Não era um homem mau. Dava sempre comida aos pombos e aos gatos. Quando espirrava, limpava o nariz com lenços antigos mas muito finos que tinham sido da mulher. Era simpático e jogava na batota com os amigos enquanto bebia um copo. Lia o jornal todos os dias. Falava dos políticos com o Senhor Pedro que estava surdo mas que acenava sempre como se compreendesse todas as coisas do mundo. Quando ia ao mini-mercado elogiava sempre o cabelo da Dona Eulália, uma senhora gorduxa e vestida com um bata surrada.
De vez falava com o filho que estava nas Américas e era sempre simpático. O filho tinha ido novo e nunca mais tinha voltado e há alguns anos atrás tinha mandado uma fotografia do casamento e da primeira filha que o Senhor Alexandre nunca tinha conhecido mas que amava profundamente com todas as forças que tinha.
Mas tinha um problema. Sempre que alguém lhe perguntava indicações, respondia tudo errado. Mandava as pessoas rua acima quando era suposto descerem e mandava-as para a direita quando era suposto virarem à esquerda. Dizia sempre que o autocarro não parava na paragem que lhe perguntavam e chegava a inventar números de autocarros que não existiam. Dizia sempre tudo mal mas não era um mau homem.
Para ele, se as pessoas fossem sempre dar ao sítio certo da vida acabavam por perder a maior aventura de todas: viver. Cometer erros. Ficar para trás à espera de autocarros fantasma. Perder-se numa cidade estranha sem saber falar a língua. Para ele, errar algumas vezes era melhor que acertar sempre e "nos caminhos em que não é suposto andarmos é que acabamos por nos encontrar" dizia ele.
"Sorry. Onde é o Marquêsh de Pomball?
"Sempre em diante, sempre em diante. Não pare."
O destino é assim mesmo. Nem sempre nos leva para onde queremos mas acaba sempre por nos levar ao sítio certo. E continuava o seu caminho para ir jogar à batota com os amigos, beber um copo e falar como Senhor Pedro.
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