriere della Sera" de manhã. 

Perdido na translação dos fusos horários, das histórias novas, dos sentimentos velhos, é difícil dizer como me sinto. Por um lado o caminho nem vai ainda metade feito e há já tanto de novo em mim, tanta novidade, tanta alegria. E já há também consequências. O choque de voltar para aqui, de estar outra vez no meu quarto e ver filmes até às quatro da manhã (e desta vez sem o roncar do meu companheiro de quarto!).

Que futuro para mim? O caminho de Erasmus ainda por percorrer, aventuras ainda para serem vividas...O sentimento que o meu País, a minha Pátria morre a cada segundo - e com ele o meu futuro - dá que pensar. No meio da felicidade, da ansiedade e do medo pelo futuro eu e os meus pés, à procura dum caminho. 

O Erasmus já me mudou a vida. O que vem a seguir?

Férias com Filmes IV

21 dezembro, 2011

  Bridesmaids (2011)

Foi uma das surpresas do ano na bilheteira. Ao que parece fez uma carrada de chefões de Hollywood bem felizes. Um bocadinho de "Hangover", um bocadinho de "Bride Wars" e voilá, Bridesmaids está completo.
Talvez se estivesse numa sala de cinema com pipocas e amigos, se estivesse no meu dia e tudo corresse bem, ainda me tinha rido bastante. Há toda uma quantidade de cenas ridículas, hilariantes e giras de se ver. A história de uma mulher recém desempregada, recém solteira, recém fracassada que tem que organizar a festa de casamento com a amiga recém comprometida, recém feliz, recém encaminhada para a fortuna dá origem a qualquer coisa no mínimo caricata.
Mas, falta magia ao filme, falta um bocadinho de acção, falta um bocadinho de comédia? Não sei. É um filme que terei que ver outra vez mas que não me fez rir desalmadamente (como "Hangover" - pelo menos o primeiro capítulo) ou que me fez ficar de coração mole (como "Bride Wars"). Não foi definitivamente o meu filme embora consiga ver que está bem feito e que provavelmente é um filme engraçado de ser ver antes do casamento. De resto...

Férias com Filmes III



Crazy Stupid Love (2011)
Julianne Moore e Emma Stone fazem parte da minha lista de actrizes favoritas que duma maneira ou de outra me cativaram. Steve Carell há de ser engraçado até morrer e é bom ver Kevin Bacon a representar uma pessoa normal e não outro qualquer psicopata. Estava curioso em relação a este filme e ainda mais depois da nomeação para os Globos.
A verdade é que é um filme típico, muito típico, cheio de cenas típicas. Emma Stone, eu adoro-te mas para de fazer filmes em que és super inocente e no meio do caminho decides ser devassa. Julianne Moore, pelo amor de deus, quero-te ver a fazer um filme como "As Horas" outra vez. Ryan Gosling ter músculos dá fama realmente. Steve Carell poderias fazer o  favor de me surpreender?
Pondo todos estes aspectos de lado, a verdade é que é um Feel Good movie que não chateia nem aborrece, que mantém entretido e que ainda dá direito a uma ou outra surpresa e uma gargalhada aqui e ali. O guião não é brilhante mas é criativo, diga-se de passagem e consegue duma maneira ou de outra dar profundidade às personagens. No fim gostei da mensagem gira - um tanto ou quanto previsível, mas ainda gira - e até vale a pena ver, talvez em grupo com amigos, pipocas e corações moles.

Férias com Filmes II

20 dezembro, 2011


Andava para ver este filme desde Março, altura em que vi o trailer. Christopher Plummer há de ser sempre o eterno Capitão Von Trapp e Ewan McGregor é nome mais que conhecido no Cinema. Achei o conceito de pai que se revela homossexual depois da morte da mulher com quem estava casado há anos interessante e a relação com o filho. Mas é um filme que acaba por não ter uma abordagem fixa num ponto da história, mas sim  todo um conjunto de temas que nunca são explorados e ficam pela raiz. O estilo do filme, as cenas, os desenhos do personagem são interessantes. Não é, de todo, um filme de cinema fácil de mastigar. Mas acaba por ser um filme que não cria paixão. Ao contrário do que pensava a minha vida não mudou depois de o ver. Se bem que o papel de Mélanie Laurent é simplesmente brilhante e é de facto uma mulher linda (Francesas, orgulhem-se!).
Um filme a ver um pouco mais pela sua beleza que pelo seu conteúdo, embora com um guião extremamente interessante.

Férias com Filmes

La Piel Que Habito (2011)

Sou um fã eterno dos filmes de Almodóvar. A verdade é que a representação do universo feminino, da personalidade da mulher, o estilo, a fotografia, o conceito é sempre genial. Sem falar que fá gozo ouvir espanhol, dá gozo ouvir música espanhola e ver o guarda-roupa. É sempre tudo preparado até ao mais pequeno detalhe.
Estava curioso com este, até porque é o regresso de Banderas aos filmes de Almodóvar. As minhas expectativas eram mais que muitas. E na verdade é um filme interessante, que mistura as loucuras de vários personagens (como de costume) numa história interessante e complexa. Mas, deixa a desejar. Não tem a magia de outros filmes do realizador nem consegue captar tanto a atenção. O estilo está lá mas parece nunca atingir o seu auge. Um filme a ver porque continua a ser interessante, embora sendo do realizador que é, poderia ser bem melhor. 

Decisions, Decisions, Decisions

07 dezembro, 2011

The last couple of days have been strange. I dont actually know what Im feeling. everything seems good in the outside, I am totally happy with my friends, living in Milan is a pretty amazing thing and yet I cant shake of this feeling of dissapointment. I feel like for most of my life Ive been failing things, my drivers license, the stupid economic classes, school in general. I feel such a failure all the time, I dont want do to stuff, I dont want to work, I dont even want to write. I keep whining about everything, I keep letting myself down.
Well, off now.
To somewhere.
I dont even know what I want

Novembro - A arte de viver e não escrever

27 novembro, 2011

'8 semanas'
Diz-me a Kerri. Estamos todos aqui há mais ou menos oito semanas. Oito semanas em Milano, em Itália, fora de casa, num mundo novo. Sozinhos talvez. Pobres, no meu caso, com dinheiro para pagar a renda e pouco mais. Mais ou menos felizes.
8 semanas. Parece-me um ano. Portugal está lá longe e todos os problemas estão afundados nessa distância. A casa de Sacavém, as memórias, a minha mãe. Hoje desliguei o telefone, ela anda louca outra vez. Mas desligo o telefone. Já sou capaz de simplesmente desligar o telefone. Raios partam o resto.
De qualquer forma, parece-me egoísta não andar a escrever nada, andar a ignorar o meu espaço aqui, o meu espaço tão fiel durante tanto tempo.
A verdade é que ando a tentar dominar a arte de viver. A arte de sair, de conhecer, de ser um turista, de ser interessado.
Os dias correm. Nem todos são bons, nem todos os dias tenho orgulho de mim, nem todos os dias acho que fiz a coisa certa. Mas viver também é aprender a aceitar esses pedaços de mau momento, essas más decisões.
Mudei muita coisa em mim. Perdi o apetite de comer por exemplo. Longe vão os dias em que comia que nem um animal a tentar acalmar uma fome de alma.
Agora fumo, fumo e fumo e fumo muito mais do que alguma vez fumei. Agora vivo, agora...sou novo.
Parece-me um ano, porra, 8 semanas e parece que já me aconteceu de tudo.
E a vontade de voltar a Portugal e ser apreciado como uma fénix renascida das cinzas nasce. Tenho saudades dos meus amigos, dos meus parentes, da minha casa na Armona, mas quero tanto exibir-me. Exibir a tatuagem que trago na alma de ter vivido estes dois meses em Itália, de exibir as minhas histórias, de me exibir. De erguer bem alto a minha cabeça para todos aqueles que um dia não acreditaram.
Não é um bom sentimento bem sei. Não é algo muito nobre, muito bom, mas começo a aceitar as minhas imperfeições e a tentar viver com elas. Vou me exibir um bocadinho, chegou a altura de eu ser Rei do meu próprio baile.

