Verão Sem Sal II

21 agosto, 2011

Éramos um todo, um conjunto. Éramos como uma mesa de jantar. Havia copos, talheres, pratos, guardanapos, mesa, cadeiras e comida. E tudo corria bem, porque tudo funcionava
em harmonia.
Depois, o tempo passou.
Os copos que erguiam o vinho do nosso sangue partiram-se.
Os talheres que cortavam o pão dos nossos corpos enferrujaram.
Os pratos que passávamos uns aos outros ficaram despedaçados pelo tempo.
Os guardanapos que limpavam os nossos pecados foram comidos pelos bichos.
A mesa que suportava tudo encheu-se cupim.
As cadeiras que nos aguentavam a vida ficaram mancas.
A comida que alimentava a alma apodreceu.
E nada voltaria a ser igual porque é impossível fazer uma mesa de jantar só com pratos e guardanapos. E nunca nada poderia substituir aquilo que tinha sido aquela mesa.
É impossível fazer o tempo voltar a atrás.
As fotografias de um tempo imaculado, mantêm ainda nas paredes como memórias de outra realidade. Ainda dói. Afinal ainda dói.
E ainda vai sangrar mais antes de cicatrizar.

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