As últimas 48 horas

26 fevereiro, 2011

Estou virado do avesso. E a minha escrita vai sair assim toda de dentro, como se o meu coração louco pulsasse as palavras para fora de mim, com a força de uma vida que não vivi mas que tenho reservada. O meu mundo abanou nas últimas horas, parece que de repente, a seriedade e sobriedade de viver se perderam neste circo gigante de pessoas, acontecimentos e vivências que marcaram estas férias e que me marcaram a mim também.
Uma quinta-feira é sempre só mais uma quinta feira, mais um quinta de férias, mais umas horas intermináveis no limiar do perigo online. Mas não. Quis o destino, a sorte, ou talvez nenhum dos dois que o meu dia fosse diferente. Fui a um sítio que não era suposto ir a uma hora em que supostamente já não havia ninguém. Convidaram-me para um jantar que recusei três vezes antes de aceitar.
Fui sair à noite por um convite assim do nada, consegui um sítio para dormir no último momento. Envolvi-me numa disputa com o segurança de uma discoteca por causa dum cartão, senti-me apagado na noite algarvia, senti-me apagado na noite, será que preciso de beber para estar vivo depois do sol posto?
Assisti às curtes, aos roçares de corpo, aos olhares, aos nerds e wannabes, aos hunks mainstream, às gajas que procuram o Príncipe Encantado e aos gajos que procuram a Megan Fox e assisti-os a irem embora para casa sozinhos. Assisti a meninas com os saltos na mão e os pés no cimento, assisti à droga, ao álcool e encontrei alguma beleza perdida no nocturno e no segredo do luar.
Fui para uma casa que não é minha, sentei-me em cima de sonhos que eram bonitos mas que não eram os meus. Ouvi Adele e senti-me só. Acordei de repente sem motivo. Acordei como um cadáver, sentia a alma presa na garganta e nem tinha vomitado a minha essência.
Apanhei um comboio quase nos últimos minutos, vim para casa e dormi com as marcas de uma noite que não foi minha no corpo. Cheirava a sexo e nem tinha pensado em ti.
A minha cama tem o cheiro do meu pai, Old Spice. Sempre Old Spice. O suor do meu pai cheira a Old Spice, senti-o ali ao pé de mim. Adormeci pelo cansaço e não pela vontade. Acordaram-me outra vez para almoçar. Tinha uma mensagem duma memória antiga, dum sonho morto pela realidade mas ressuscitado pelo sonho. Fui-me outra vez para um encontro marcado em cima do joelho com aquele irmão, fui ter com uma amiga para um jantar que já era para ter acontecido.
Ganhei uma haste nova com os novos olhos de graça. Conversei durante um tempo exagerado que não era suposto, falei de ti, de mim, e da vida. Voltei para a baixa da noite anterior mas encontrei-me quando encontrei a Carla e a Maria. Paguei um euro para sentir o hardcore. Adorei. Está a crescer em mim a força de uma música de revolta e do grito interior, o libertar das emoções na sua forma mais pura - afinal...estamos todos aos gritos, sempre todos aos gritos.
A Carla hoje estava aos gritos, com os ovários explodidos, com o coração na boca, e o vermelho do amor no cabelo. O beijo dele, o cabelo dele, as palavras dele, o abraço dele levaram-te antes que pudesses dizer alguma coisa, não foi?
E eu a assistir ao amor, ao encontro, aos momentos da vida que são perfeitos na sua simplicidade e que nunca voltam atrás, é como aquele bocadinho de chocolate no fim do cone. Há coisas que são assim. E eu, numa ironia quase de Carrie Bradshaw, não fui beijado, nem abraçado, não tive um momento sublime de existência mas encontrei um casaco de marca que tinha sido ignorado por um outro casal. Um casaco da Tifossi, de mulher, ainda com o preço, ali como se fosse um velho trapo.
E no meio disto tudo o carro da Carla...o carro que guarda os sonhos de nós todos agora que o meu Audi de verão é só memória de moldura bonita...estava também aos gritos, e gritou e explodiu. Sem pneu, sem ajuda, sozinhos. Mas tudo se fez, tudo se conseguiu, e rimos e trabalhámos e pusemos o triângulo, porque agora temos carro e somos donos do mundo. Pelo menos desta noite fomos mesmo donos.
E o fim da noite apaga-se como o fim dum bom cigarro num dia chuva. Um prazer quase mágico que me tinha enlouquecido o suficiente quando vou à rede social da moda e recebo uma mensagem a dizer que sou giro. Há coisas que nenhum dinheiro do mundo pode pagar, há coisas que os ideais nos roubam e que não podemos permitir. Porque o que interessa, o que interessa é viver numa Piña Colada, o que interessa é o abraço da Maria e as saudades que brotam como árvores milenares embora ainda nem me tenha ido embora. Interessa viver e sentir e ser feliz.
Emocionante ? Sim.
Mais uma colecção de memórias que fica dum Algarve diferente, ou de um eu diferente.

1 Comentários:

irmão. disse...

"como aquele bocadinho de chocolate no fim do cone" <3