I'm Fuuuuuuuuuuuuuuuuuuucked.

05 novembro, 2011

Dinheiro. Dinheiro. Dinheiro.
Sinto-me gerente de um banco na bancarrota. Montes de contas, montes de pessoas a pedir dinheiro e nada. Pobre em Milão. Pelo menos sou fashion.
Deus queira que a querida Caixa Geral de Depósitos se despache a tratar do meu empréstimo de estudante. Bolas. Já estamos em Novembro. Pensar que me tinham dito que em Setembro as coisas já estariam prontas. MERDA PARA OS BANCOS PORTUGUESES. A sério.
Bem, entretanto, quem é que me quer mandar umas latas de sardinha?

Antes que Outubro acabe, novidades.

29 outubro, 2011

E já estamos no fim de Outubro. Vivo em Milão há mais de um mês e as novidades ainda surgem todos os dias, as aventuras não se repetem e as conversas nunca são as mesmas. É um circo infinito e a surpreender a cada novo número, sou público e palhaço e por agora, está tudo bem.
Eu sinto-me em casa muito facilmente, é uma característica minha. Assim, enquanto estou aqui, na sala de Estudo da Residência, o sol triste de Milão cumprimenta os papéis espalhados das aulas de italiano em cima da mesa, é estranho pensar no antes. Estranho pensar em Sacavém, nos dias de calma no Escritório, nos dias de cigarros com a Joana Frederico, nos dias de chuva, nos dias de autocarros intermináveis. O que não significa que não tenha saudades.
Mas, parece-me que a minha vida neste momento tinha mesmo que ser aqui. Neste lugar, com estas pessoas, mesmo com estes problemas. Nem tudo é sempre bom.
Esta semana foi terrível. O empréstimo de estudante parece não chegar nunca, o pagamento da residência foi adiado até mais não e o meu pai lá conseguiu enviar-me os 300 euros no dia limite. Ainda não sei como vai ser, tendo em conta que já tinha recebido um papel, ainda não falei com ninguém. Pelo menos paguei pronto. Pode ser que corra tudo bem.
A seriedade das aulas finalmente apanhou-me. Falar em italiano não tem sido uma coisa fácil, todos os dias há uma evolução, uma nova palavra mas parece tão pouco, tão mísero. Ainda não consigo ter uma conversa normal em italiano embora normalmente perceba o que me querem dizer. Ando a falar quatro línguas ao mesmo tempo na maior parte das vezes. Italiano, Espanhol, Português e Inglês misturam-se na minha boca e na minha mente. Desconfio se continuar assim vou ficar sem saber falar de todo. Tenho paura (medo) dos exames, das aulas, dos testes, das coisas. Mas mesmo assim, sabe bem estar aqui. Sabe bem andar por estas ruas, sabe bem saber que estou em Itália.
Porque um dia, há pouco tempo atrás parece, tive 16 anos e queria morrer. Morrer porque a vida era sempre a mesma, as pessoas eram sempre as mesmas, as novidades eram sempre as mesmas. O meu quarto branco de 4 paredes parecia cair em cima de mim tal como todo o resto do mundo. Queria tanto viajar, queria tanto sair, queria tanto ver o mundo para além da minha casa, das minhas coisas. E valeu a pena ficar. Valeu a pena ficar para viver isto,ver isto, conhecer estas pessoas.
Pelo menos há isto, pelo menos ainda há este prazer de viver e sinto-me abençoado. O resto correrá como tem que correr. Só posso esperar que bem. Os problemas que aparecerem enfrento-os, penso em alternativas, opto por caminhos, discuto com alguém, pelo ajuda. O desespero já não conhece o meu nome, pelo menos na maior parte das vezes.
Entretanto, noutros níveis a vida deu uma volta engraçada. Não é amor, nem tem nada a ver com sentimentos, é uma outra coisa que tem sido um peso no meu coração e na minha vida há tantos anos que por agora, não quero falar. Tornou-se uma nova obsessão, não é saudável, não me está a fazer muito bem, mas também me sinto feliz por isso. Saber que consigo. Saber que poderei a vir impressionar aqueles que sempre tinham achado que eu ficaria o mesmo...Mais sobre isto noutro dia, tenho que ir estudar italiano, tenho que fazer isto e aquilo e não me apetece falar mais. Hoje há Teatro, Feira e Crepes com os franceses ( o casal mais cinema francês que eu já vi ). Hoje há vida. E agradeço por isso.

Milano Sonhando

14 outubro, 2011

Os últimos dias, ou melhor, desde que estou aqui, parece que me cerca este véu de absurdo, de sonho, de mágico. Nada é realmente importante, nada é realmente sério. Os dias correm uns atrás dos outros, depressa. Cada um, trás no seio um sonho novo, uma aventura nova, um novo vício. É difícil recordar Lisboa, quando mais o Algarve. Dizer que a minha vida mudou outra vez é um understatement. Dei tantas voltas que o mais certo é a acabar a vomitar numa esquina qualquer.

Mas, realmente falta qualquer coisa. Para além de dinheiro, como é óbvio. Faltam-me os meus amigos, os lugares que conheço, a sensação de estar em casa. Sempre, mais ou menos a esta hora da noite, surge-me no coração a lembrança, a saudade, a vontade de os voltar a ver a todos. Começámos mesmo agora a seguir caminhos diferentes, nem foi há um mês e já noto as pequenas diferenças, as piadas que eu não conheço, as aventuras que eu não participei.

O mundo avançou. Outra vez. Tal como tinha avançado há um ano atrás. Tal como tinha sido. O sentimento porém, não é o mesmo. Pelo menos, agora que escrevo isto me apercebo que não é o mesmo. Definitivamente, no ano passado as coisas eram diferentes porque eu sentia mágoa, solidão, talvez até raiva de quem eu sentia que me tinha abandonado. Agora, é mais o doce sabor da memória, do bom tempo passado. Porque houve momentos bons. Houve sim senhor.

Tudo preparação para Milão, acho eu. Era impossível estar aqui como estou hoje sem as aulas de espanhol, sem a Ruta Ibérica (porque a maior parte dos meus conhecidos é espanhol), era impossível estar aqui hoje sem Lisboa e a prática de sair à noite, beber, conviver. Era impossível estar aqui hoje sem aqueles brutos anos de secundário, de 3º ciclo de escrever com x's e com z's. Tudo o que fiz até agora levou-me aqui. E isso era um sentimento que também sentia em Lisboa.

Toda esta promessa da vida a ser cumprida, todas estas aventuras fantásticas, finalmente a acontecerem quase que me sabe a sorte a mais. Quase que tenho medo, quase que me assusto com a possibilidade de estes serem de facto os melhores anos da minha vida. Não. Digam-me que há mais para viver. Há com certeza mais Itália, isso é um facto. E mais outros tantos locais mágicos que quero conhecer. Há ainda o sonho de Nova Iorque, cada vez mais fundo, cada vez mais instável porque agora que peguei nas rédeas do sonho é que vejo o quão difícil será. 

E quero continuar a viver. Preciso de desesperadamente acreditar que vou continuar a viver. Mesmo que em Lisboa, mesmo que sem Nova Iorque, mesmo que sem livro. Aventuras. Vida, novas pessoas. Será isto a maldição erasmus? O pavor de ficar demasiado tempo num sítio? É uma vida de conquista e de perda. Todos os anos a cultivar um coração, todos os anos a abandoná-lo. Será que me habituava? A ter o coração cheio de saudades a todo o momento, a pensar neste ou naquele sítio com aquela ou outra pessoa? A ter flashbacks do passado, como numa série teen? 

Sim. Sim, isso implicar ao menos ter histórias para contar, histórias para viver, sítios para conhecer. Coisas que encontrar. Pessoas. Amigos novos. Escrevinhar novos romances na minha cabeça, pensar em novos e melhores sonhos. Mesmo que isso implique aquela lágrima que insiste em saltar dos meus olhos, quando vejo aquela foto. Mesmo que isso implique esta dor no coração de ver um amigo triste e não poder estar lá.

