Empty Rooms Empty Hearts

27 maio, 2011

Viver nesta casa nem sempre é um mar de rosas. Aliás, pode dizer-se perfeitamente que é mais um mar de desarrumação, de falta de comunicação, de sonhos de adolescente adulto com uma pitada de sexo.
Não vive aqui ninguém importante. Não somos apresentadores, nem tradutores, nem músicos nem nada ainda. Somos jovens com um sonho, um sonho volátil que cresce no coração sem se saber como.
Viver aqui...nem sempre é fácil ou bom. Nem todos os dias se quer ir para casa, nem todos os dias se gosta de subir as escadas.
Há um gato, branco como a neve porca de Nova Iorque. Há posteres de famosos, campanhas de moda e filmes independentes que nunca vimos. Há fotos de outrora, bilhetes de Lady Gaga e roupa espalhada no chão. Mas, os sonhos continuam a viver ao nosso lado, ou à nossa frente, ou no nosso próprio quarto.
Em frente ao meu, há uma porta. Uma porta sempre igual com dois papéis singelos anunciando a "Rainha dos Roucos" e a "Diaba Tradutora". Em tempos que já lá vão havia um calendário dos Beatles, umas velas de cheiro e duas raparigas. Primeiro, foi-se embora uma e sentia-se o vazio no quarto. Chorei muitas vezes quando entrei lá. Sentia falta de qualquer coisa, sentia falta de noites na cozinha, de fumar às escondidas de brincar de ser feliz. Depois foi a outra e o vazio tomou conta. O silêncio apenas restou daquilo que tinha sido um império de abraços, compaixão e quiçá no fundo, o melhor amor de todos - a amizade que não se acaba, não se destrói, não se desvanece.
Outra pessoa foi para lá. Uma pessoa que dormia comigo. O nosso roncar acompanhava a lua, as estrelas e o nascer do sol, já ali, depois do fumo dos carros. Estávamos em frente um ao outro. Durou pouco. O ano acaba mais cedo para alguns e os que ficam, continuam a luta.
E agora a casa descansa. Depois de borbulhar os sonhos, o vazio e o silêncio descansa num sono diferente. Um sono de quem mudou, de quem já não é o que era, de quem cresceu e desatou nós impossíveis. Reis e Rainhas fomos nós e lembro-me tão bem. Lembro-vos tão bem.
A sombra do que fomos ainda ronda as esquinas, reproduz os nossos jantares e vê televisão comigo. Mas já não é a mesma coisa. Há momentos que não voltam atrás.
Nunca mais.
Nem sempre faz bem viver nesta casa. Há gritos, confusão, computadores 25 horas por dia ligados. Há pó e mosquitos assassinos. Há folhas de teste, folhas de rascunho, folhas rasgadas, folhas brancas. Há de tudo nesta casa. Mas...mesmo assim os sonhos persistem, insistem e fazem comichão.
Apesar de tudo, vou sentir saudades da casa que me viu nascer outra vez. Que me viu ser feliz, ser triste, ser irracional e mal criado. Me viu fazer a barba e pensar no amor. Me deu lágrimas e sorrisos. Mas especialmente, vou sentir falta de nós. Nós, sempre nós aqui e ali, a dançar e a pular, a ler poemas e dormitar. Sempre nós. Sempre a mesma energia e o viver inconsequente. Nós num para sempre inacabado.

(...)

Agora a luta está a acabar mesmo. Mais um mês - o que é isso? Mais uns dias o que é isso? Mais uns mosquitos...o que é tudo isso? A casa começou a dormir...e espera talvez mais disto tudo para o ano que vem...já sem mim.
Talvez um dia escrevam - neste lugar, viveram-se bons tempos.
E no fundo...é isso, esse pouco nada, tudo o que temos.
Obrigado casa.
Até um dia.

2 Comentários:

Nan Lo. disse...

se soubesses o quanto te amo como a um irmão mais pequeno, meu ephram. se soubesses como sinto a tua falta.

Anônimo disse...

ai Eurico como tu embalas as palavras...para ja aproveita e pega no aspirador, o gato branco agora habita outros palácios...e o demónio esvoaça por aí...para o ano sem ti nada será igual e milão espera.te!
Lya