10 dias depois

29 setembro, 2011

É estranho agora escrever aqui, escrever sobre Milão. Falar sobre o sonho cumprido. Têm sido dias grandes, todos grandes, sempre grandes, sempre cheios de coisas. Por um lado, lembro sempre de Lisboa e das minhas tardes pela Avenida da Liberdade, Baixa e Chiado como ritual sagrado de vivência. 

Já começo a ter saudades, todos os dias, de tudo e de todos. É complicado, principalmente porque não passou muito tempo, mas eu sei que vai passar. Eu sei que os dias se vão transformar em semanas, que as semanas se vão transformar em meses. E a vida não pára para ninguém. Por um lado, adoro a minha nova existência aqui, tão leve, tão cheia de surpresas, tão completamente diferente. Por outro, mata-me o facto de estar a perder tudo, as novas histórias, as novas piadas, os novos romances. Parece impossível por agora, mas eu sei que naturalmente vou perder muitas coisas. E isso mata-me. Nunca tinha pensado nisso, no quanto vou perder dos meus amigos. Aliás tinha pensado, mas não sabia que era possível custar tanto.

Milão é uma cidade linda. Os edifícios são lindos. Andar pela cidade é uma coisa bonita, as coisas estão arranjadas, há qualquer coisa gira para ver em qualquer lado que se olhe. É uma cidade com história, mais clássica que moderna, mas que não deixa de ter todos os confortos de uma cidade cosmopolita. A Moda é realmente qualquer coisa interessante, tenho visto pessoas lindas, com estilos lindos, lojas lindas com coisas lindas e pena, pena é não andar com 40 000 euros no bolso.

Sim, porque é uma cidade cara. Bem cara. Bem mais cara que Lisboa. Em tudo. Nas compras, na comida, nos transportes, nos cigarros. Sair à noite é uma coisa interessante, pedem-nos 250 euros para uma mesa por algumas horas, ou fazem-nos esperar numa fila enquanto deixam as senhoras de malas Chanel e os rapazes com camisas bonitas da Ralph Lauren entrar primeiro. Um cocktail é mesmo 10 euros. Um Martini é considerado Cocktail. Tudo é um cocktail menos uma cerveja. Tudo caríssimo, tudo cheio de estilo.

Ter amigos aqui? É uma coisa estranha. Tenho um grupo porreiro na minha residência, um grupo de espanhóis com pessoas muito interessantes, muito felizes, muito cheias de festa. Mas é impossível não me sentir distante da cultura deles, e fazem-me falta rapazes que como eu, não vivam para o futebol e para o desporto. Faz me conversar sobre música, cultura, filmes, moda. Faz me falta aquele ritmo que eu tinha como meu pessoal português. Mas pelo menos, sinto-me integrado, falo e converso e pode não ser muito, pode não ser profundo, mas pelo menos não estou sozinho.

O meu quarto é uma coisa linda. Duas janelas até ao tecto grandes, uma secretária, uma mesa de cabeceira, tudo bonito, tudo super confortável. A casa de banho tem um padrão xadrez e é aquecida o que eu acho uma coisa fenomenal. Gosto imenso de ver as pessoas no prédio em frente. 

Está tudo a correr bem, mas continuo a querer mais, a desejar mais.
 Este erasmus só começou agora...

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