Ontem, andava a ler o meu nanowrimo. Assim pela madrugada fora, como estou hoje. E ao ler aquelas linhas, lembrei-me de tanta coisa. Tinha esquecido de tanto, sinceramente. Dos primeiros tempos bons da casa, da Joana na casa, das nossas conversas. Porra. Evolução. Muita evolução.

Crescer. É assustador o que um ano e um bilhete de avião fazem a uma pessoa. E agora, Novembro surge outra vez e numa maneira, estou no mesmo ponto que estava. Estou num novo sítio, a conhecer pessoas, a falar com gente, a viver os primeiros tempos de casa, de faculdade, de experiências. Estou a aprender uma linguagem nova. Mas a viver isso em certa forma duma maneira diferente. Porque já vivi. Tenho calos de aprender certas coisas. Não é na realidade uma segunda oportunidade de refazer o passado. O passado, passado está (perdoem-me a redundância) e não estão aqui as pessoas que estavam em Sacavém. Não está aqui o Kiwi, não está aqui o que era nosso. É só uma segunda experiência.

Ainda não sei para onde vou e isso é certo. Lembro-me de por estar altura estar tão confiante com algumas coisas que caíram logo depois de Novembro, do Natal e da distância. Lembro de como Fevereiro mudou a minha vida. De como daí até ao Verão é que realmente já tinha qualquer coisa de diferente. Por isso, por um lado ler o nanowrimo ajudou-me a perceber o quão as coisas ainda vão mudar e evoluir. E isso é uma coisa boa, eu acho. Começava a ter aquela sensação que já tinha vivido tanta coisa que Milão não me poderia oferecer mais. Que ia ficar viciado em novidade...

Enfim. Um longo testamento sobre Milão às duas da manhã dá sempre origem a problemas pseudo filosóficos. Eu disse pseudo, não atirem pedras!




10 dias depois

29 setembro, 2011

É estranho agora escrever aqui, escrever sobre Milão. Falar sobre o sonho cumprido. Têm sido dias grandes, todos grandes, sempre grandes, sempre cheios de coisas. Por um lado, lembro sempre de Lisboa e das minhas tardes pela Avenida da Liberdade, Baixa e Chiado como ritual sagrado de vivência. 

Já começo a ter saudades, todos os dias, de tudo e de todos. É complicado, principalmente porque não passou muito tempo, mas eu sei que vai passar. Eu sei que os dias se vão transformar em semanas, que as semanas se vão transformar em meses. E a vida não pára para ninguém. Por um lado, adoro a minha nova existência aqui, tão leve, tão cheia de surpresas, tão completamente diferente. Por outro, mata-me o facto de estar a perder tudo, as novas histórias, as novas piadas, os novos romances. Parece impossível por agora, mas eu sei que naturalmente vou perder muitas coisas. E isso mata-me. Nunca tinha pensado nisso, no quanto vou perder dos meus amigos. Aliás tinha pensado, mas não sabia que era possível custar tanto.

Milão é uma cidade linda. Os edifícios são lindos. Andar pela cidade é uma coisa bonita, as coisas estão arranjadas, há qualquer coisa gira para ver em qualquer lado que se olhe. É uma cidade com história, mais clássica que moderna, mas que não deixa de ter todos os confortos de uma cidade cosmopolita. A Moda é realmente qualquer coisa interessante, tenho visto pessoas lindas, com estilos lindos, lojas lindas com coisas lindas e pena, pena é não andar com 40 000 euros no bolso.

Sim, porque é uma cidade cara. Bem cara. Bem mais cara que Lisboa. Em tudo. Nas compras, na comida, nos transportes, nos cigarros. Sair à noite é uma coisa interessante, pedem-nos 250 euros para uma mesa por algumas horas, ou fazem-nos esperar numa fila enquanto deixam as senhoras de malas Chanel e os rapazes com camisas bonitas da Ralph Lauren entrar primeiro. Um cocktail é mesmo 10 euros. Um Martini é considerado Cocktail. Tudo é um cocktail menos uma cerveja. Tudo caríssimo, tudo cheio de estilo.

Ter amigos aqui? É uma coisa estranha. Tenho um grupo porreiro na minha residência, um grupo de espanhóis com pessoas muito interessantes, muito felizes, muito cheias de festa. Mas é impossível não me sentir distante da cultura deles, e fazem-me falta rapazes que como eu, não vivam para o futebol e para o desporto. Faz me conversar sobre música, cultura, filmes, moda. Faz me falta aquele ritmo que eu tinha como meu pessoal português. Mas pelo menos, sinto-me integrado, falo e converso e pode não ser muito, pode não ser profundo, mas pelo menos não estou sozinho.

O meu quarto é uma coisa linda. Duas janelas até ao tecto grandes, uma secretária, uma mesa de cabeceira, tudo bonito, tudo super confortável. A casa de banho tem um padrão xadrez e é aquecida o que eu acho uma coisa fenomenal. Gosto imenso de ver as pessoas no prédio em frente. 

Está tudo a correr bem, mas continuo a querer mais, a desejar mais.
 Este erasmus só começou agora...

Aos 19 anos, dia 19 de Setembro às 19 horas

19 setembro, 2011

Vou-me embora.
E a ansiedade mata...
Amanhã por esta hora, Milão é a minha casa.

Clube das Barbies (?)

14 setembro, 2011

E fui, de autocarro, com o coração nas mãos. Não percebo, agora, o porquê mas naquela hora era como se fosse visitar uma memória, uma memória quase que perdida, obscura, um ideal de coisa que já nada tem a ver com a coisa em si mesma mas ao qual me agarrei durante tanto tempo como faço com tudo. Parecia quase que um jogo, um ambiente desconhecido, pessoas estranhas, passos dados em busca de algo longínquo, a expectativa a sugar-me a concentração.
"é por ali, mais adiante" "Ao pé da igreja" "está quase lá é mesmo já aqui".
Cheguei e fiquei por ali, sem saber se entrava ou esperava mas destino deu-me uma pequena ajuda como sempre e empurrou-me para frente.
Vi-o primeiro a ele. Se só olhar para ele, o tempo não passou - as roupas é que se actualizaram e ainda vamos almoçar ali na cantina e o Pimenta ainda é o Inimigo Público 1 e vamos
chorar de rir enquanto vamos para a baixa.
Mas quando olho para nós, para o ambiente, para a vida e para as pessoas... entendo que sim, tudo mudou e há passos irrecuperáveis, histórias que não voltam para trás e mundos que se perderam.
Depois olhei para ele. Era o fim, a despedida, o sorriso de uma tarefa bem feita. O choque do real não bateu, aliás naquela hora senti-me mais seguro e confiante. Mas
ainda assim, era estranho.
O apresentar, o falar, o conviver, estar ali com eles e pensar que mudei, mudaste,
mudámos e que a vida avançou.
(...)
E se eu tivesse ficado cá?
E se neste momento, fosse velho conhecido e não tivesse vícios de Lisboa,
não conhecesse aquela, a outra, o fulano de tal?
Como seria a vida aqui neste sítio sem mudanças,
ou pelo menos sem grandes acontecimentos e com o mesmo sabor
a nada?
O que seria eu hoje sem Lisboa?
E se estudasse contigo? E se tivéssemos a mesma vida de antes
sem alguns personagens?
Havíamos de rir do mesmo e discutir pelo mesmo, bem sei.
E quando o tivesses conhecido, eu teria acompanhado tudo...
(...)
As aventuras acabam sempre nos transportes públicos, claro está.
Pelo menos ainda guardamos esse traço de adolescência, de juventude,
não temos a pomposidade de um carro novo nosso e somos escravos
de horários, de bilhetes com fita-cola, de "Picas" zangados
e dos lugares que sobram.
No fim foi agradável ver que muita coisa pode ter mudado,
melhorado e desenvolvido, mas o nosso espírito é o mesmo.
Acabei por chegar à conclusão que foste das pessoas que mais me deu na vida,
ensinaste-me a não t(r)emer,
ensinaste-me a gostar de ser único,
ensinaste-me a cultivar a coragem,
ensinaste-me a defender-me,
(mesmo que ás vezes até fosse de ti)
ensinaste-me a andar como se fosse o rei do mundo
(e a dizer gtfo).
Obrigado por tudo, Sê feliz.
Mereces bitch.




