Cenas de Família

06 abril, 2011

Hoje, apeteceu-me vir aqui falar mal da minha família. Eu sei que ninguém tem famílias perfeitas e que o sonho americano é uma ideia de marketing das empresas de publicidade. Eu sei, eu sei que sim. Mas bolas, há coisas que me enervam mesmo.
Nunca tive grande sensação de ambiente familiar em Portugal. A minha mãe nunca se deu com o lado da família do meu pai (discussões de muitos anos), eu andava sempre meio afastado deles, depois com o lado do Brasil pouca ou nenhuma relação havia por causa da distância.
Os problemas com a minha família portuguesa pareciam me enormes. Tinha sempre uma grande preocupação digamos com o que eles pensariam de mim e acabava por não gostar muito deles porque achava-os duros, despreocupados e críticos de tudo o que eu fazia. Era sempre comparado com a minha prima Sandra e como ela só tirou 19's e 20's e como ela era perfeita, blá blá blá. Depois o meu primo, que me parecia ter tudo o que queria e pedia, e que era um bocado antipático. Não exclusivamente para mim, mas ele tinha um feitio especial e era complicado...! A minha avó salvava a situação mas entretanto faleceu e fiquei com um outro lado da família portuguesa, o da minha tia-avó e da sua filha e marido. E embora o meu tio avô nunca tenha sido doce, a minha tia avó foi a melhor pessoa que encontrei e a fazer par com a minha avó são as pessoas de quem sinto mais saudades sempre. A minha tia, também foi à sua maneira simpática, se bem que de uma forma mais afastada.
De qualquer forma, hoje as coisas são diferentes. Sim, eles têm todos um feitio especial e pode ser complicado, mas gostam de mim e preocupam-se. Devo muito à minha tia. Mas muito mesmo, ela é que deu emprego ao meu pai, ela é que pagou imensas coisas que tenho e no fundo...é uma segunda mãe. E o lado da minha tia-avó, agora sem esta tornou-se mais apagado...
Isto na parte portuguesa. Na parte brasileira os problemas são outros!
Cresci a ouvir dizer que a minha mãe tinha sido muito rica e tinha tido tudo o que queria, que os meus avós tinham montes de coisas e eram super ricos e não sei quê. Mas nunca tive grande contacto. Aos 5 anos fui para o Brasil uns 7 meses, mas disso lembro-me pouco e não consigo avaliar nada. Depois cresceu o culto do meu tio mais velho que era bem rico, director de uma empresa e que os meus primos eram todos super educados e tinham montes de coisas. Os meus outros tios tinha vidas mais complicadas. Um é seropositivo desde os anos 90 e encontra-se estável, outro tem muita má fama e é meio "bandalho", um era afastado da família - por ser apenas meio irmão (a minha avó e avô tiveram ambos outro casamento), e finalmente uma tia da parte de avô que só soube há poucos anos da sua existência. Criem redes de problemas imaginárias e mesmo ao calhas são capazes de acertar. Há montes de problemas entre esta gente toda e a minha avó e vice-versa...eu sei lá!
Entretanto este ano, sabe se lá porquê...o tal tio rico fez mais uma viagem pela Europa e decidiu vir visitar-nos (há que dizer que entretanto a minha mãe esteve lá um ano). Primeiro a minha mãe no Algarve e depois o sobrinho (eu) em Lisboa. Tive com eles no último dia em que estavam cá. Sim, são afortunados e levaram me a almoçar e a comprar roupa...foram simpáticos, muito mesmo e falaram na possibilidade de ir lá este verão passar uns dias.
Mas...talvez o ditado "longe da vista, longe do coração" se aplique, porque desde que esteve cá, o meu tio ficou com o meu e-mail e de vez em quando fala comigo. O que é giro, é que ele sempre escreve pouco, umas linhas apenas a dizer isto e aquilo e eu respondo sempre com muito entusiasmo, conto a vida toda e nunca obtenho resposta. Ele nunca responde seja ao que for. Os meus primos no facebook basicamente ignoram-me. Não parecem ter qualquer interesse em mim ou em contactar comigo.
A gota de água foi quando o meu tio me mandou um e-mail a dizer que a minha prima fazia anos (hoje) e que talvez fosse bom mandar um e-mail...Porque depois há isto, eu sempre liguei numa cabine telefónica ao frio e à chuva, a desejar feliz natal, feliz Páscoa, feliz aniversário a não sei quem...mas nunca fizeram o mesmo comigo. Nunca se lembraram sequer que faço anos e que também tenho natais e páscoas. Estou aqui a dar uma de Maya, mas sei que no dia dos meus anos, os meus primos vão-se borrifar e o meu tio vai mandar um e-mail com duas linhas a dizer: Muitos Parabéns. Felicidades e Lembranças de todos nós aqui.
Eu, que sou uma pessoa decente, mandei um e-mail giro à minha prima, colei o poema do Álvaro de Campos - Aniversário, tentei fazer uma coisa gira...
Mas enerva-me isto. Se este ano não receber e-mail dela, para o ano não mando. E vou começar a responder ao meu tio numa frase. Também sou uma pessoa, ora bolas. Também tenho os meus sentimentos e as minhas necessidades emocionais. Também me sabe bem ver algum interesse em mim. Será isso tão injustificado?
E depois, o que acaba por acontecer na família toda (a começar pelo meu próprio pai e mãe) é que basicamente não sou nada. O que faço e o que gosto é irrelevante. Sou de Humanidades o que é estúpido, porque os meus primos das Ciências é que vão ter emprego...As palavras de incentivo não existem e sempre precisei que os outros me dissessem: olha escreves bem. olha continua. olha não desistas.
É um bocado triste não é?
(...)

2 Comentários:

Anônimo disse...

Podemos escolher os amigos mas não a família! É complicado...mas tu és sincero e ligas às pessoas, escreves,desabafas..enfim! Quando tiveres uma família, se tiveres, não esqueças de criar esses laços.
Depois lembra-te há pessoas que escrevem pouco dizem pouco às pessoas que amam. Demónio exemplo!
Kiss
e sim gosto do que escreves! Continua!

Anônimo disse...

Obrigado lya !