Os últimos dias, ou melhor, desde que estou aqui, parece que me cerca este véu de absurdo, de sonho, de mágico. Nada é realmente importante, nada é realmente sério. Os dias correm uns atrás dos outros, depressa. Cada um, trás no seio um sonho novo, uma aventura nova, um novo vício. É difícil recordar Lisboa, quando mais o Algarve. Dizer que a minha vida mudou outra vez é um understatement. Dei tantas voltas que o mais certo é a acabar a vomitar numa esquina qualquer.
Mas, realmente falta qualquer coisa. Para além de dinheiro, como é óbvio. Faltam-me os meus amigos, os lugares que conheço, a sensação de estar em casa. Sempre, mais ou menos a esta hora da noite, surge-me no coração a lembrança, a saudade, a vontade de os voltar a ver a todos. Começámos mesmo agora a seguir caminhos diferentes, nem foi há um mês e já noto as pequenas diferenças, as piadas que eu não conheço, as aventuras que eu não participei.
O mundo avançou. Outra vez. Tal como tinha avançado há um ano atrás. Tal como tinha sido. O sentimento porém, não é o mesmo. Pelo menos, agora que escrevo isto me apercebo que não é o mesmo. Definitivamente, no ano passado as coisas eram diferentes porque eu sentia mágoa, solidão, talvez até raiva de quem eu sentia que me tinha abandonado. Agora, é mais o doce sabor da memória, do bom tempo passado. Porque houve momentos bons. Houve sim senhor.
Tudo preparação para Milão, acho eu. Era impossível estar aqui como estou hoje sem as aulas de espanhol, sem a Ruta Ibérica (porque a maior parte dos meus conhecidos é espanhol), era impossível estar aqui hoje sem Lisboa e a prática de sair à noite, beber, conviver. Era impossível estar aqui hoje sem aqueles brutos anos de secundário, de 3º ciclo de escrever com x's e com z's. Tudo o que fiz até agora levou-me aqui. E isso era um sentimento que também sentia em Lisboa.
Toda esta promessa da vida a ser cumprida, todas estas aventuras fantásticas, finalmente a acontecerem quase que me sabe a sorte a mais. Quase que tenho medo, quase que me assusto com a possibilidade de estes serem de facto os melhores anos da minha vida. Não. Digam-me que há mais para viver. Há com certeza mais Itália, isso é um facto. E mais outros tantos locais mágicos que quero conhecer. Há ainda o sonho de Nova Iorque, cada vez mais fundo, cada vez mais instável porque agora que peguei nas rédeas do sonho é que vejo o quão difícil será.
E quero continuar a viver. Preciso de desesperadamente acreditar que vou continuar a viver. Mesmo que em Lisboa, mesmo que sem Nova Iorque, mesmo que sem livro. Aventuras. Vida, novas pessoas. Será isto a maldição erasmus? O pavor de ficar demasiado tempo num sítio? É uma vida de conquista e de perda. Todos os anos a cultivar um coração, todos os anos a abandoná-lo. Será que me habituava? A ter o coração cheio de saudades a todo o momento, a pensar neste ou naquele sítio com aquela ou outra pessoa? A ter flashbacks do passado, como numa série teen?
Sim. Sim, isso implicar ao menos ter histórias para contar, histórias para viver, sítios para conhecer. Coisas que encontrar. Pessoas. Amigos novos. Escrevinhar novos romances na minha cabeça, pensar em novos e melhores sonhos. Mesmo que isso implique aquela lágrima que insiste em saltar dos meus olhos, quando vejo aquela foto. Mesmo que isso implique esta dor no coração de ver um amigo triste e não poder estar lá.
Ontem, andava a ler o meu nanowrimo. Assim pela madrugada fora, como estou hoje. E ao ler aquelas linhas, lembrei-me de tanta coisa. Tinha esquecido de tanto, sinceramente. Dos primeiros tempos bons da casa, da Joana na casa, das nossas conversas. Porra. Evolução. Muita evolução.
Crescer. É assustador o que um ano e um bilhete de avião fazem a uma pessoa. E agora, Novembro surge outra vez e numa maneira, estou no mesmo ponto que estava. Estou num novo sítio, a conhecer pessoas, a falar com gente, a viver os primeiros tempos de casa, de faculdade, de experiências. Estou a aprender uma linguagem nova. Mas a viver isso em certa forma duma maneira diferente. Porque já vivi. Tenho calos de aprender certas coisas. Não é na realidade uma segunda oportunidade de refazer o passado. O passado, passado está (perdoem-me a redundância) e não estão aqui as pessoas que estavam em Sacavém. Não está aqui o Kiwi, não está aqui o que era nosso. É só uma segunda experiência.
Ainda não sei para onde vou e isso é certo. Lembro-me de por estar altura estar tão confiante com algumas coisas que caíram logo depois de Novembro, do Natal e da distância. Lembro de como Fevereiro mudou a minha vida. De como daí até ao Verão é que realmente já tinha qualquer coisa de diferente. Por isso, por um lado ler o nanowrimo ajudou-me a perceber o quão as coisas ainda vão mudar e evoluir. E isso é uma coisa boa, eu acho. Começava a ter aquela sensação que já tinha vivido tanta coisa que Milão não me poderia oferecer mais. Que ia ficar viciado em novidade...
Enfim. Um longo testamento sobre Milão às duas da manhã dá sempre origem a problemas pseudo filosóficos. Eu disse pseudo, não atirem pedras!
1 Comentários:
sim o kiwi, agora rebatizado pata na cara está um mimo que só visto!
Lya
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