Como é que isto continua a fazer tanto sentido? Escrevi isto há alguns meses atrás e encontrei agora. O sentimento continua aqui. Obrigado Perpétuo. 


Os últimos dias

O meu quarto de pantanas, com a mala vermelha aberta no chão, três mil papéis desmaiados por todo o lado qual rosas murchas. Uma sensação de partida. Um adeus próximo. O vento que me bate no corpo do ventilador e Clair de Lune a fazer-me chorar.
Sim, vou-me embora. O meu quarto de tantos anos, as minhas coisas de tantos anos parecem já sentir a minha falta. Deixo esta casa e e este país, mas não iguais a como os encontrei. Tantas lágrimas derramadas aqui, tantos suspiros e amores, tantos sonhos, meu deus. Tantos sonhos.
Setembro chegou e estou outra vez de partida. Vou à conquista de um lugar novo, de pessoas novas, aventuras e memórias. Vou em busca de um álbum de fotografias lindas. Vou em busca talvez de um amor, de uma aventura em Milão. Vou em busca de algo que me faça renascer. Sou uma fénix doente e preciso de me incendiar e renascer das minhas cinzas, como sempre o fiz na realidade.
Dúvidas levo-as a todas no peito carregadas de medo.
Lembranças também. As pessoas, as minhas pessoas, levo-as cravadas na pele, no sangue, por todo o meu corpo como uma marca que não sai.
Resta-me só pedir um bocado de sorte e uns trocos para um ou dois copos.

Dias destes quem os quer?

10 setembro, 2011

Pressão.
Sufoco. 
Dias muito bons que vêm dar a uns muito maus.
A vida não é fácil. Não sei o que fazer aos quilos de coisas que ainda guardo em Sacavém. Não sei o que fazer aos quilos de memórias. Não sei o que pensar. Para Milão está tudo certo. A passagem, a estadia, as coisas da faculdade. Mas em Portugal ainda há coisas pendentes. A vida não é fácil.
Tenho que tratar do crédito ainda. Isso vai ser a loucura. Não faço a menor ideia se o banco no algarve vai saber o que fazer, visto que por lá Erasmus ainda é uma miragem. A minha máquina fotográfica que já tenho há  dois anos estragou-se hoje depois de longo tempo sem a usar. A vida não é fácil

O fim de coisa nenhuma

31 agosto, 2011

"(...) mares de trampa para apanhar um, dois peixes" - Jorge, Lídia. "Combateremos a Sombra", 2ª Edição, Dom Quixote, 2007.

O último dia de agosto acontece sereno. Sem se fazer notar. Não fosse o calendário seria um dia outonal perfeito. Faz um pouco de frio já. As roupas curtas parecem já meio ridículas. Os chinelos estão prontos a ser arrumados e esquecidos no armário. O verão vai embora e leva com ele "mares de trampa" que tive de navegar. Trampa daqui, trampa dali, trampa de ti e trampa dele, trampa de todos e trampa de ninguém.

Foi um verão de dor e de saudade, de incómodo com a vida bucólica que cheguei a pensar que era brilhante e perfeitamente citadina. A dor sempre está comigo como amiga maldosa de muitos anos que não conseguimos perder o contacto. A saudade é a penetra que espreita sempre por cada buraco que encontra. Tenho dor não sei de onde, tenho saudade de não sei o quê.

Vou-me embora. Vou-me embora. Vou-me embora.

E sinto-me doente, como se carregasse um cancro para o qual não há quimioterapia, porque não há como lutar. Sinto um bicho cá dentro, devorando as minhas emoções e o meu tempo, um bicho cá dentro com fome de mim, com fome de tudo o que tenho, um bicho que nunca dorme, um bicho que não me dá paz, um bicho tão presente como o ar que respiro e tão palpável como a minha barriga exagerada.

Descansar. O que é descansar?
Dormir. O que é dormir?

Apenas intervalos na trampa. Apenas meras interrupções do nada que não levam a nada nem trazem nada.

E mesmo assim, a minha dor não é solitária. O início de setembro trouxe para alguns a sombra do desemprego, da incerteza. Da obrigação de ficar aqui e não ir para Lisboa e esperar um ano para uma nova tentativa.

Estou melhor do que isso. Mas não estarei à mesma doente? Um bicho que devora, uma amiga maldosa acompanhada de outra e mares de trampa, mares de trampa para apanhar um, dois peixes.

Se calhar o problema é meu

29 agosto, 2011

Mas sinto-me desapontado com as minhas pessoas. Falámos de um verão que não era este, um verão em que íamos estar juntos, que íamos ter aventuras e estar juntos. Ilusões - Ilusões de quem está longe e que quer acreditar que ainda tem uma casa. Este sítio já não me pertence mesmo, aqui não consigo - e talvez nem queira ser feliz.
Estado de vagabundo constante tendo ou não casa. Sinto-me mais perdido que nunca, mas encontrei um pouco de mim no meu desencontro.
Levo para Milão quase a certeza de que a ilusão do "vamos estar juntos depois" não se concretiza - é só promessa piedosa.
Estou farto de quem não se esforça para estar comigo quando eu toda a vida ando a tentar. Mas eu não posso mais andar atrás de quem foge de mim. Estou cansado. Ninguém parece perceber que me vou mesmo embora e que me vai custar. Ninguém quer saber. Este Algarve mata-me todos os anos.

De qualquer forma, também pode ser que isto seja tudo criado por mim. Em todos os verões chega uma altura, em que eu já farto de tudo e todos, fico rabugento, parvo e em agonia por falta de acção. Mas que merda é esta de vida? Não estou a perceber a minha existência neste momento. Sinto-me sem propósito, a viver por vício e não por vontade. Sinto, talvez de uma forma meio egoísta que ninguém espera sentir a minha falta. Talvez eu não seja assim tão importante. Andei iludido, e a desilusão está me a matar. Ninguém pode vir, ninguém quer vir. É a maior merda. Sinto-me abandonado. Realmente abandonado por aqueles que amo.

Será que afinal a minha vida não mudou nada? Bolas, será que continuo o mesmo? É melhor nem pensar. Ainda pensei: Não, eles só podem estar a gozar. Eles vão me fazer uma surpresa e aparecem cá todos. Mas...não me cheira. Não me cheira que se organizassem tão bem para fazer isso. Não me cheira que eles sequer se importem. Não sei. Não quero parecer injusto, mas merda.

Talvez Milão me vá dar duas ou três coisinhas que sempre precisei, mas é bom eu estar ciente que eu não vou mudar por estar lá. Se calhar vou me sentir tão inútil ou gordo ou feio como de costume. E pensar que em Lisboa ainda gostei do meu corpo... Não sei.
Estou a precisar de voltar para um tipo qualquer de terapia. Tenho saudades das minhas sessões com a Paula e sinto que ando quase tão perdido como antes (...)
Se calhar é esta vivência com os meus pais que me mata.
Estou tão farto de tudo...

O senhor Alexandre

25 agosto, 2011

Não era um homem mau. Dava sempre comida aos pombos e aos gatos. Quando espirrava, limpava o nariz com lenços antigos mas muito finos que tinham sido da mulher. Era simpático e jogava na batota com os amigos enquanto bebia um copo. Lia o jornal todos os dias. Falava dos políticos com o Senhor Pedro que estava surdo mas que acenava sempre como se compreendesse todas as coisas do mundo. Quando ia ao mini-mercado elogiava sempre o cabelo da Dona Eulália, uma senhora gorduxa e vestida com um bata surrada.

De vez falava com o filho que estava nas Américas e era sempre simpático. O filho tinha ido novo e nunca mais tinha voltado e há alguns anos atrás tinha mandado uma fotografia do casamento e da primeira filha que o Senhor Alexandre nunca tinha conhecido mas que amava profundamente com todas as forças que tinha.

