Todos os dias me cresce a ansiedade do meu programa Erasmus. Eu não consigo parar de falar sobre isso, parar de pensar nisso, em parte porque toda a gente à minha volta anda louca com o assunto. Pelo menos, os meus pais andam - e eu não tinha visto o meu pai tão preocupado com o assunto Lisboa como está com o assunto Milão. A minha continua a mesma neurótica de sempre, sempre a deixar pistas e bocas no ar que devia desistir, devia tentar outra coisa, devia ter cuidado, que não sei onde me estou a meter, que não falo a língua, etc...
Mas eu estou tão desejoso de conhecer outro mundo, outro país, outras pessoas. Quem sabe encontrar alguém especial. Não vou ser tonto e dizer que vou em busca da minha cara-metade, de uma aventura romântica, (de uma história como a da minha amiga poeta, mas porque é que isso não há de acontecer? E os amigos que vou fazer? E os lugares que vou conhecer? A rotina que vou criar...Parece-me tudo um mar enorme de possibilidades, de escolhas, quase como um novo começo em que realmente vou definir quem sou, longe daquelas coisas que sempre disse que diminuíam. Longe de Sacavém e da desculpa que a amizade era caótica e que não tínhamos experiência, longe dos dramas da minha faculdade em que tudo tinha que ser de uma certa forma, mais longe ainda da minha mãe e do meu pai que de alguma forma realmente moldam a maneira como sou, longe dos meus amigos e dos seus olhares que também me guiam de alguma maneira. Se calhar vou ser exactamente igual, se calhar não. Quem sabe? O facto de não ter nada escrito, nem planeado, assusta-me tanto como a possibilidade de encontrar um fantasma na casa de banho, mas é tão entusiasmante não saber o dia de amanhã.
E as roupas? E os sapatos? E aquele lado da moda que TODA a gente fala de Milão? Não sei se vou mudar de estilo completamente, como aqueles sonhos em que tinha quando era mais novo e achava que um dia ia ser "super cool com calções fixes e t shirts da cena", mas hei de mudar um bocadinho bolas.
Nem tudo são rosas na realidade. E o dinheiro para fazer esta andança toda? E se por acaso correr tudo mal? E se tudo for a maior merda? E se assim que chegar lá, tiver vontade de voltar? Não quero voltar, como tantos casos que conheço, amargurado com a vida e as pessoas. Não quero voltar sem esperança e fé no mundo. Quero ir um rapazinho e voltar mais ou menos um homem. Mesmo que ainda não faça a barba de uma maneira decente. Quero vir diferente. Quero muito. Quero vencer muita coisa em mim que precisa de ser vencida. E quero sentir-me bem. Quero desesperadamente sentir-me bem como sou, como me visto, como falo. Quero exorcizar alguns fantasmas. Pode ser?
Entretanto, embora a aventura comece em Setembro as coisas por aqui não param. Voltou o drama do Código, da Carta e dessa merda toda que se eu soubesse...se eu soubesse nunca me teria metido nisso tão cedo. Cabe-me agora marcar o código, passar no teste e esperar pelo exame de condução. Não sei o que vou sentir quando tirar a carta mas aposto que vai ser qualquer coisa com um grande dia em que um bocadinho do sofrimento que carrego todos os dias vai acabar.
Além disso, os meus amigos também estão diferentes. Evoluímos tanto como pessoas que é difícil pensar nos dramas e nas situações que aconteceram há alguns anos atrás. Mantemos a mesma essência. Os meus momentos com a Carla, com o Ricardo, com a Joana, a Maria não se destingem entre si - porque aquela amizade fresca de todos os dias mantêm-se, aquela conversa acelerada, aquele riso incontrolável, aqueles momentos de pura brincadeira...Tudo isso ficou mais ou menos igual. Mas hoje, somos pessoas com cicatrizes diferentes e de dantes falávamos no caminho, agora estamos a percorre-lo, cada um da maneira que melhor entende. Para mim, percorrer o caminho significa ir embora, andar por aqui e por ali a navegar. Para eles o caminho é diferente mas não menos desafiante ou inspirador. Cheguei mesmo a pensar que ficar aqui seria um desperdício de vida, de tempo...Mas o que eu precisei para mim, pode ser inútil ou até destrutivo para os outros e hoje, algum tempo passado, acho que tudo aconteceu pelo melhor.
Não sei até que ponto é infantil dizer que as coisas estão diferentes. Neste blogue, podem me apanhar em diversos momentos a dizer "estou diferente, as coisas estão diferentes, eles estão diferentes". Mas isso continua a ser verdade. A vida tem estes ciclos engraçados que duram um certo tempo e depois mudam-nos completamente. Acho que entrar na vida adulta deve ser qualquer coisa como tornar esses ciclos maiores. Talvez em anos, ou décadas. Na adolescência, esses ciclos vêm às semanas, claramente. E esta é outra coisa que costumo dizer com frequência, mas gosto honestamente de ter espaço que marca tudo o que aconteceu.
Sinto que há muito tempo que não escrevia assim. Tão diário, tão puro, tão completamente pessoal e íntimo. Mas fez-me bem. Estava a precisar dum momento assim, só eu e o meu blogue e as minhas coisas. Os meus devaneios quase poéticos mas ainda tão inocentes...
A minha única vontade agora é (e tenho a certeza que isto vai vir contra mim - mas porque raio é que isto tem que vir contra mim?) envelhecer um pouco. Envelhecer a minha feição tão criançola. Ter umas rugas de expressão. Ter uns pêlos a mais. Ter uma barba de que me orgulhe. Ter uns braços mais grossos. Um corpo mais masculino. Ser um bocadinho menos criança. Acho que sim. Acho que me faria bem.
Tive ali aquele momento do " tenho a certeza que isto vai vir contra mim", porque tive literalmente a ideia de estar mais velho e querer voltar a ser criança. Eu sei, vocês sabem e todo o mundo sabe que eu só gosto daquilo que não tenho. Mas honestamente. O momento é hoje. Tenho saudades de muitas coisas e muitas pessoas. Mas adoro viver o meu dia-a-dia. Adoro crescer mais do que nunca. Lido cada vez melhor com as separações. Ainda me dói o coração de pensar nisso, mas controlo melhor as minhas coisas. Aceito melhor as coisas. Enfim
Estou cansado já de escrever e quero dormir. Apetece-me abraçar-me e ficar comigo e ter um momento a dois: Eu e Eu - juntinhos numa cama a pensar, a ler ou simplesmente a sonhar. Nunca hei-de te deixar de sonhar, esteja muito crescido ou não.
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