Toca de seguida, amigos de sempre que telefonam para me perguntar como estou, para saber se estou bem, que histórias tenho para contar, telefonam para gozarmos e rirmos um bocado que as chamadas grátis afinal até fizeram falta. O Facebook dá notificação de mensagem atrás de mensagem.
"Que tal de regresso? Que tal de Lisboa, Que tal de Algarve?"
E eu sem saber o que dizer. Não tenho em mim para escrever o que sinto e mal consigo falar. O primeiro dia em Lisboa foi frio. Não que estivesse assim tanto frio, mau tempo e temperaturas quase no zero já são o prato do dia para mim, mas foi fria a recepção. É um país mudado. É uma cidade que dantes me parecia um paraíso dourado e agora parece negra. As ruas estão vazias, o povo está triste, as histórias que oiço no autocarro já não me fazem sorrir e há por todo o lado a sensação de mudança, de diferença. A culpa será minha ou de Lisboa? Eu sempre soube que Lisboa não perdoa quem não está.
Mesmo os meus amigos me parecem diferentes. Os abraços são iguais, o amor é igual. Fazemos os mesmos sorrisos inocentes para as máquinas fotográficas, mas em quase 3 meses a vida avançou. Temos agora percursos distintos, histórias diferentes para contar, estamos diferentes mas a amizade parece que ficou no Verão e esse choque de actualidade sente-se enquanto bebemos café e temos as nossas tertúlias de aventuras e mal dizer.
Vou para o Algarve ainda pouco recuperado da cidade nova que é Lisboa e chego a um Algarve sempre perdido no tempo. Aqui as coisas continuam iguais, exactamente iguais porque há muito que o dinheiro foge por entre as cartas que chegam no correio, por entre os sacos de compras lá de casa. E por qualquer motivo sinto-me perdido num país que já não me parece o meu, numa cidade que não parece minha.
Talvez tenha entrado demasiado bem no espírito Erasmus, talvez tenha gostado de mais, talvez devesse ter posto limites. Habituei-me a uma realidade muito diferente. Tanto que quando um amigo me perguntou se estava a gostar de Milão respondi sem pensar "Sabe bem estar na Europa". Habituei-me a uma nova Europa de cores, de vida, de "Aperitivo" e jantar na "L'Aragosta Innamorata" às sete e meia, todos os dias. Habituei-me a ouvir italiano nas ruas e ler o "Corriere della Sera" de manhã.
Perdido na translação dos fusos horários, das histórias novas, dos sentimentos velhos, é difícil dizer como me sinto. Por um lado o caminho nem vai ainda metade feito e há já tanto de novo em mim, tanta novidade, tanta alegria. E já há também consequências. O choque de voltar para aqui, de estar outra vez no meu quarto e ver filmes até às quatro da manhã (e desta vez sem o roncar do meu companheiro de quarto!).
Que futuro para mim? O caminho de Erasmus ainda por percorrer, aventuras ainda para serem vividas...O sentimento que o meu País, a minha Pátria morre a cada segundo - e com ele o meu futuro - dá que pensar. No meio da felicidade, da ansiedade e do medo pelo futuro eu e os meus pés, à procura dum caminho.
O Erasmus já me mudou a vida. O que vem a seguir?
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