Mas tinha um problema. Sempre que alguém lhe perguntava indicações, respondia tudo errado. Mandava as pessoas rua acima quando era suposto descerem e mandava-as para a direita quando era suposto virarem à esquerda. Dizia sempre que o autocarro não parava na paragem que lhe perguntavam e chegava a inventar números de autocarros que não existiam. Dizia sempre tudo mal mas não era um mau homem.

Para ele, se as pessoas fossem sempre dar ao sítio certo da vida acabavam por perder a maior aventura de todas: viver. Cometer erros. Ficar para trás à espera de autocarros fantasma. Perder-se numa cidade estranha sem saber falar a língua. Para ele, errar algumas vezes era melhor que acertar sempre e "nos caminhos em que não é suposto andarmos é que acabamos por nos encontrar" dizia ele.

"Sorry. Onde é o Marquêsh de Pomball?
"Sempre em diante, sempre em diante. Não pare."

O destino é assim mesmo. Nem sempre nos leva para onde queremos mas acaba sempre por nos levar ao sítio certo. E continuava o seu caminho para ir jogar à batota com os amigos, beber um copo e falar como Senhor Pedro.

Verão Sem Sal III

O que me realmente anda a estragar o Verão é ver putos da minha idade com carro novo e carta, que tiraram tudo em 3 dias enquanto eu ainda ando por aqui a tentar acabar o código.
O que me realmente anda a estragar o Verão é ter que aguentar toda a gente a dizer "vais-te embora durante um ano" e ter que consolar toda a gente e apoiar toda a gente e dizer que vai ser rápido quando eu é que vou ficar lá sozinho à sorte, sem destino.
O que me realmente anda a estragar o Verão é ter aulas de italiano e sentir que não estou a avançar nem um bocadinho e que saio de Portugal a saber o mesmo.
O que me realmente anda a estragar o Verão é o meu pai estar constantemente a falar de dinheiro, viagens e empréstimos e nunca ouvir o que eu tenho para lhe dizer.
O que me realmente anda a estragar o Verão é a minha mãe e as suas manias de poupanças e de espíritos e maus destinos e más vidas.
O que me realmente anda a estragar o Verão é o meu pai nunca me ouvir.
O que me realmente anda a estragar o Verão é ter que tratar ainda de 50 coisas em relação à minha antiga morada e descobrir o que fazer a tudo o que é meu e como transportar todas essas coisas.
O que me realmente anda a estragar o Verão é pensar que o meu último tinha sido exactamente a mesma coisa mas que eu era mais jovem, menos consciente e pensava que tinha todo o tempo do mundo. Guess what, you don't.
O que me realmente anda a estragar o Verão é ter imensas pessoas interessantes à minha volta e sentir-me sozinho.
O que me realmente anda a estragar o Verão é ir para uma festa de despedida quando eu já me despedi de tudo aqui há imenso tempo.
O que me realmente anda a estragar o Verão é pensar como de raio vou ficar em lisboa no último fim de semana antes de me ir embora.
O que me realmente anda a estragar o Verão é pensar que não fiz metade do que queria, não perdi nem um kilo, não escrevi metade do livro que ando a pensar e de que gosto realmente, como não gostava há tempos.
O que me realmente anda a estragar o Verão é esta sensação de stress constante sobre pequenos nadas que doem como diria o meu amigo Fernandinho.
O que me realmente anda a estragar o Verão é não ter feito nenhuma viagem e ter ficado aqui o tempo todo a olhar para o nada.
O que me realmente anda a estragar o Verão é tudo, todos, esta cidade e a mais próxima e o facto de pensar que vou morrer de saudades de tudo isto e vou chorar como se não houvesse amanhã.
O que me realmente anda a estragar o Verão é pensar. Pensar nisto, naquele, naquela, no outro e no fulano tal.
PENSAR MATA.

Hoje pensei no tempo

22 agosto, 2011

E como anda sem parar. Estive com uma amiga da Pinheiro, uma que foi embora quando entrei no 12º ano. Não sei se alguma vez falei dela aqui. Ela foi a minha primeira amizade na secundária. Era gira, com um aspecto alternativo e conhecia Everwood e, tal como eu, adorava.
Foi ela que me levou para o Clube de Astronomia, um espaço para pessoas diferentes. Eu nunca consegui ser tão diferente como eles, mas encontrei um espaço seguro onde pelo menos ninguém era extremamente desagradável para mim e onde eu conheci aquilo que se podia chamar de "amizade".
Era bonito e acolhedor ter uma sala ali na escola onde nos podíamos refugiar do mundo e onde, sentados em puffs e cadeiras de sala, o tempo parecia andar mais depressa nos intervalos.
(...)
Dois anos depois ela é estudante de medicina, vai para o 3º ano. Tem carro, namorado, fala sobre o que é fazer uma autópsia e de como a maior parte das pessoas em Medicina sofre dum Complexo de Deus desmesurado e ridículo. Está diferente. Mais crescida. Mais mulher. As feições tornaram-me menos pueris mas aquele sorriso simpático e aberto a qualquer um continua ali. Hei-de pensar sempre nela como uma espécie de médica fraternal - ela curou-me quando ninguém via que eu estava doente.
Não sinto saudades desses tempos porque o mundo não era o melhor sítio para mim e sofri bastante. Mas...pelo menos conheci pessoas como ela.
Por um lado, parece que passou muito depressa.
Por outro, foi como se tivesse vivido uma vida inteira do último dia em que a vi até hoje.

Verão Sem Sal II

21 agosto, 2011

Éramos um todo, um conjunto. Éramos como uma mesa de jantar. Havia copos, talheres, pratos, guardanapos, mesa, cadeiras e comida. E tudo corria bem, porque tudo funcionava
em harmonia.
Depois, o tempo passou.
Os copos que erguiam o vinho do nosso sangue partiram-se.
Os talheres que cortavam o pão dos nossos corpos enferrujaram.
Os pratos que passávamos uns aos outros ficaram despedaçados pelo tempo.
Os guardanapos que limpavam os nossos pecados foram comidos pelos bichos.
A mesa que suportava tudo encheu-se cupim.
As cadeiras que nos aguentavam a vida ficaram mancas.
A comida que alimentava a alma apodreceu.
E nada voltaria a ser igual porque é impossível fazer uma mesa de jantar só com pratos e guardanapos. E nunca nada poderia substituir aquilo que tinha sido aquela mesa.
É impossível fazer o tempo voltar a atrás.
As fotografias de um tempo imaculado, mantêm ainda nas paredes como memórias de outra realidade. Ainda dói. Afinal ainda dói.
E ainda vai sangrar mais antes de cicatrizar.

Verão Sem Sal

19 agosto, 2011

O meu verão ainda de dieta. Sem amigos, sem saídas, sem nada.
E eu cansado de escrever.

Quando eu olho no espelho, será o meu reflexo uma ilusão?

13 agosto, 2011

Uma ilusão criada por mim dum homem que nunca fui?
Eu sei quem sou para mim. Mas o que serei para os outros?

Lisbon Revisited

12 agosto, 2011


Nada me prende a nada.

Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.

Anseio com uma angústia de fome de carne

O que não sei que seja —

Definidamente pelo indefinido...

Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto

De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.

Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver na rua.

Não há na travessa achada número de porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.

Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.

Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.

Até a vida só desejada me farta — até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;

Escrevo por lapsos de cansaço;

E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.

Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;

Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me náufrago;

Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...

E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,

Nos campos últimos da alma onde memoro sem causa

(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),

Nas estradas e atalhos das florestas longínquas

Onde supus o meu ser,

Fogem desmantelados, últimos restos

Da ilusão final,

Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,

As minhas coortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,

Cidade da minha infância pavorosamente perdida...

Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,

E aqui tornei a voltar, e a voltar,

E aqui de novo tornei a voltar?

Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,

Uma série de contas-entes ligadas por um fio-memória,

Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,

Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e tudo —,

Transeunte inútil de ti e de mim,

Estrangeiro aqui como em toda a parte,

Casual na vida como na alma,

Fantasma a errar em salas de recordações,

Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem

No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,

Sombra que passa através de sombras, e brilha

Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,

E entra na noite como um rastro de barco se perde

Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,

Mas, ai, a mim não me revejo!

Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,

E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim —

Um bocado de ti e de mim!...


Fernando Pessoa

"Nothing tastes as good as skinny feels"

09 agosto, 2011

"In the 21st century, thin equals success: posh clothes shops don’t make big sizes; rich footballers marry skinny birds. And fat is no longer just a feminine issue."
Mills, Eleanor - The Sunday Times, 22 de Novembro de 2009, Londres.

E eu estava tão feliz hoje.
(...)

Acabei de perceber agora que não falei dos meus anos

07 agosto, 2011

E isso é perturbador. Porque os meus anos eram sempre qualquer coisa que gostava de assinalar no blogue. Bem, 19 anos é o medo absoluto, parece ridículo eu já ter 19 anos se ainda me lembro de andar no infantário...
O meu dia de anos foi excelente. Passei na concentração, com o gang do costume. Foi engraçado.
Para o ano há mais!

Wonder

Todos os dias me cresce a ansiedade do meu programa Erasmus. Eu não consigo parar de falar sobre isso, parar de pensar nisso, em parte porque toda a gente à minha volta anda louca com o assunto. Pelo menos, os meus pais andam - e eu não tinha visto o meu pai tão preocupado com o assunto Lisboa como está com o assunto Milão. A minha continua a mesma neurótica de sempre, sempre a deixar pistas e bocas no ar que devia desistir, devia tentar outra coisa, devia ter cuidado, que não sei onde me estou a meter, que não falo a língua, etc...

Mas eu estou tão desejoso de conhecer outro mundo, outro país, outras pessoas. Quem sabe encontrar alguém especial. Não vou ser tonto e dizer que vou em busca da minha cara-metade, de uma aventura romântica, (de uma história como a da minha amiga poeta, mas porque é que isso não há de acontecer? E os amigos que vou fazer? E os lugares que vou conhecer? A rotina que vou criar...Parece-me tudo um mar enorme de possibilidades, de escolhas, quase como um novo começo em que realmente vou definir quem sou, longe daquelas coisas que sempre disse que diminuíam. Longe de Sacavém e da desculpa que a amizade era caótica e que não tínhamos experiência, longe dos dramas da minha faculdade em que tudo tinha que ser de uma certa forma, mais longe ainda da minha mãe e do meu pai que de alguma forma realmente moldam a maneira como sou, longe dos meus amigos e dos seus olhares que também me guiam de alguma maneira. Se calhar vou ser exactamente igual, se calhar não. Quem sabe? O facto de não ter nada escrito, nem planeado, assusta-me tanto como a possibilidade de encontrar um fantasma na casa de banho, mas é tão entusiasmante não saber o dia de amanhã.

E as roupas? E os sapatos? E aquele lado da moda que TODA a gente fala de Milão? Não sei se vou mudar de estilo completamente, como aqueles sonhos em que tinha quando era mais novo e achava que um dia ia ser "super cool com calções fixes e t shirts da cena", mas hei de mudar um bocadinho bolas.

Nem tudo são rosas na realidade. E o dinheiro para fazer esta andança toda? E se por acaso correr tudo mal? E se tudo for a maior merda? E se assim que chegar lá, tiver vontade de voltar? Não quero voltar, como tantos casos que conheço, amargurado com a vida e as pessoas. Não quero voltar sem esperança e fé no mundo. Quero ir um rapazinho e voltar mais ou menos um homem. Mesmo que ainda não faça a barba de uma maneira decente. Quero vir diferente. Quero muito. Quero vencer muita coisa em mim que precisa de ser vencida. E quero sentir-me bem. Quero desesperadamente sentir-me bem como sou, como me visto, como falo. Quero exorcizar alguns fantasmas. Pode ser?

Entretanto, embora a aventura comece em Setembro as coisas por aqui não param. Voltou o drama do Código, da Carta e dessa merda toda que se eu soubesse...se eu soubesse nunca me teria metido nisso tão cedo. Cabe-me agora marcar o código, passar no teste e esperar pelo exame de condução. Não sei o que vou sentir quando tirar a carta mas aposto que vai ser qualquer coisa com um grande dia em que um bocadinho do sofrimento que carrego todos os dias vai acabar.

Além disso, os meus amigos também estão diferentes. Evoluímos tanto como pessoas que é difícil pensar nos dramas e nas situações que aconteceram há alguns anos atrás. Mantemos a mesma essência. Os meus momentos com a Carla, com o Ricardo, com a Joana, a Maria não se destingem entre si - porque aquela amizade fresca de todos os dias mantêm-se, aquela conversa acelerada, aquele riso incontrolável, aqueles momentos de pura brincadeira...Tudo isso ficou mais ou menos igual. Mas hoje, somos pessoas com cicatrizes diferentes e de dantes falávamos no caminho, agora estamos a percorre-lo, cada um da maneira que melhor entende. Para mim, percorrer o caminho significa ir embora, andar por aqui e por ali a navegar. Para eles o caminho é diferente mas não menos desafiante ou inspirador. Cheguei mesmo a pensar que ficar aqui seria um desperdício de vida, de tempo...Mas o que eu precisei para mim, pode ser inútil ou até destrutivo para os outros e hoje, algum tempo passado, acho que tudo aconteceu pelo melhor.

Não sei até que ponto é infantil dizer que as coisas estão diferentes. Neste blogue, podem me apanhar em diversos momentos a dizer "estou diferente, as coisas estão diferentes, eles estão diferentes". Mas isso continua a ser verdade. A vida tem estes ciclos engraçados que duram um certo tempo e depois mudam-nos completamente. Acho que entrar na vida adulta deve ser qualquer coisa como tornar esses ciclos maiores. Talvez em anos, ou décadas. Na adolescência, esses ciclos vêm às semanas, claramente. E esta é outra coisa que costumo dizer com frequência, mas gosto honestamente de ter espaço que marca tudo o que aconteceu.

Sinto que há muito tempo que não escrevia assim. Tão diário, tão puro, tão completamente pessoal e íntimo. Mas fez-me bem. Estava a precisar dum momento assim, só eu e o meu blogue e as minhas coisas. Os meus devaneios quase poéticos mas ainda tão inocentes...

A minha única vontade agora é (e tenho a certeza que isto vai vir contra mim - mas porque raio é que isto tem que vir contra mim?) envelhecer um pouco. Envelhecer a minha feição tão criançola. Ter umas rugas de expressão. Ter uns pêlos a mais. Ter uma barba de que me orgulhe. Ter uns braços mais grossos. Um corpo mais masculino. Ser um bocadinho menos criança. Acho que sim. Acho que me faria bem.

Tive ali aquele momento do " tenho a certeza que isto vai vir contra mim", porque tive literalmente a ideia de estar mais velho e querer voltar a ser criança. Eu sei, vocês sabem e todo o mundo sabe que eu só gosto daquilo que não tenho. Mas honestamente. O momento é hoje. Tenho saudades de muitas coisas e muitas pessoas. Mas adoro viver o meu dia-a-dia. Adoro crescer mais do que nunca. Lido cada vez melhor com as separações. Ainda me dói o coração de pensar nisso, mas controlo melhor as minhas coisas. Aceito melhor as coisas. Enfim

Estou cansado já de escrever e quero dormir. Apetece-me abraçar-me e ficar comigo e ter um momento a dois: Eu e Eu - juntinhos numa cama a pensar, a ler ou simplesmente a sonhar. Nunca hei-de te deixar de sonhar, esteja muito crescido ou não.

Quilo a Quilo

03 agosto, 2011

Há alguns tempos que não tinha um dia tão agradável. Um tempo porreiro, um estado de espírito engraçado e uma ou duas surpresas.

Para começar, o meu pai trouxe-me, para grande espanto meu, uma bicicleta completamente arranjada e herdada dum amigo. Há muito tempo que queria voltar a andar de bicicleta, para dar as minhas voltas e fazer uma bocado de exercício. Mas entretanto, uma após outra foram roubadas e acabei por desistir de as ter. Agora, comprei um cadeado e ela vai andar sempre dentro do prédio. O raio que as parta - as velhas desgraçadas que se queixam de tudo e de nada.

