Uma nova história

13 abril, 2011

Sim, lembro-me perfeitamente. Foi num verão há uns anos. Juro-te que há muito que não sentia uma coisa assim. Os sentimentos brotavam do céu e caiam no chão em nós, parecia que era tudo tão perfeito, parecia que nunca havia nem noite, nem medo, nem breu. Éramos só nós. Nós e uma cega e vaga certeza que tudo correria bem. Depois, depois enfim, as coisas mudaram e o mundo é que caiu em nós.
Não me lembro de sentir a muralha a cair. Foi tudo tão gradual que num momento estava ali e depois não estava. Lembro-me só de sentir o sangue dos cortes, os ossos a partir-se contra o muro, os olhos furados pelos pregos e coração explodido e morto jazindo ao pé de mim como cão sem dono. Estava morto, eu, o meu coração e parte de um muro que tinha construído, um muro de uma fortaleza nobre, "um diamante maior que o Ritz". Ainda pude sentir os saqueadores a penetrarem-na. A tirarem tudo o que podiam, incendiando, pilhando, soltando risos verdadeiramente diabólicos, fumando cigarros e eu ali. Morto, mas ainda a sentir.
Com os primeiros raios de sol que foram chegando, consegui sentir a velha fortaleza em ruínas. Apenas memórias continuavam a levantar aquela fortaleza, apenas a história continuava a dar sentido a sua existência. Foi aí que me senti a ir leve, leve, até que já nem a dor sentia.

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