Não me lembro de sentir a muralha a cair. Foi tudo tão gradual que num momento estava ali e depois não estava. Lembro-me só de sentir o sangue dos cortes, os ossos a partir-se contra o muro, os olhos furados pelos pregos e coração explodido e morto jazindo ao pé de mim como cão sem dono. Estava morto, eu, o meu coração e parte de um muro que tinha construído, um muro de uma fortaleza nobre, "um diamante maior que o Ritz". Ainda pude sentir os saqueadores a penetrarem-na. A tirarem tudo o que podiam, incendiando, pilhando, soltando risos verdadeiramente diabólicos, fumando cigarros e eu ali. Morto, mas ainda a sentir.
Com os primeiros raios de sol que foram chegando, consegui sentir a velha fortaleza em ruínas. Apenas memórias continuavam a levantar aquela fortaleza, apenas a história continuava a dar sentido a sua existência. Foi aí que me senti a ir leve, leve, até que já nem a dor sentia.
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