E depois, agora como é hábito, fui-me pesar. Andava um bocado agoniado com o meu peso, acabei por engordar nas última semanas em Lisboa e cheguei a níveis onde nunca tinha chegado. Mas...há esperança. Perdi um Quilo e 100 gramas (Porque se no Peso Pesado as gramas contam, porque não hão de contar comigo) e isso alegra-me de uma maneira inacreditável. Pensar que ainda há volta a dar, que ainda posso diminuir o meu corpo e tentar ainda ser feliz...seria fantástico. Para já a minha meta real é voltar ao peso que tinha quando fui para Lisboa. O meu sonho mais fantástico é voltar aos 80...Quilo a Quilo.

Le Strange Summer

Há muito tempo que não acordava antes do meio-dia e há qualquer coisa que bate dentro de mim, em reconhecimento de um tempo que eu estava nesta casa a morar. Era um ritual das manhãs, acordar cedo, vestir-me, despachar-me como podia para ir para a secundária. Inacreditavelmente, o tempo passou. Há um ano que não estudo mais numa secundária e há um ano que não moro aqui.
Mas tudo está igual como sempre.

Talvez eu tenha sido o único a mudar. Ainda ontem me apanhei a dar conselhos a alguém que vai entrar na secundária pela primeira vez. Entrar no 10º ano, assim, completamente desprotegida e à espera do melhor. Eu só gostava de ter tido alguém que me tivesse dito o que eu lhe disse "Mesmo quando tudo parece que vai desabar, vai correr tudo bem". Quem me dera que alguém tivesse sido para mim, o amigo que eu fui para ela naquele instante.

De qualquer forma, esta casa cansa-me. Nem tudo são memórias felizes de um tem perfeito de aulas e "marotices". Esta casa assistiu aos meus melhores dias e aos meus piores e não consigo deixar de a querer abandonar. Para o raio vá o número 8 da Rua da Fábrica da Loiça. Eu já não pertenço aqui.

Enquanto isso, o Verão vai andando eu ainda não fui a uma única aula de código e a única certeza que carrego é não ter certeza nenhuma. "Vai correr tudo bem..."

"És abandonado por uns, encontrado por outros"

31 julho, 2011

Hoje, pensei muito sobre a vida em geral. Sim, não há realmente nenhuma novidade em relação a isso, mas enquanto subia sozinho pelo Chiado à procura de pessoas do tumblr e se estavam perdidas ou não, encontrei um homem a tocar um instrumento de madeira. "Estou a juntar € para arranjar o meu verdadeiro saxofone". E com isto comecei a pensar de como seria fácil, juntar fosse o que fosse para um verdadeiro amor, uma verdadeira relação, uma verdadeira confiança, uma verdadeira personalidade.
Não era tão porreiro poder ir para a rua e dizer: quero arranjar a minha vida. Ajudam-me? Talvez verdadeiras certezas não existam e lidar com algum tipo de insegurança seja normal. Talvez até nunca ter uma verdadeira certeza seja uma certeza em si. Who Knows? Mas seria mesmo tão mais fácil...
E de qualquer forma, eu pergunto-me como será a vida nos próximos tempos? O verão ainda deve guardar algumas surpresas (nem todas boas certamente) e o inverno trás a promessa de algo novo, um mundo completamente diferente que também terá as suas desvantagens. Estou a juntar respostas para as minhas crises existenciais. Pode contribuir?
Quantas coisas vou eu perder? Quanto de Portugal e do viver aqui eu poderia ter aproveitado? I don't know.
Às vezes no escuro, quando me lembro que os outros me chamam de maluco inconsequente,até eu acredito...

Tango das Mulheres Loucas

28 julho, 2011

Dizem que quando o vento sueste se levanta, todos os loucos ficam mais inquietos. Sentir o vento, faz com que os ânimos - e não só as coisas - se levantem. Assim, os loucos correm soltos, sem dono nem destino ou razão que os guie.
É como um dança sem qualquer tipo de ritmo ou coreografia. Um Tango embrutecido de mulheres que o destino defraudou sem compaixão e que vivem amaldiçoadas com uma loucura que não é doença...
Vivi muitos anos ao sabor desde tango, sempre no compasso errado, sempre com o movimento desapropriado e sempre a sofrer na pele o representar dum papel que não me assentava - tão somente pela razão de eu não ser um homem louco nem o querer ser.
E, no meio deste baile de horrores, havia um nome que me continuava a atormentar.
Ana. Ana. Ana.
Com estas três mulheres tentei dançar até me sangrarem os pés e a minha alma desfiada em farrapos continua a embalá-las mesmo depois de tudo.
O último desfecho foi há pouco tempo. Talvez um fechar de um ciclo de três mulheres chamadas Ana que chegaram a coexistir no mesmo reino. Será o fim?
Uma coisa é certa, o vento sueste soprará outra vez e o tango recomeçará. Talvez porém eu esteja já noutras danças. Mais organizadas, com um melhor compasso. E talvez o Tango das Mulheres Loucas seja já memória de outros dias mais complicados.

Oi. Ligou para o número sexual da Cândida.

Foi um grande aniversário bitches.
It's so good we have each other <3

FAT

24 julho, 2011

Obviamente já engordei, engordo sempre no verão, mas não tinha reparado (e normalmente reparo sempre nisso).
Foi o teatro, foi o andar dum lado para o outro, foi o descuido. E agora?
Só gostava que as pessoas fossem um bocadinho mais simpáticas em relação a isso.
De qualquer forma, em menos de nada eu perco isto tudo.

Em Lisboa estava sufocado, aqui não tenho ar para respirar

19 julho, 2011

Vivi em Lisboa um bocadinho atordoado. Não me sentia tão bem quanto gostaria no sítio em que dormia e esse era o único problema.
Entretanto venho para cá e aqui, parece que os sonhos morrem antes de nascer, e eu nunca poderei ser nada!
Mas vou tentando lutar contra isso e entretanto comprei uma mala a 10 euros e um relógio todo pimpão da swatch. Bam!

Harry Potter - Always

18 julho, 2011

Ainda me lembro quando pensava que tudo valia a pena pelo último livro, pelo último filme, pelo último momento.
E agora, tudo aconteceu. Fui ver o último filme e fiquei assim, desamparado, abandonado, como se um amigo meu tivesse feito uma viagem sem regresso.
A dor há de passar, passa sempre. Mas, um romance de 10 anos é mais do que posso dizer das minhas relações de amor - e não sei o que sentir.
A não ser o vazio. O silêncio. A angústia de saber que não há mais nada (há um parque e um website, mas são migalhas de amor comparado com as ondas de paixão que tive)
Se bem que, pensando bem, agora anseio por ter os livros na minha prateleira com o passar do tempo, e ir buscá-los e pensar nas minhas aventuras de criança. E, se o tempo chegar e a pessoa certa também, mostrar aos meus filhos e passar a minha herança mais preciosa - o prazer de ler e ficar envolvido por um mundo de palavras que descrevem sítios mágicos, bichos mirabolantes e personagens que gostávamos que fossem reais, pessoas a quem pudéssemos mandar e-mail, telefonar e perguntar pela vida.
Os meus filhos...a lerem harry potter e a sonharem e a rir. Nós a vermos os filmes juntos. O tio Ricardo a passar por casa e trazer pipocas e a chorar a ver o entusiasmo deles. Meu Deus, o futuro! O futuro apesar de tudo ainda nos aguarda.
"Nada se perde, tudo se transforma".

A Peça

14 julho, 2011

Um dia, disseram-me que a Felicidade é tão pequenina que cabe só nos menores momentos. Naqueles em nem nos damos conta que estamos a ser felizes. Seja num carro a sonhar e a cantar músicas, seja numa esplanada a fumar um cigarro e falar da vida.
Ou então, naquele último momento do espectáculo, em que a cortina abre, há aplausos e o coração enche-se de uma alegria imensa, os olhos carregam as lágrimas e o esforço é todo recompensado. Viver para o aplauso pode ser ingrato, mas quando corre bem...
E hoje, tudo esses momentos soltos de felicidade aconteceram.
Estou sereno, mas diferente.
E a peça foi linda, os meus momentos foram bonitos e gostei de me sentir em palco, sem medos, só nervos, sem pensar nos outros, só em mim.
Euforia de representar...
Teatro uma vez...Teatro para sempre!

