O telefone toca

22 dezembro, 2011


Toca de seguida, amigos de sempre que telefonam para me perguntar como estou, para saber se estou bem, que histórias tenho para contar, telefonam para gozarmos e rirmos um bocado que as chamadas grátis afinal até fizeram falta. O Facebook dá notificação de mensagem atrás de mensagem. 

"Que tal de regresso? Que tal de Lisboa, Que tal de Algarve?"


E eu sem saber o que dizer. Não tenho em mim para escrever o que sinto e mal consigo falar. O primeiro dia em Lisboa foi frio. Não que estivesse assim tanto frio, mau tempo e temperaturas quase no zero já são o prato do dia para mim, mas foi fria a recepção. É um país mudado. É uma cidade que dantes me parecia um paraíso dourado e agora parece negra. As ruas estão vazias, o povo está triste, as histórias que oiço no autocarro já não me fazem sorrir e há por todo o lado a sensação de mudança, de diferença. A culpa será minha ou de Lisboa? Eu sempre soube que Lisboa não perdoa quem não está.

Mesmo os meus amigos me parecem diferentes. Os abraços são iguais, o amor é igual. Fazemos os mesmos sorrisos inocentes para as máquinas fotográficas, mas em quase 3 meses a vida avançou. Temos agora percursos distintos, histórias diferentes para contar, estamos diferentes mas a amizade parece que ficou no Verão e esse choque de actualidade sente-se enquanto bebemos café e temos as nossas tertúlias de aventuras e mal dizer. 

Vou para o Algarve ainda pouco recuperado da cidade nova que é Lisboa e chego a um Algarve sempre perdido no tempo. Aqui as coisas continuam iguais, exactamente iguais porque há muito que o dinheiro foge por entre as cartas que chegam no correio, por entre os sacos de compras lá de casa. E por qualquer motivo sinto-me perdido num país que já não me parece o meu, numa cidade que não parece minha.

Talvez tenha entrado demasiado bem no espírito Erasmus, talvez tenha gostado de mais, talvez devesse ter posto limites. Habituei-me a uma realidade muito diferente. Tanto que quando um amigo me perguntou se estava a gostar de Milão respondi sem pensar "Sabe bem estar na Europa". Habituei-me a uma nova Europa de cores, de vida, de "Aperitivo" e jantar na "L'Aragosta Innamorata" às sete e meia, todos os dias. Habituei-me a ouvir italiano nas ruas e ler o "Corriere della Sera" de manhã. 

Perdido na translação dos fusos horários, das histórias novas, dos sentimentos velhos, é difícil dizer como me sinto. Por um lado o caminho nem vai ainda metade feito e há já tanto de novo em mim, tanta novidade, tanta alegria. E já há também consequências. O choque de voltar para aqui, de estar outra vez no meu quarto e ver filmes até às quatro da manhã (e desta vez sem o roncar do meu companheiro de quarto!).

Que futuro para mim? O caminho de Erasmus ainda por percorrer, aventuras ainda para serem vividas...O sentimento que o meu País, a minha Pátria morre a cada segundo - e com ele o meu futuro - dá que pensar. No meio da felicidade, da ansiedade e do medo pelo futuro eu e os meus pés, à procura dum caminho. 

O Erasmus já me mudou a vida. O que vem a seguir?

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