No longer...
Tinha uma rapariga, lá na primária e até ao 6º ano de quem dizia gostar. Ela chama-se Inês P. Eu gostava mesmo muito dela, ela vestia camisolas de lã Gap, era bonita, era inteligente, boa a inglês, perfeita em quase tudo.
O grupo dela de amigos era de elite. O nuno, o tiago, a rita, a marta, a beatriz...Tinham um clube exclusivo chamado "Clube dos Amigos" e ela era a presidente. E eu queria pertencer a esse grupo, mas ninguém gostava muito de mim porque eu era gordo, usava calças de fato treino do paga pouco e gostava da escola.
Durante os anos de colégio, houve festas de aniversário, cinemas e saídas e nunca fui convidado para nada. Não tinha muitos amigos, aliás não tinha amigos de todo e os professores tinham pena de mim. Eu sentia isso.
Irritava-me muito com as coisas. Chorava muito. Ia para a casa-de-banho chorar horas e horas e hoje em dia, já conto muitas horas em casas de banho a chorar. Era grande para a idade e irritado. Toda a gente me conhecia e pisava.
Certa vez, comprei-lhe um presente de dia dos namorados. Um peluche, um peluche grande da loja. Não era de marca, mas era macio e bonito. Ela levou-o para casa, mas depois devolveu e pôs num saco preto junto ao lixo. A Vitória acabou por ficar com ele (a vitória foi a primeira rapariga que vi nua, numa situação que prefiro não lembrar) mas o meu coração já estava despedaçado.
As coisas mudaram muito depois disso.
Nas últimas doses de Colégio, comecei a revoltar-me e a criar uma personalidade que viria a descobrir anos depois no 11º ano. Revoltei-me contra o seu império.
Antes de uma visita de estudo, disse-lhe tudo o que pensava. Que ela não era ninguém, que ela empurrava a Marta para todo o lado e não tinha amigos nenhuns. Ela ainda disse que era melhor do que ter um rabo enorme, mas eu nem lhe respondi e toda a gente ficou contente.
Depois, aí sim os convites vieram. Tornei me eu Presidente do Clube dos Amigos, ou em parte, porque aquilo já não era a mesma coisa. E as pessoas passaram a gostar de mim, de facto.
E isto tudo porque me lembrei que há amizades assim, que nem o chegam a ser, mas que no fundo nos ensinaram muita coisa da vida...
E que já estive muito mal por causa dos meus amigos e sempre me levantei.
Eu nem sou mau de todo, diga-se...
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