Is there anyone that really cares? CHECK

11 julho, 2011

Sentir-me desejado e querido pelos meus amigos ainda é uma sensação incrível.
Estar com eles, divertir-me, fazer parte e ser importante. Convidar e ser convidado, amar e ser amado. Haverá alguma coisa melhor que um dia com aqueles amigos? Aqueles amigos em que tudo é bom, todos os momentos são giros, todas os dias são bem passados.
E, agora, reparo que sim. Sim, tenho mesmo esses amigos e vieram de tantos sítios e são tão diferentes entre sim, mas amam-me tanto como eu os amo. Tenho o grupo da faculdade, o grupo lisboeta, o grupo lisboeta da nova, o grupo algarvio em Lisboa, o grupo algarvio no algarve... Fazem-me feliz.E isso ilumina mesmo o meu dia. Sei que nunca mais volto a passar por aqueles períodos conturbados de pensamentos negros de morte. Ainda está lá sempre como uma ferida que nunca passa - mas eu continuo a lutar e esqueço me mais do que me lembro. E isso é a verdadeira alegria de viver.

"Tudo Acaba"

07 julho, 2011

Eu estava no meio do metro da baixa, e queria ir para segunda a saída, uma que liga com a baixa e não com o Chiado. Entretanto, por algum motivo e sem pensar fiz o meu caminho de costume e quando cheguei às escadas rolantes percebi a asneira, mas decidi que não valia a pena voltar para trás e já que estava ali, era suposto eu ir em frente. Ao descer o Chiado, encontro um carro com a matrícula EG e eu gosto de pensar que aquilo quer dizer que era suposto eu estar naquele sítio, naquele momento.
Fui sempre descendo a rua, olhando para as montras, a ouvir o meu Mp3, ainda parei uns segundos a olhar para uns coelhos e reparei numa pessoa que conhecia, mas que já não via há muito tempo.
Pensei durante uns milésimos de segundo em quem seria. Fiquei confuso. Era suposto eu saber, certo? Quando me atingiu ainda estava meio confuso. Mas não foi mau, nem estranho, um bocadinho desconfortável está certo, mas não doeu. Foi só estranho e isso parece-me bem. Quanto menos estranho passar a ser, menos doloroso, mais fácil será eu seguir com a minha vida e isso é qualquer coisa de valor.
Entretanto, pela cidade fora publicita-se o fim de Harry Potter. "Tudo Acaba 14/7". Foi há 10 anos que a minha tia-prima (filha da minha tia-avó, quase irmã do meu pai) me levou para ver o filme. Nessa altura a minha avó tinha morrido há pouco tempo e não queriam que eu ficasse traumatizado. O primeiro livro que recebi foi o Cálice de Fogo. Depois, a minha avó mandou os três primeiros, e o resto fui comprando já sozinho. Foi um caminho longo de Harry Potter. Chorei, Ri e sonhei a ler os livros e a ver os filmes. Apaixonei-me pela Hermione/Emma Watson. Chorei pelo Dobby. Ainda consegui ter um quase love affair que começou por Harry Potter e que como acabou mal, desejei que nunca tivesse existido o HP. A história com a Beatriz acabou por ser bonita pelo menos num aspecto, e tento agarrar-me a isso como se não houvesse amanhã.
E agora vai acabar. Não há mais filmes, nem mais livros - há novidades, sim claro, mas...já nada é a mesma coisa. E sentir que os filmes vão acabar é como sentir que a minha infância acabou mesmo, é o adeus final de um tempo conturbado. Não sou mais a criança que fui durante tanto tempo, já não estudo no Colégio Algarve, já não falo alemão na Escola Dom Afonso III, já não me dou com a mAna Martins. Meu Deus. Tanta História, Tanta Vida.
Pelo menos, vivi tudo, senti tudo e agora que me vou embora - sinto-me, pelo menos em parte, preparado para novas coisas, novas aventuras. Ainda tenho o mundo todo por descobrir e agora que comecei a crescer a evoluir tão depressa, não quero que acabe nunca mais!
Deus. Daqui a 10 anos, como será a minha vida?
Não preciso de saber. Por ora, quero só tentar fazer a melhor limonada com os limões que me dão.

Sonhar contigo

05 julho, 2011

Sonhar contigo já foi mais frequente. Antigamente era sempre, todos os dias a todas horas, sonhar acordado - estar contigo como nunca estive.
E esta noite, voltei a sonhar. Voltei a sentir-me bem nos teus braços e a sentir-me bem com o teu amor.
Damm me, needy me.
Se me desses migalhas de amor, por mais pequeninas que fossem...eu agarrava-as logo!

Qual é a coisa, que quando dizes o seu nome desaparece?

27 junho, 2011

O silêncio. E já que é o centésimo post deste blogue neste ano...
Acho que se adequa perfeitamente falar do silêncio - a ausência de som, a ausência de comunicação, a ausência de vida, o não estar, o não saber.
Há um tipo de silêncio nas amizades muito especial. Um tipo de silêncio forçado, que dói mais do que qualquer discussão, qualquer porrada, qualquer insulto. É a pior arma e a mais eficaz delas todas, depois de usada as coisas nunca mais ficam na mesma.

Faça-se então silêncio que eu não consigo agir de outra forma.

Leaving Lisbon July 14th

25 junho, 2011


Estou a precisar do Algarve.
Ontem fui à HM e foi a loucura total. Comprei outro casaco, duas t-shirts lindas (riscas e John Lennon) e tudo a 20 euros. Depois disso fui para a Fnac, comprei um livro em italiano do Umberto Eco e um dicionário de italiano.
ENTRAR EM MODO FÉRIAS.

(Falta só o parvo exame de economia....)

Directas, Directas e mais Directas

22 junho, 2011

Aparentemente, organização é uma coisa priceless e eu que o diga. Andei nas últimas semanas mais morto-vivo que outra coisa qualquer. De repente, aparecem estas frequências e estes trabalhos todos que estavam marcados há meses para o dia seguinte. Se houve qualquer coisa que aprendi neste ano, foi isto: é melhor começar a fazer qualquer coisa logo de início e evitar horas e horas perdidas em noites escuras.
Ando a comer mal, a dormir mal, e a viver mal.
Mas, depois há coisas boas.
Eu sei que me farto de falar sobre isto, mas ainda é entusiasmante pensar que vou para Milão morar um ano - porque simplesmente me vejo a contar um dia que estive e que vivi em Milão e que fui feliz lá. Sou um contador de histórias, acho que todos os escritores o são e dá me gozo conhecer mundos novos.
E há o teatro. Uma coisa que sempre gostei de fazer, desde pequeno e que me está a dar o maior gozo de sempre. E (agora vou-me fazer de convencido) tal como sempre aconteceu eu vou ser protagonista e Estrela Principal e sempre um bocado por acidente. Bolas, como me dá gozo actuar e estar em cima de um palco. Os nervos são mais que muitos, os suores pelo corpo dão cabo de tudo mas aquela sensação quente na barriga com os aplausos...Acaba sempre tudo em 10 minutos e leva sempre 10 anos para fazer...
Tenho estado cansado, esfomeado, mal vestido e gordo mas têm sido dias bons. (ainda ontem estava eu na tomada de posse a tirar uma foto com os homens da luta, mas estou tão feio na foto, tão feio, mas tão feio... que nunca me arriscaria a publicar tal coisa no meu singelo yet wonderful blogue)

Qu'est-ce que tu ferais si je meurs aujourd'hui? Je mourrais demain.

19 junho, 2011


Então é assim. Ainda ontem estava a dizer que há filmes bonitos mas que não nos mudam a vida. Este ainda é cedo para dizer se mudou, mas basicamente
1-abriu me coração
2-cortou-mo em pedaçinhos
3-jogou pela janela
4-fez-me voltar a por lá dentro para recomeçar todo o processo.